sábado, 31 de dezembro de 2011

Poema de Ano Novo: os cactos vermelhos solitários sobre as dunas



.A alma liberta no regaço da manhã
rejubila de luz intensa
a rasgar as crostas do cimento calcinado
sobre as raízes esmagadas dos sonhos violados.
As pedras, estremunhadas,  se remexem !

E as águas irrompem violentas, poderosas, puras, imparáveis, 
das gargantas desobstruídas da terra,
onde os cactos vermelhos, solitários sobre as dunas,
como sentinelas  ignoradas,
sorriem, esperançadas, 
não obstante a aspereza dos ventos,
a solidão agressiva das noites 
e o frio agreste das madrugadas!
.
Foto Google

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Poema de Natal

Simples como os homens do campo.
Bonito como os chalés da cidade.
Carregado com sonhos de amor, de justiça e de beleza,
O poema cresce universal.
O poema dança
Sem cobrar bilhetes 
Em cima de todos os continentes.
O poema é o sol que brilha em todos os corações,
Por que clamam  todos os invernos 
Quando a primavera se banqueteia 
Em noivado de sorrisos 
No regaço dos goiveiros.
O poema rosto triste da criança
Nas cinturas das cidades
Onde o Natal chega...
Mas não encontra empregos
Para a compra de casas, de comida,
De roupa e de brinquedos! ...
.
( In, " As palavras são de água " -  Edição Chiado Editora, 2009 )
.
( Foto Google )

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

E também já chegaram as cegonhas


( Ninhos situados à beira da estrada que liga Mértola a Castro Verde )

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O inverno chegou


Lai-si e Novelo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sem lembranças de nada

Que parte de nos é receptiva à essência das coisas, às palavras mais puras, à beleza das mensagens, à aceitação sem medo dos caminhos inimaginados, à abertura das cortinas longe do propósito de as abrir, é como se deixássemos de ser pesados no hábito de o sermos, é como se...não: é mesmo quando planamos sem o sabermos, quando estamos leves sem o pensarmos ser, é quando somos outros que outros olhos se abrem, não sei em que parte de nós é outra a consciência, outro patamar do ser. É então que as coisas sublimes (me) acontecem. Sem explicação. Com uma realidade própria. Leves e sábias. Envolvido nelas, como se corpo em nuvem, sou pureza de musgo e alga, dentro e fora, apenas luz, sem lembranças de sombras. Sem lembranças de nada!
País, de que mundo?
Consciência, de que vida?
Não sei.
Apenas que faço parte de que mistério(?), quando disso nem me lembro, me vejo viajando no mundo em que passo, mas tão leve me sinto, que dou um passo, sem limite nem de tempo, nem de espaço... In " Os Caminhos do Silêncio "

domingo, 27 de novembro de 2011

As palavras, se sentissem e pensassem...


As palavras, se sentissem, e pensassem, diriam que andam às voltas; que se afastam e se aproximam; que rodeiam e se distanciam dos bosques justificativos da vida; que ora estão perto ora estão longe do fogo a debelar; do gelo a derreter; do vazio a preencher; das lágrimas a dulcificar; dos muros a destruir; das confusões e conflitos a clarificar; das solidões a preencher com a alegria dos abraços.
As palavras sabem, e não percebem, e não têm culpa dos afastamentos, estando tão próximas do regaço do amor, do renascimento do sol, que espera, ansioso, pela manhã da ressureição !
As palavras são testemunhas do desperdício com que as desperdiçamos!
Elas preferem, apesar de serem palavras, ouvir o silêncio festivo, ao sacrifício de serem utilizadas como marionetas nos becos e labirintos das dores e das mágoas!
Tenho por isso com as palavras esta cumplicidade de as saber amantes compassivas e, desarmado pela sua sabedoria, sinto que lhes devo a obrigação de restituí-las ao que prezam mais: o receberem-me, com sílabas de sorrisos rutilantes, na casa da harmonia, até onde me desejam conduzir, apelando e estimulando a minha coragem, compaixão e amor.
Lx, Nov/2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Apresentação do livro, " Os caminhos do silêncio"

