A Chiado Editora, na pessoa de Gonçalo Martins, abrindo a sessão...
DOS CAFÉS, DA POESIA, DO EDUARDO ALEIXO
( texto com que o meu amigo, Pedro Martins, do blogue http://aditaeobalde.blogspot.com/ me apresentou aos convidados )
Pedro Martins, lendo o texto...
" Hoje não se nota, mas por aqueles tempos - em outro século e em outro milénio, até - nos anos de 1900 e lá vai fumaça (expressão descaradamente roubada ao Chico Buarque de 'Leite Derramado') eu era muito mais novo que o Eduardo Aleixo. Ainda só tinha um tímido buço e já o Eduardo passeava pelos corredores do Liceu, pelas ruas da nem sempre pacata cidade de Beja, só ou integrando ruidosas troupes académicas, e pelos cafés das tertúlias, a sua imponente bigodaça (negra, então) que seduzia o povo feminino do Liceu e adjacências e intimidava os lusitos da Mocidade Portuguesa.
Certo dia em que o meu buço me pareceu mais espesso, entrei na pastelaria 'Bambina', poiso de estudantada e de ociosos diversos para, em pose de mancebo pretensioso, tomar um 'Pirolito' (para os mais novos, um dado biográfico: o 'Pirolito' foi o pai da gasosa e avô da 'Seven Up') e fumar um cigarrinho 'Português Suave' (sem filtro!) que, minutos antes, tinha comprado por dois tostões no café do Zé Alho. E foi então que ouvi o empregado de mesa berrar para o balcão: «Saem quatro bagaços para a mesa dos poetas subversivos!». Olhei. E quem vi? O Eduardo, o Casimiro, o Arlindo e o Belard.
(Aqui, uma confissão tardia: aquilo dos 'bagaços' e dos 'poetas subversivos' impressionou-me tão favoravelmente que, a partir desse dia, troquei os 'pirolitos' pelos bagaços e tentei, mesmo, a poesia. E, se para esta o meu jeito se mostrou aleijadinho logo no primeiro verso, já no bagaço entrei com muita facilidade e cheguei a ter o estatuto de generoso consumidor).
Bem, 'andiamo':
Os poetas, pois. Marquei-os. Até hoje. Mas fiquemos pelo Eduardo. Reencontrei-o, passados anos - posso precisar o dia: 1º de Maio de 1969 -, no Rossio, mesmo em frente do café 'Gelo', e, depois de umas chouriçadas da polícia de choque, decilitrámos uns bagaços no café 'Palladium' e falámos, demoradamente, de poesia subversiva e do suplemento 'Juvenil' do 'Diário de Lisboa' onde ele colaborava.
A vida, ou mais exactamente a vidinha, com as suas guerreiras áfricas e ásias pacíficas encarregou-se das nossas andanças por estradas e veredas não coincidentes e a conversa interrompida à hora do fecho do café 'Palladium' só foi retomada em 2008, quando o Belard conseguiu reunir, à volta de uma mesa do café 'Nicola' (o Bocage, lembram-se?) os poetas subversivos, agora já ex-bagaceiros, mas sempre poetas, com o 'ex-piroliteiro' da bejense pastelaria 'Bambina', convertido pela idade em branqueado barbudo e consumidor de 'Água das Pedras', mas sempre fiel amante de poesia.
(Se é que não repararam, faço notar que há por aqui duas constantes que acompanharam uma geração: a poesia e os cafés - a 'Bambina', o 'Gelo', o 'Palladium', o 'Nicola').
E a conversa chegou, rápida e inevitavelmente, à poesia, ao blogue 'À Beira de Água' onde, em suporte digital (cibernices, modernices...), o Eduardo ia - e vai - finalmente, publicando as conversas com as musas que durante dezenas de anos apenas circularam clandestinamente por debaixo de olhos amigos (poucos, muito poucos, ao que sei).
Então, e só então, tomei contacto com a produção literária do Eduardo Aleixo. É verdade. Mais de quarenta anos depois da inconfidência do criado (era assim que se dizia) da 'Bambina' e do meu último 'pirolito'.
«Já me lixaste» (mas em português latrinário - vocês sabem o que eu quero dizer) foi a minha resposta ao convite do Eduardo para apresentar «As Palavras São de Água». Mas a amizade é um posto e aqui me têm na função e disposto a dizer-vos tudo, mas mesmo tudo, sobre a poesia do Eduardo Aleixo. Preparem-se para o discurso essencial: GOSTO. GOSTO E RECOMENDO. Disse.
.
Quantas vezes nasci?
Quantas vezes morri?
Por que países nunca vistos
Semeei o meu silêncio,
O meu olhar de espanto?
Toca, Vivaldi,
Enquanto me lembro,
Sem esforço em me lembrar,
Quantas vezes comecei a minha vida,
Olhando para o mar...
.
É um excerto do poema «Mas Toca Vivaldi».
E mais não digo. O resto perceberão com a leitura do livro.
Obrigado. E um gesto final: dá cá um abraço, Eduardo. "
Eu, lendo alguns poemas...
