quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nota biográfica

( Foto cedida por Paula Raposo, a quem agradeço - http://romasdapaula.blogspot.com - )
Um meteorito caíu...
Dormindo nele vim eu!
Que notícias de Infinito!
Que anos perdidos de Céu!
-
Foi ilusão pretender
Ser dono do Paraíso,
Contar histórias encantadas,
De noites sem voz e sem riso!
-
Rãs concertando nos rios,
Estrelas acenando nos céus,
Mil sonhos nos meus cabelos,
Meus olhos cobertos de véus...
-
Um meteorito caíu...
Dormindo nele vim eu!
- Onde estão as minhas vestes?
- Nem na Terra, nem no Céu!...
Eduardo Aleixo
( " Caminhos do Silencio...)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Apresentação do livro " As palavras são de água "

A Chiado Editora, na pessoa de Gonçalo Martins, abrindo a sessão...
DOS CAFÉS, DA POESIA, DO EDUARDO ALEIXO
( texto com que o meu amigo, Pedro Martins, do blogue http://aditaeobalde.blogspot.com/ me apresentou aos convidados )
Pedro Martins, lendo o texto...
" Hoje não se nota, mas por aqueles tempos - em outro século e em outro milénio, até - nos anos de 1900 e lá vai fumaça (expressão descaradamente roubada ao Chico Buarque de 'Leite Derramado') eu era muito mais novo que o Eduardo Aleixo. Ainda só tinha um tímido buço e já o Eduardo passeava pelos corredores do Liceu, pelas ruas da nem sempre pacata cidade de Beja, só ou integrando ruidosas troupes académicas, e pelos cafés das tertúlias, a sua imponente bigodaça (negra, então) que seduzia o povo feminino do Liceu e adjacências e intimidava os lusitos da Mocidade Portuguesa. Certo dia em que o meu buço me pareceu mais espesso, entrei na pastelaria 'Bambina', poiso de estudantada e de ociosos diversos para, em pose de mancebo pretensioso, tomar um 'Pirolito' (para os mais novos, um dado biográfico: o 'Pirolito' foi o pai da gasosa e avô da 'Seven Up') e fumar um cigarrinho 'Português Suave' (sem filtro!) que, minutos antes, tinha comprado por dois tostões no café do Zé Alho. E foi então que ouvi o empregado de mesa berrar para o balcão: «Saem quatro bagaços para a mesa dos poetas subversivos!». Olhei. E quem vi? O Eduardo, o Casimiro, o Arlindo e o Belard. (Aqui, uma confissão tardia: aquilo dos 'bagaços' e dos 'poetas subversivos' impressionou-me tão favoravelmente que, a partir desse dia, troquei os 'pirolitos' pelos bagaços e tentei, mesmo, a poesia. E, se para esta o meu jeito se mostrou aleijadinho logo no primeiro verso, já no bagaço entrei com muita facilidade e cheguei a ter o estatuto de generoso consumidor). Bem, 'andiamo': Os poetas, pois. Marquei-os. Até hoje. Mas fiquemos pelo Eduardo. Reencontrei-o, passados anos - posso precisar o dia: 1º de Maio de 1969 -, no Rossio, mesmo em frente do café 'Gelo', e, depois de umas chouriçadas da polícia de choque, decilitrámos uns bagaços no café 'Palladium' e falámos, demoradamente, de poesia subversiva e do suplemento 'Juvenil' do 'Diário de Lisboa' onde ele colaborava. A vida, ou mais exactamente a vidinha, com as suas guerreiras áfricas e ásias pacíficas encarregou-se das nossas andanças por estradas e veredas não coincidentes e a conversa interrompida à hora do fecho do café 'Palladium' só foi retomada em 2008, quando o Belard conseguiu reunir, à volta de uma mesa do café 'Nicola' (o Bocage, lembram-se?) os poetas subversivos, agora já ex-bagaceiros, mas sempre poetas, com o 'ex-piroliteiro' da bejense pastelaria 'Bambina', convertido pela idade em branqueado barbudo e consumidor de 'Água das Pedras', mas sempre fiel amante de poesia. (Se é que não repararam, faço notar que há por aqui duas constantes que acompanharam uma geração: a poesia e os cafés - a 'Bambina', o 'Gelo', o 'Palladium', o 'Nicola'). E a conversa chegou, rápida e inevitavelmente, à poesia, ao blogue 'À Beira de Água' onde, em suporte digital (cibernices, modernices...), o Eduardo ia - e vai - finalmente, publicando as conversas com as musas que durante dezenas de anos apenas circularam clandestinamente por debaixo de olhos amigos (poucos, muito poucos, ao que sei). Então, e só então, tomei contacto com a produção literária do Eduardo Aleixo. É verdade. Mais de quarenta anos depois da inconfidência do criado (era assim que se dizia) da 'Bambina' e do meu último 'pirolito'. «Já me lixaste» (mas em português latrinário - vocês sabem o que eu quero dizer) foi a minha resposta ao convite do Eduardo para apresentar «As Palavras São de Água». Mas a amizade é um posto e aqui me têm na função e disposto a dizer-vos tudo, mas mesmo tudo, sobre a poesia do Eduardo Aleixo. Preparem-se para o discurso essencial: GOSTO. GOSTO E RECOMENDO. Disse. . Quantas vezes nasci? Quantas vezes morri? Por que países nunca vistos Semeei o meu silêncio, O meu olhar de espanto? Toca, Vivaldi, Enquanto me lembro, Sem esforço em me lembrar, Quantas vezes comecei a minha vida, Olhando para o mar... . É um excerto do poema «Mas Toca Vivaldi». E mais não digo. O resto perceberão com a leitura do livro. Obrigado. E um gesto final: dá cá um abraço, Eduardo. "
Eu, lendo alguns poemas...
Os convidados presentes ...
----------------------------------------------------------------------
Eduardo Aleixo
-----------------------------------------------------------------------
Quem estiver interessado na compra do livro pode entrar em contacto comigo, através do meu email.
----------------------------------------------------------------------------