A mesa. Com o livro. À espera dos amigos.
Marisa. Da Chiado Editora. No uso da palavra.
A minha amiga, Isabel Mendes Ferreira. Prefaciadora do livro. Sempre com poder de síntese. E com palavras de oiro.
Eu, falando sobre a minha poesia.
E lendo dois poemas.
A minha filha, Rita, também leu dois poemas.
A sala estava cheia de amigos. A família dos afectos.
Obrigado.
As outras fotos vão ser enviadas por mail para os amigos presentes.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Chuva, antiga...

Chove e gosto; e sinto, sempre, que o som da chuva é muito antigo; e que chove sobre a terra, sobre mim e sobre o mundo, e eu sou a terra, o mundo, o tempo, a chuva e o som da chuva. Há, no som da chuva, que cai sobre mim, ao ouvir a chuva, o tempo da chuva e o tempo do mundo e o tempo do tempo e o tempo de mim!...
É como se eu fosse da idade da chuva, da idade da terra, da idade do mundo, da idade do tempo, e por isso não me basta dizer: chove, e é bom ouvir a chuva, etc... Porque algo me faz lembrar o inlembrável e ao dizer isto sei que não é construção da mente para efeitos estilísticos...Não! ...É sentimento. Antigo. Como a chuva. E o tempo...
Desde quando choves, chuva, e sobre mim roças lembranças que não desvendas?!... -
In " Os caminhos do silêncio"- a ser apresentado em 5 de novembro, em Lisboa.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Não há lágrimas mais puras!

Tudo fica em mim
Pedra me edifica
Flor
Nervura de folha
Desenhos gravados nas conchas
Músicas legadas aos corações dos búzios
Dores, mágoas, promessas não cumpridas,
Desejos não satisfeitos,
Encruzilhadas, becos,
Bosques inventados em caleidoscópios de magia
Mas que o sol cru de uma manhã
Ou o vento agreste de uma noite
Ou as circunstâncias que a poesia não descreve
Bolinhas de sabão embatem contra as rochas...
Mas tudo fica no coração do poema
Atordoado
Sublimado
Sublime
Doce amado poema
Do amor mais puro que há
Perfume que as almas cheiram
Em cálices de suavidade sorridente
Bálsamo de perdão
Não verbalizado:
Não há culpas
Face aos enigmas poderosos
Que atravessam as nossas vidas!
Perante elas me inclino
No labirinto
Dos versos
Gravados nas paredes das grutas
Por onde passo alado
E digo:
- Não lágrimas mais puras
Mesmo com resíduos de mágoas
Nem sorrisos mais cristalinos
Nem silêncios mais carinhosos
Do que estes que ouço
À medida que vou escrevendo o meu poema...
-
In " Os caminhos do silêncio"
( a ser apresentado em Lisboa, em 5 de Novembro )

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O meu livro, " Os caminhos do silêncio".

Prefaciado por Isabel Mendes Ferreira, o livro, " Os caminhos do silêncio " ,será apresentado no dia 5 de novembro, pelas 15 horas, na Livraria/Bar, Les Enfants Terribles, Rua Bulhão Pato nº 1, em Lisboa ( ao lado do Teatro Maria Matos, junto à Av. de Roma ).
Na capa do livro pode ler-se a seguinte frase de Maurício Maeterlinck:
" As almas pesam-se no silêncio, como em pura água se pesa o oiro e a prata; e as palavras que pronunciamos não têm outro sentido senão o que procede do silêncio em que imergem".
Na contra-capa, pode ler-se o seguinte poema meu:
É importante escutar o que dizem os pássaros,
a voz do mar,
os sentimentos do vento,
a sonata do luar,
o namoro das pedras com as águas,
a sinfonia dos canaviais,
o rumorejar dos pássaros
antes do anoitar dos bicos
debaixo dos sovacos das penas...
Tantas palavras que escrevo para dizer
que isto é mais importante
do que os pensamentos ardilosos
que te povoam a mente
e com os quais, se dizes que sentes
a sábia música do silêncio...
mentes! ...
.
Espero nesse dia pelos meus amigos, que possam estar presentes.

