( Sinfonia do Novo Mundo - Dvorak )
E obrigado pela vossa participação no
À Beira de Água. Eduardo Aleixo
( Sinfonia do Novo Mundo - Dvorak )
E obrigado pela vossa participação no
À Beira de Água. Eduardo Aleixo
- Uma sorte danada , aquela noite, dizia ele com ar saudosamente enigmático...
Foi há muitos anos!...
Mas nunca mais esqueci as estrelas , como nunca esqueci a fome do meu povo sofrido , ambas as coisas me ficaram gravadas, fazem parte de mim, intimamente ligadas, em equilíbrio, céu e terra, voo e prisão, leveza e densidade, duas faces de uma moeda de Amor, complexa, sublime, misteriosa, tudo isso foi o princípio do que aprendi, e depois a vida me foi ensinando, ouvindo as histórias do meu avô sobre as tragédias do mundo, enquanto olhava embevecido para a beleza esplendorosa do universo... Eduardo Aleixo
3. poema podendo servir de posfácio
ruas onde o perigo é evidente
braços verdes de práticas ocultas
cadáveres à tona de água
girassóis
e um corpo
um corpo para cortar as lâmpadas do dia
um corpo para descer uma paisagem de aves
para ir de manhã cedo e votar muito tarde
rodeado de anões e de campos de lilases
um corpo para cobrir a tua ausência
como uma colcha
um talher
um perfume
-
isto ou o seu contrário, mas de certa meneira hiante
e com muita gente à volta a ver o que é
isto ou uma população de sessenta mil almas devorando almofadas
escarlates a caminho do mar
e que chegam, ao crepúsculo,
encostadas aos submarinos
-
isto ou um torso desalojado de um verso
e cuja morte é o orgulho de todos
ó pálida cidade construída
como uma febre entre dois patamares!
vamos distribuir ao domicílio
terra para encher candelabros
leitos de fumo para amantes erectos
tabuinhas com palavras interditas
- uma mulher para este que está quase a perder o gosto à vida -
tome lá -
dois netos para essa velha aí no fim da fila - não temos mais -
saquear o museu dar um diadema ao mundo e depois obrigar a
repor no mesmo sítiio
e para ti e para mim, assentes num espaço útil,
veneno para entornar nos olhos do gigante
isto ou um rosto solitário como barco em demanda de
vento calmo para a noite
se nós somos areia que se filtre
a um vento débil entre arbustos pintados
se um propósito deve atingir as suas margens como as correntes
da terra náufragos e tempestade
se o homem das pensões e das hospedarias levanta a sua fronte
da cratera molhada
se na rua o sol brilha como nunca
se por um minuto
vale a pena
esperar
isto ou a alegria igual à simples forma de um pulso
aceso entre a folhagem das mais altas lâmpadas
isto ou a alegria dita o avião de cartas
entrada pela janela saída pelo telhado
ah mas então a pirâmide diz coisas?
então a pirâmide é o segredo de cada um com o mundo?
sim meu amor a pirâmide existe
a pirâmide diz muitíssimas coisas
a pirâmide é a arte de bailar em silêncio
-
e em todo o caso
-
há praças onde esculpir um lírio
zonas subtis de propagação do azul
gestos sem dono barcos sob as flores
uma canção para ouvir-te chegar
( Cesariny, in " UMA GRANDE RAZÃO - Os poemas maiores " )