sexta-feira, 5 de março de 2010

A MORTE O AMOR A VIDA - poema de Paul Éluard

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Julguei que podia quebrar a profundeza a imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisão de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor de cinza
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Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mãos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anula
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Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia à aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava húmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituía a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros tempos
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Os campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara a vindima têm inúmeras testemunhas
Nada é simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noite
A floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas têm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
Têm filhos que se tornarão pais dos homens
Têm filhos sem eira nem beira
Que hão-de reinventar o fogo
Que hão-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos
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Le Phénix ( 1951 )
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In " Algumas das palavras " , de Paul Éluard

7 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Eduardo
Maravilha de poema...lindo.

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Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida

Adorei, é como me sinto.

Beijinhos
Sonhadora

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Eduardo
Eu li o poema todo, mas ao contrário do poeta, para mim não vem mais nada.
Por a caso é do ano em que eu nasci.

Beijinhos carinhosos
Sonhadora

Angela Ladeiro disse...

Uma belíssima escolha e obrigada pela partilha. No dia oito faço anos de casada. Vá tomar chá na minha casa virtual...espero-o

lua prateada disse...

Simplesmente lindo, é maravilhoso ver pessoas que tiveram a plenitude da sabedoria do sonho que se forma em poesia...
Beijinho de luar da

SOL

Paula Raposo disse...

É belíssimo este poema. Contudo, prefiro lê-lo no orginal.
Beijos.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO EDUARDO, BELO POEMA DESTE GRANDE AUTOR... ADORO A SUA ESCRITA...!
PARA TI MUITOS ABRAÇOS DE CARINHO E AMIZADE,
FERNANDDINHA

FOTOS-SUSY disse...

OLA EDUARDO, MARAVILHOSO POEMA...BELA ESCOLHA...OBRIGADA PELA PARTILHA...QUE TENHA UMA EXCELENTE SEMANA AMIGO!!!
BEIJOS DE AMIZADE,


SUSY