domingo, 2 de outubro de 2011

Destino

Regresso sempre ao colo do silêncio!
Não te sei explicar!
Sou como as águas do rio,
Que têm como destino o mar... -
In " Os caminhos do silêncio". Chiado Editora.
Apresentaçao em 5 de Novembro. Em Lisboa.
-
Foto minha

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NUDEZ

Terra nua com luz intensa e fresca ao longo dos revezes da lonjura. Regaço ilimitado, sem refúgios, esconderijos, encontros secretos, recolhimentos de oração. Nudez plena. Plana. Rasa. Deserto. Com poços de água fresca e pura. Meu bosque de brancura. Com todas as cores. E sombras. E portas. E janelas. Abertas. Laranja inexpugnável.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Outono, chegaste...

Já o sabia ! : as árvores já mo tinham dito, e o vento, lembrado! Já o sabia pelo escorregar dolente do sangue nas ânsias do meu corpo, pelo roçar lasso e ronronante com que as palavras se deleitavam no colo quente do poema, pela vontade silenciosa de imitar as árvores, ficando como elas languidamente recolhido, mesmo face ao desejo: um torpor, um adormecimento, uma aceitação de placidez, uma preferência suave e leitosa pela criança em detrimento do ser amante, fogoso...
Vem, Outono! Preciso de outras cores que tu trazes, e me acalmam, e me harmonizam com o universo. Dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio. Dá-me a suavidade que se respira nas tardes breves, a moderação e a sapiência que fornecem a energia às árvores para as tempestades do inverno, a maturação da uva que fica à espera da hora adequada para o vinho ser bebido em copos merecidos...
Preciso da tua concha, Outono! Não é hibernação, não! É o ritual adequado ao ritmo d0 meu corpo humanamente grandioso, como se fosse - e é - divinamente consagrado...É o regresso anual às nascentes do ser, ao tempo da criatividade maior, em que mais novo sou, seja qual for a idade que tiver, porque me aproximo do momento em que nasci, em que vou rever a minha estrela, encher-me da seiva do universo de onde vim: esperma de amor, baba de orvalho, carícias de átomos e de tudo o que é germinação latente no ventre da terra.
Assim me fazes renascer, Outono, e me preparas para o inverno, para todos os Invernos, violentos, sim, mas belos, e eu fico munido então, com as armas do amor pleno...
-
In, "Os caminhos do silêncio" - Foto Net

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Como não sorrir sequioso...

No fim sem fim dos caminhos fatigados
Surpresa e dolorosamente renascidos
Nos interstícios das rochas
Nos becos labirínticos das grutas
Nos recantos espinhosos dos conflitos
Brisas subterrâneas sibilinas
Pétalas de esperança, beijos, carícias, aromas
Para além das curvas sombrias dos túneis
Tão longo o caminhar em direcção à sinfonia das ondas!
Como não sorrir sequioso
Para o sorriso materno da manhã
Ou deitar-me no colo das areias despidas
Mas tão cheias à beira do mar?
-
In "Os caminhos do silêncio "
-
Foto minha

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MAR

1. É preciso imaginar o que dizem os búzios.
É preciso imaginar o que dizem os búzios. Que conhecem os segredos do mar. Que o mar não deixa contar. Fica apenas um cantar soturno. Um lamento cavo e difuso. O estrondo prolongado do choque violento das vagas contra as tábuas dos barcos que submergem e com os barcos as mãos que acenam e imploram e dizem adeus. Os lábios que se beijam. Os corpos que se enlaçam. Os olhos que se fecham. Os choros e os gritos estrangulados na garganta das águas inclementes. Os sonhos acabados de nascer e sepultados no fundo do mar para sempre...
Eis o que dizem os búzios. Ou imagino que diriam. Se pudessem falar... -

2.