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

No dia do meu 63º aniversário

...Sou feliz porque
a minha voz o é
eu sou a minha voz
que diz que(m) eu sou
nada mais é preciso
todos compreendem
mesmo os que não concordam...
Eduardo Aleixo
( Os caminhos do Silêncio )

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Poema

Maré brava, Sopro de vento escondido. Atrás da orelha, uma lágrima, Um suspiro, sem sentido. Um grito que agita o ouvido. - Maré traiçoeira, Silvo de vento que agita por dentro. Minuto de silêncio onde tudo acontece Um mundo inteiro cá fora Reflectido nos traços do tempo. - Maré agora calma, Brisa que beija, Brisa que abraça. Toque que preenche todo o ser De plenitude e sentimento. - É a vida, toda ela a acontecer num breve momento. - Bjs Rita

domingo, 18 de outubro de 2009

Apresentação do livro, " As palavras são de água "

O encontro festejamos
-
O encontro festejamos
Necessário
Livre
Adulto.
O caminho que trilhamos é belo,
Sem exigências,
Nem prisões forçadas.
É como um rio.
E nós somos dois meninos
Que se beijam
E cantam.
É um bosque construído,
Um prado merecido,
Um fruto dividido
Que aos céus agradecemos.
Companheira das estrelas,
Dos caminhos,
Dos risos claros,
Dos silêncios partilhados com o mar.
Cantemos,
Cantemos os oásis dos eleitos,
As manhãs que nunca morrem
Nos desertos destruídos.
Cantemos
Lado a lado
A comunhão possível
Da infância permanente,
Escondida no dia-a -dia descontente,
De cada rosto tão distante!...
Que música brota dos teus lábios,
Que viagem tão longa
Fazem as palavras que dizemos,
Que harmonia,
Que encanto!...
Até custa acreditar
Esta maneira sem nome
De soletrar o verbo amar!...
-
In, " As Palavras são de Água ".
-
Eduardo Aleixo

