quinta-feira, 19 de abril de 2012
Com a Vida
Não escrevo sobre
Mas com
A Vida
Que me escreve
Nas palavras
Em que sou !
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In " Os caminhos do silêncio" - Chiado Editora, Nov. 2011
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Foto Net
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Só nos sonhos vens
Só nos sonhos vens
tu que não vejo e com quem não falo
há tanto tempo
Surges de vez em quando nos sonhos que tenho
sempre calma e não sei se falamos
mas acho que sim
não sei
sei que és uma presença serena
sinto no sonho a perfeição
a harmonia
se falamos ou não
não sei
mas não me lembro de palavras
lembro sim de gestos
mas tudo suave
a encher o coração
que pelos vistos não dorme.
Será a alma?!
Não sei.
Sei que assim devia ser o mundo chamado do real.
Sei que o mundo chamado do real é a nascente do sonho,
mas também sei que é esta oposição que dá valor
ao sonho.
Mas também penso
que as nossas almas se encontram
e já decidiram
( - será ?! )
que é melhor assim
a gente encontrar-se no sonho
e acordarmos com a sensação doce e suave e feliz
de que mais vale o encontro nos sonhos
do que na vida
onde se nos encontrássemos
nenhuma palavra já nos traria a paz
porque já não sabemos usar as palavras.
Então
bem melhor será que nos encontremos nos sonhos...
Será que...se me leres...as palavras que digo se
transformam em verdadeiras?
Isto é: será que também sentes que te encontras
comigo nos sonhos?
Ah!!
Se me leres e nada sentires, o que escrevo é
indubitavelmente delírio
ou expressão de desejos inconscientes!
Se sentires o que digo, ficas a saber que não
vale a pena
trocar o mundo dos sonhos por qualquer encontro
em qualquer local
do mundo onde habitamos.
E se nos encontrarmos, poucas palavras devemos
proferir, apenas as
indispensáveis. Aliás, como disse, já nem sabemos
usar as palavras!
Se nada sentires, deixa-me dizer que os encontros
nesta vida
deveriam ser aqueles que tenho contigo nos
sonhos!
-
In meu último livro: " Os caminhos do silêncio " , Chiado Editora, Novembro 2011
domingo, 1 de abril de 2012
Estou de regresso aos ares africans, desta feita em Bissau, uma pequena cidade poeirenta, descaída, cheia de marcas dos últimos conflitos nos edificios a cair, mas também cheia de cores e sabores por descobrir.
Daqui parti para a região de Quinara por uns dias. É indiscritível. Estar numa tabanca na Guiné, uma dita cidade (TiTe), mas que mais parece uma aldeola pequena, sem estradas, sem
carros, sem cafés/lojas, sem energia , sem água canalizada, e muito menos
internet, onde fiquei alojada numa situação não planeada, numa casa vazia com
toneladas de pó no meio do escuro e desconhecido…bem, é complicado descrever
cada espaço de sentimento e imagem vividas em poucas horas, em que o sono foi
praticamente vencido pela ansiedade, medo e quase pânico. De estar sozinha, em primeiro lugar, de estar contextualmente sozinha, sobretudo, de não ver um palmo à frente e ouvir
imensos sons estranhos por todo o lado, ainda por cima parecendo que estavam
todos dentro da casa onde nada se via. E a certa hora da noite chegou um silêncio absoluto, outro
lugar estranho dentro de tudo o resto que me impressionou…
Dei por mim a deambular em pensamento sobre a vida das pequenas tabancas que visitei, das suas famílias e seus hábitos. Do que significará ser balanta, biafada ou papéis... Dos recantos que não percebi, das pequenas casinhas que constroem para o espirito protector “ishram”, dos
instrumentos que usam para cozinhar, de toda a logística familiar – milhentas crianças e bebes, água para ir buscar, banhos, roupa para lavar, lenha, etc –dos chás típicos que fazem com uma erva, enfim, de tudo que é tão diferente, como eles devem achar de mim ao olhar e chamar “Biancaaa”…
Até breve.Rita
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