terça-feira, 30 de junho de 2009

Cruzeiro no Douro

21 de Junho de 2009
Barco Rabelo
Antes da construção das barragens no Rio Douro o vinho do Porto era transportado por estes barcos, de inspiração fenícia, até à ciade do Porto, para ser exportado. Só a partir daí surge a designação de " vinho do Porto ", sendo que a original era e é a de "vinho fino."
Cais do Peso da Régua
Iniciamos a viagem até ao Pinhão através deste vale deslumbrante, mas muito quente, a fazer justiça ao que por aqui se costuma ouvir: " são nove meses de inverno e três de inferno". Estava de facto muito calor. Mas a belaza da paisagem tudo compensa.
Na proa foram servidos gostosos aperitivos

E um delicioso e fresco Favaios
Barragem de Bagaústre

Lenda de Santa Marta de Penaguião
- Padroeira do Douro -

( A nossa guia, "ditando-me" a Lenda de Santa Marta de Penaguião )
Na altura das Invasões Francesas , um francês, de nome Guillon, puxou fogo a uma capela, erigida em honra de Santa Marta. Quando estava a incendiar a capela, apareceu-lhe Santa Marta e ele, tomando consciência do acto, arrependeu-se. Santa Marta disse-lhe então que para ser perdoado, bastaria trabalhar durante um ano nas vinhas do Douro. Ele assim fez. E com o dinheiro que ganhou mandou construir uma nova capela em honra de Santa Marta. Compreende-se assim o sentido do nome da povoação :
( Nome : Pena ( castigo ) de Guillon ( nome do francês )
Esta lenda evidencia quão penoso é o trabalho nas vinhas do Douro.
Ou, como escreveu Miguel Torga:
- Doiro, poema geológico.
Chegada ao Pinhão
Academia do vinho
Onde fomos obsequiados com o néctar da região: "vinho fino"
Estação do Pinhão, lindamente decorada

Próxima reportagem fotográfica: ida no comboio histórico ( do Pinhão ao Tua e do Tua à Régua.

sábado, 27 de junho de 2009

Imagens de Vila Real de Trás-os-Montes

( 20 de Junho de 2009 )

Rio Corgo, no vale muito fundo, visto do quarto do hotel.

Centro da cidade. Avenida Carvalho Araújo. Ao fundo, o edifício da Câmara Municipal.
Casa onde teria nascido Diogo Cão, segundo a tradição. Igreja de S.Domingos ( Sé ). Reconstruída no século XIX, após incêndio. Antes do incêndio, era a igreja do convento com o mesmo nome.
Estilos românico e gótico.

Imagem de Cristo

Pelourinho, século XX, imitação do antigo. O fuste teria pertencido ao pelourinho original. A parte superior tem a forma de uma gaiola.

Igreja de S. Paulo/Capela nova. Estilo barroco. Em granito. Altar-mor, em talha dourada. Azulejos do século XVII. A frontaria da igreja é da autoria do mesmo arquitecto da Igreja dos Clérigos no Porto: Nicolau Nazoni.

Imagem de Menino Jesus de Praga Imagem de Nossa Senhora Menina Rainha

Igreja de S. Pedro

Construída no século XVI. O tecto da capela-mor é guarnecido por caixotões de talha dourada . Já o altar-mor tem um estilo mais sóbrio. Os azulejos são do século XVII.

Doçarias e salgados

Cristas de galo

Tijelinhas de laranja

Pitos de Santa Luzia

Pasteis de Santa Clara

Cuvilhetes ( empadas )

Capela da Misericórdia

Mercearia antiga

E, para terminar, estando nós em terras camilianas, não podia esquecer-me do grande Camilo Castelo Branco. Que podemos encontrar no Jardim da Carreira.

NOTA
Em próxima postagem: a reportagem fotográfica da subida do Douro desde a Régua até ao Pinhão .