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

As palavras são de água

As palavras rebolam pela estrada aberta
e eu senti o momento da abertura!
Uma fonte se abriu
quando espetei o dedo no ponto certo
da argila da montanha
e a água correu!
Recebo-a com cuidado na ponta dos meus dedos,
nem penso,
deixo-a correr pelas mãos
e lavo com ela o corpo todo.
É o momento da minha ligação ao universo!
Agora revejo o meu rosto verdadeiro
que se expressa
feliz ou triste, não importa.
É a água da Fonte!
Não há estrangulamentos...
Sou a água que corre e me ilumina.
As palavras são de água.
Correm.
Ouvem-se no silêncio.
A alma está contente porque eu a ouvi
no momento certo.
Ela esperava que eu a ouvisse.
Ela espera sempre ser ouvida.
Nem sempre a ouço...
Ando muitas vezes distraído...
Mas há momentos que não sei explicar:
- Descubro fontes!
São os momentos do encontro maior!
- O encontro mágico do amor.
-
In " As palavras são de água ".
O livro vai ser apresentado em Lisboa,
no dia 24 deste mês.
Enviar-vos-ei os convites, dentro de dias.
Será bom ter-vos comigo.
-
Eduardo Aleixo

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Folha branca do papel

- Poema incluído no livro a apresentar no dia 24 deste mês em Lisboa, local e hora a indicar, com o título: " As palavras são de água ".
-
Folha branca do papel,
Atrais-me como um abismo
Desde que em mim nasceu
O mundo,
Cresceu
E não o pude mais conter!
Como um farol,
O teu apelo é constante
No mar
Onde me perco,
Naufrago
E não me canso de me procurar!
Ouço-te, voz tão antiga,
Como as areias do mundo!
És a música autêntica
Que bates à minha porta
Perdido na imensidão da vida
Que me rouba o tempo,
Me castiga o corpo
E me disputa os mil desejos!
Mas quando te ouço,
Reconheço-te,
Manhã sem manchas,
Noite sereníssima,
Romã vermelha
Calmamente repartida
Na cidade,
De súbito transformada:
És o meu sonho,
A minha amada,
O meu barco pequenino,
Mas seguro,
A minha casa
Sem paredes
Nem bolor,
Na terra debaixo das estrelas,
Beijada pelo vento,
Rodeada pelas flores.
A tua voz é sincera.
Nem sempre serena,
Tem a força de uma fonte inesgotável.
Conheço o teu sinal.
Quando as portas da minha alma se abrem
E mergulho nas águas do silêncio
E procuro as estradas sem fim
Da vida e da morte...
És a minha única certeza,
A única ilusão que nunca morre,
Dá-me forças para partir, caminhar e vencer!...
Eduardo Aleixo ( in " As palavras são de água " )
-
( Foto Googlr )

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Vida em Missão

Olá a todos e há tanto tempo... Apesar de não participar activamente vou estando presente para saber as novas do blog. Tenho estado tão envolvida no meu dia-a-dia e problemas que não tenho tido disponibilidade para partilhar convosco algumas histórias e peripécias desta ilha africana. Mas hoje cá estou, outra vez. Ontem, feriado em Portugal, saí da cidade rumo ao distrito de Caué, o mais isolado da ilha e com uma estrada terrivelmente esburacada. Fomos ás 7 da matina. Objectivo: dar uma formação aos agentes de saúde comunitária sobre aleitamento materno exclusivo. Ao longo do percurso, que é de uma hora e meia dadas as condições da estrada, senti o que há já algum tempo não sentia - aquela emoção de trabalhar no terreno, ver o sentido daquilo que faço aqui. Porque para quem vem de fora, parece tudo muito irreal e fantástico, mas na realidade, o meu dia-a-dia não é assim tão emocionante... Passo horas à espera para abrir um email, o calor é tanto que o ritmo de trabalho abranda inevitavelmente, farto-me de andar de um lado para o outro a pé, porque só temos um carro que vai para as actividades no terreno, tenho que estar a gerir estratagemas para poupar o pouco dinheiro que recebemos, porque a cada mês ficamos sem mais um pneu e camaras de ar e baterias...e eu que não percebia nada disso ando em mecânicos e a discutir preços... Mais a falta de energia constante, que me leva a fazer contas diárias aos gastos do combustivel do gerador...porque os computadores precisam de energia e nós temos que trabalhar. Mas ontem, enquanto observava os formandos, pessoas representantes das diferentes comunidades, pessoas simples, algumas analfabetas, e enquanto discutiamos os problemas do aleitamento materno,(tema que há bem pouco tempo, nunca sequer falara na vida!), senti que ainda valia a pena o esforço, mesmo tendo outro precurso de uma hora e meia para a cidade sem almoçar. A cada dia que passa há sempre obstáculos e o desafio é constante, mas enquanto continuar a sentir que não é um esforço em vão, então continuarei a acreditar. Mas isto, só para vos dizer que continuo viva! bjs e saudades Rita