Os convidados presentes ...
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Eduardo Aleixo
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Quem estiver interessado na compra do livro pode entrar em contacto comigo, através do meu email.
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11 comentários:
Adorei as palavras do Pedro Martins, mais uma vez cheia de pena de não ter podido estar presente e mais uma vez e sempre a confirmar que o teu livro é belíssimo!! Muitos beijos e que venha o próximo...
As palavras nascem-nos da alma, Eduardo, e as deste seu Amigo a respeito de si, de vocês, e do seu trabalho poesia são da Alma do Amigo daqueles que nem o tempo nem a distância jamais serão impedimento a continuidade. Uma Amizade assim não corta, vira caminho... troca destinos... mas não há volta que se lhe possa dar que a não ponha exactamente no lugar onde e quando deve e é preciso estar.
Arrepiei-me lendo as palavras de apresentação pelas memórias de tantos anos a par, de tanta partilha... alguns lugares que conheço hoje ou te há poucos anos... alguns já não existem mas a memória mantêm-los "vivos".
Palavras nenhumas poderiam, parece-me, apresentá-lo melhor.
O meu abraço que envio aqui deste espaço relativamente perto de onde qualquer dia havemos de combinar encontrar-nos para um encontro de poetas e palavras soltas e sentidos...
Peço desculpa pela troca de nomes. Quando falo do que me fizeram sentir as palavras falo obviamente das do Amigo de longa data Pedro Martins
É agradável ter esta visão do que terá sido esse momento que gostaria de ter partilhado.
Cumprimento o Pedro Martins pelo texto sentido, sensível e, para mim, revelador de uma série de detalhes que enriqueceram o meu conhecimento de ti e do teu percurso. Curiosamente não muito longe, geográficamente. Fiz o secundário na então, escola Veiga Beirão e as minhas andanças eram naquelas bandas, do Carmo (mesmo ao lado da GNR e do Convento, se fosse no meio diria entre o céu e o inferno) até ao Rossio do Gelo e do Palladum era sempre a descer e os santos ajudavam, não sem antes ter passado ali pel Misericórdia, mesmo ao lado do Bairro Alto (onde depois trabalhei tanto tempo no jornal "A Capital") e um toqur de raspão pela Brasileira no Chiado. Há mais ou menos, apenas 40 anos. Temporalmente, a distância também não é muito grande. Não mais que 8 anos. A distância maior, a grande seria, sem qualquer dúvida em talento poético.
Um grande abraço, amigo.
que linda reportagem, eduardo!
sabes, já tive a ousadia de publicar um dos teus versos...
ontem, foi como que uma prenda de anos!
apesar de situações muito complicadas com que me deparo nestes últimos dias, e estar mais ausente, vou aparecendo!
beijinhos e bom e merecido sucesso
Edu,
Muito gostei de te ver aqui, todo engravatado, mesmo a postos para o momento de 'posse'.
Com que então eras um bigodaças de pôr a cabeça à roda das meninas do liceu. Imagino!?
Muito fluida a apresentação que te fez o teu amigo do 'pirolito'.
Que belos tempos, hein!?
Gostei muito das fotos, do texto, só não digo do livro porque ainda cá não chegou.
Grande Poeta - a ver pelos elogios (da bagaceira).
Um abraço com água a crescer na boca...
C'est moi ( A Maria é que amandava umas bagaceiras pela goela abaixo....home! Cum caneco!!!)
Poeta Eduardo! Agradeço a sua visita num dos meus cantinhos de poesia. Sobre o livro, guardarei a minha opinião para o artigo que vou publicar, no próximo fim de semana, no meu blogue http://manulomelino.blogs.sapo.pt/
Agradeço também a sua iniciativa de me enviar as fotos da sessão de apresentação do seu livro. O meu mail manulomelino.mail@sapo.pt está visível nos meus blogues sapo. Talvez possa utilizar essas fotos no referido artigo para ilustrar o evento. Forte abraço.
A apresentação que o seu amigo fez reflectem uma grande cumplicidade, partilha, amizade e admiração.
Não pude estar presente, mas desejo o maior sucesso para este livro e inspiração para outros tantos.
Um beijinho
Fátima
Pois... realmente já ando a inventar... qual gravata qual carapuça!!! Estás mais "enfatado"!
Para a próxima que lançares um livro eu reparo bem e tiro-te o nó.
Boa noite e durma como Deus quer - em Paz.
Lulu - a morgadinha dos gravatais.
Foi bonita a festa, a coberto de palavras cumplices, generosas, recordadas, de bons tempos!!!
O texto com que o teu amigo te brindou, fez-me conhecerte os caminhos que percorreste até chegar a este tão bonito momento!
Parabéns e sucesso (muito)!
Beijo
Gostei do discurso do teu amigo....
Fiquei a saber algo de ti e do teu passado académico, assim como de tua vida literária.
Espero que " As palavras são de água" tenham um imenso êxito, pois escreves realmente bem.
Desejo muita felicidades para o teu futuro
Beijito e parabéns.
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