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Convidado do mês: António Ramos Rosa

Do livro: Poesia, liberdade livre
( Foto Google )
« Numa época de imperialismos ideológicos em que de todos os lados se pretende arregimentar os homens e em que estes, por seu turno, procuram a sua segurança nas diversas formas de paternalismo em que aliviadamente possam abdicar da sua personalidade, a poesia, por muito restrito que se afigure o seu âmbito, constitui actualmente uma verdadeira potência regeneradora. Não se pode viver plena e produtivamente sem espontaneidade criadora e a poesia é a actividade mais qualificada em que esta se manifesta; a vida sem essa potência, sem o exercício de autonomia integrante, que só a função poética lhe pode permitir, abastarda-se, anquilosa-se, ou o que é pior, recai nas formas mais vis da destrutividade e da desumanização. O homem, que procura unir-se aos outros exclusivamente por intermédio de uma ideologia, cria uma relação artificial extremamente perigosa, pois automaticamente é levado a desprezar e hostilizar os que não partilham das suas crenças, na medida precisamente em que se despersonaliza e sufoca em si em todo o impulso criador. É este conceito degradante de sacrifício que as místicas partidárias têm posto em voga. Esta é a falsa e destrutiva unificação que o poeta condena. O grande psicanalista Erich Fromm diz-nos do perigo que resulta deste sacrifício da personalidade: « A vida tem um dinamismo interior próprio, tende a crescer, a ser exprimida, a ser vivida. Parece que, se esta tendência é contrariada, a energia dirigida para a vida sofre um processus de decomposição e transforma-se em energia de destruição...quanto mais a vida é contrariada, mais forte é a impulsão para a destruição.» (1)
A poesia situa-se pois ao nível deste humanismo concreto e libertador, antidogmático por excelência. Como poderia ela pactuar com qualquer espécie de autoritarismo, ainda quando acobertado sob a forma de um idealismo racionalista ou de pretensas normas de universalidade abstracta? Por isso, a poesia moderna é um verdadeiro teste do grau de espontaneidade e de vida criadora. Os que a negam, alegando não compreendê-la, ou não ter ela sentido, provam a sua submissão a princípios e normas que pretendem regular em absoluto a totalidade da vida psíquica, cuja riqueza e espontaneidade lhes escapa quase inteiramente. A exigência de compreensão racionalizante da poesia é dos sinais mais reveladores da incompreensão radical do fenómeno poético e de uma forma de estulto orgulho que assenta geralmente na perda de um contacto original e fecundo com a vida.
O homem anseia ser uno com o mundo e consigo mesmo, transcendendo a dicotomia consciência-ser, recuperando-se nas suas origens. Essa unidade só a poderá conquistar através de um desenvolvimento livre das suas potencialidades e não através de qualquer submissão ideológica ou de qualquer apriorismo que lhe pretenda traçar de antemão as vias da sua própria salvação. O poeta tem o dom de ultrapassar o nível da consciência reflexiva e de se instalar, por momentos, na consciência profunda ao nível da espontaneidade criadora, onde as energias naturais se desencadeiam na linguagem, antes de qualquer conceptualização. A este nível o homem já não é apenas um elo histórico, mas uma fonte de criação pela qual a si mesmo se cria e se inventa. O poeta assume totalmente o homem e nesta assunção reside a sua verdadeira função civilizadora. ( Empregamos aqui a palavra civilização num sentido mais profundo do que o habitual ). Que poderá limitá-lo nesta procura interminável de si mesmo, ou seja, nesta descoberta permanente do seu próprio ser?
( Foto, da autoria de Lucília Ramos: http://lucy-natureza.blogspot.com )
Esta lição de liberdade que nos dá todo o verdadeiro poeta é o contraveneno mais fecundo para todas as formas de degradação que avassalam o ser humano na nossa época. Isolado, ignorado, alheio às consagrações limitadoras, ridicularizado e vilipendiado quantas vezes, o verdadeiro poeta sabe que não vive à margem da humanidade concreta e viva, pois não ignora que a sua solidão envolve uma forma mais profunda de comunhão e irradiação. Não é a sua finalidade, segundo René Ménard, (2) servir o homem, mas fazê-lo, criá-lo. A poesia não traduz apenas relações preexistentes de uma harmonia com a natureza e os homens, ela própria determina e estabelece tais relações, por virtude da sua própria espontaneidade criadora. Desse modo, o poeta exemplifica, no mais alto grau, o tipo do homem requalificado. A consciência poética é a consciência dos valores geradores da mais alta e completa humanidade, a consciência que transcendeu todas as dicotomias da consciência privada, para alcançar o humano na sua dimensão total. Esta consciência deve ser suficientemente lúcida para vencer a aparente frustação social do poeta na nossa sociedade. A poesia é criadora de valores - logo profundamente social. Ela atinge o social, não parte dele; daí a preeminência do poeta como orientador livre, como criador de valores. Logo, o primeiro lugar para a poesia, isto é, para o homem inteiramente humanizado. »
(1) Marelles sur le Parvis ( Essais de Critique Poétique ) , Librairie Plon (2) La condition Poétique, Col. Espoir, Gallimard.