Lavado e perfumado

- Poema de Li Bai
Se lavas teu cabelo
em água perfumada,
não esfregues teu chapéu.
Se lavas teu corpo
em água fragrante
não sacudas tuas vestes.
O mundo odeia o que é claro e puro,
o homem sábio oculta o seu fulgor.
Na margem do rio, um velho pescador.
Eu e ele regressaremos juntos.
( In "Poemas de Li Bai" )
------------------------------------
Nota: tal como outros poetas da dinastia Tang, Li Bai utiliza frquentemente a imagem do pescador, representante do desapego pelas coisas terrenas, da sabedoria e da preservação da pureza. Neste poema há uma transparente alusão a Qu Yuan ( 343 a.C. - 278 a.C. ), um dos grandes poetas da China Antiga,que, erraando um dia pelas margens de um rio, explicou a um pescador as razões do seu exílio: « O mundo está corrupto, eu quero permanecer puro, o mundo vive a sua embriaguês, eu quero permanecer lúcido.» O pescador, antes de se afastar, respondeu: « Se as águas do rio estão limpas, aí lavo as minhas roupas, se as águas do rio estão barrentas, aí lavo meus pés».
-------------------------------------------------------------
( Foto de Paula Raposo ( http://romasdapaula.blogspot.com/ ) , a quem muito agradeço )
-------------------------------------------------------------------

domingo, 4 de outubro de 2009

Dia mundial dos animais..(1)

Chamo-me Gwyn. Doutorado em Ciência Política, ex-sindicalista e hoje, anarca, é a mim que o meu dono recorre, quando tem dúvidas sobre questões de ideologia e de política. Sou solteiro e ando desejoso de cadelinha, nem que seja rafeira, mas o meu dono é elitista e só me quer arranjar uma " golden ", da minha raça.
Sou a gata maluca, Lai-si, caçadora impiedosa ( já comi dois canários ) e sou também voadora (já me atirei, por duas vezes ,do quinto andar), dou muito trabalho e despesas aos donos, mas sou uma doçura, e eles adoram-me!

Chamo-me Novelo. Gosto de dormir juntinho da Lai-si. Nasci em Macau, onde a minha dona, Rita, me encontrou, muito maltratado, na rua, para onde fui atirado de um andar muito alto. Mas não desejo falar nisso.Já sou muito velhote. Mas agradeço ter sido recebido por esta família.

Falam os donos: a gente ama-vos. Temos aprendido tanto convosco!
PARABÉNS !
(1) Dia da morte de S. Francisco de Assis ( Protector dos animais )
--------------- Eduardo Aleixo

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Poemas de BAI JUYI

1. A vida dos animais
Quem diz que a vida dos animais não tem valor?
Sua carne, sua pele, seus ossos semelhantes aos nossos.
Não matem os pássaros nos ramos das árvores.
No ninho, os filhotes aguardam o regresso dos pais.
-
2. O musgo nas pedras
Escuros, verdes, sem um grão de poeira
os tufos de musgo enraizados nas pedras.
Mais felizes as ervas dos caminhos,
mas, de vez em quando, as carroças esmagam-nas.
-
3. Alegria interior
Esta manhã, uma taça de vinho.
Pensas que encheu meu coração de alegria?
Há outra alegria, brotando de uma fonte interior
Essa o mundo nunca entende.
-
( In " Poemas de BAI JUYI " )