terça-feira, 23 de junho de 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O que me seduz

( Foto de Lucília Ramos, que agradeço - http://lucy-natureza.blogspot.com )

O que me seduz/ Não é aquilo que não tenho/ Mas sim o que não vejo/ Mas vislumbro/ Às vezes/ Quando as cortinas se descerram/ São momentos de clareza/ Em que as sombras se dissipam/ E respiro com leveza!... / Lx, Maio 2009 ( Da outra face )

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lavagem das mágoas...

Vives leve
Como se voasses!...
Fio de luz
Uniu em ti
O céu
Ao ventre da Mãe-Terra!
Aí...
Nas águas puras do ser
Lavaste as mágoas,
Que de volta
Já são asas!
( Lx, 2008 - reedição )
- Da outra face -
Eduardo Aleixo

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Nova vida!

- Por Rita Aleixo
Acabada de fazer 7 anos, nunca poderia imaginar a volta que a minha vida estava prestes a dar naquele dia outonal em que fui cheia de malas e bagagens para o aeroporto. Inocente criança, agarrava a mão da minha mãe com força e sorria para todos os que me rodeavam. A minha família viera-se toda despedir de nós e eu, inconsciente, ainda não me apercebera de que seria a última vez que os iria ver por um longo período de tempo. Para onde ia?! Não faço ideia se naquela altura estava ciente do meu destino, apenas me lembro de que estava entusiasmadíssima por ir, pela primeira vez, andar de avião, que, na minha visão infantil, era subir para aquele grande pássaro que me ia fazer voar...E mais importante que tudo o resto, sabia que no destino esperava-nos, a mim e à minha mãe, o meu pai, de braços abertos. Ele tinha seguido primeiro havia já uns meses rumo a uma cidade longínqua, situada no outro lado do mundo - Macau - . Agora, seria a nossa vez de partir à descoberta de uma nova vida.
A primeira impressão que tive mal cheguei à minha nova cidade foi o espanto: para onde quer que olhasse via luz, estava tudo iluminado à noite, havia imensos slogans publicitários repletos de luzes cintilantes, imensa gente nas ruas...tudo vibrava cheio de vida... - parecia-me uma pérola negra. Todos os dias nasciam em Macau, na cidade com a maior densidade populacional do mundo, repletos de alegria e de esperança, não existia o stress contínuo que se vive cá. O contacto de tantas culturas fascinou-me por completo: os templos budistas impondo a sua grandiosidade, enquanto que as igrejas católicas transpareciam humildade; os diversos restaurantes com comida típica chinesa, as tascas e os bares eram um convite para quem se quisesse aventurar a novos sabores, enquanto que os restaurantes portugueses tinham como adeptos os portugueses, que procuravam a típica comida da sua terra mãe - um cozido à portuguesa, a famosa feijoada ou um bacalhau assado com batatas cozidas...
A grandiosidade da cultura chinesa nunca deixou de me surpreender, e ao longo dos oito anos que lá vivi, fui aprendendo um pouco das suas vivências e das suas crenças. Andei numa escola portuguesa, arranjei vários amigos, brinquei, aprendi e diverti-me como qualquer criança normal, mas no fundo, o meio onde estava inserida contribuiu para que a visão que tenho hoje da vida seja diferente da de outras pessoas com a minha idade.
Parte de mim ainda pertence a Macau. Posso dizer que tive uma grande sorte em poder contactar com outras culturas e que aquela viagem de sonho mudou a minha vida e o meu destino para sempre, porque afinal sou filha de dois mundos!