Já sei porque gosto do mar. Sou como ele, violento e calmo e solitário e acompanhado por todos os segredos, mistérios e sentimentos do mundo.

3.

De novo junto do mar, e sempre...já não apanho conchas, as raras, as mais lindas, como costumava dizer.

Limito-me a olhá-las, a acariciá-las,com amor e respeito e penso: não são minhas, são do mar que eu amo.

E sei que isto é assim, porque cresci e envelheci.

E acho que está bem a doçura do que sinto.

4.

Afinal, apanhei mais uma concha

Não fui eu que a escolhi

Foi ela que me escolheu

Vá-se lá saber porquê...

5.

Olhos de camelo vassourando a lonjura do deserto

Assim a gaivota grande de papo branco baloiça sobre as águas azuis e rasas e calmas do mar

Solitária esbelta e livre

Levanta voo brioso

E segue o parceiro que a chama

No voo alucinante sobre as águas...

Foto Net

terça-feira, 30 de agosto de 2011

De mãos dadas...

De mãos dadas com a vida e a morte,
Casado com o vento,
Sou rio,
E percebo a serenidade das cegonhas,
Com as asas abertas,
Protegendo-me as margens...
-
In " Os caminhos do silêncio "
-
Foto Net

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Barcos vazios com remos à espera

Pontes destruídas
Caminhos abandonados
Destinos
Que são sombras
Ilhas
Na ilha
Espreitando outras sombras
Nas areias do outro lado!...
.
Separando as sombras
Água vivas
E muitos barcos vazios
Com remos à espera
E pássaros incansáveis
Cantando a melodia dos abraços
Entre as margens!...
.
In " Os caminhos do silêncio "
.
Foto Net

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobre os seixos da vazante

É luz a música dos pássaros
No teclado dos ramos
Ou nas folhas dos plátanos.
Que poema descreve
O cantarolar do riacho
Na garganta das pedras
Ou que palavra
No silêncio das noites de Agosto
A catarata das águas
Sobre os seixos da vazante
E as montanhas de xisto
Vestidas de silêncio
E eu deitado na tenda
Com todos os sonhos do mundo
Nada sabendo da vida
Deleitado na música das águas
Com a lua mexendo nos bicos dos cerros
E sem saber
Que esta música
E este silêncio
Ficariam para sempre no meu coração!...
-
In " Os caminhos do siêncio" -a publicar
-
Foto minha tirada em S. Tomé.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Poema de Graça Pires

Todas as palavras são adequadas
para evocar os dias para serem agarrados
à cal da casa onde nascemos.
Quase nada sei a meu respeito
desse tempo tão claro em que as sombras
eram apenas a antecipação da noite.
Tento imitar aquela inocência
próxima da brancura dos lírios
e do frémito do rio abraçando o mar.
Torna-se difícil encontrar os sinais
sobreviventes da memória: a prata do chocolate
pacientemente alisada, as velas dos moinhos,
as cerejas carnudas, a roupa a corar sobre a erva,
a claridade das mãos da minha mãe
carregadas de tarefas e de presságios.
-
In " A incidência da luz " - de Graça Pires.
Com prefácio de Isabel Mendes Ferreira.
E Posfácio de Alice Macedo Campos.
-
Foto Net

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Longe de ser eu

Longe de ser eu
As águas não são claras
Mesmo que o poema seja belo
E o beijo seja ardente.
Longe de ser eu
Estou longe da nascente. -
.
Im " As palavras são de água " _
A foto é de Piedade Sol, a quem agradeço

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Diria a criança se pensasse como os homens!

Tudo é puro nos olhos limpos da alma,
bico de ave
com asas leves.
Assim nasce a criança no
regaço da manhã.
Tudo é sem abrigo, nudez plena,
frutos auto-suficientes sobre a terra.
As tardes são calmas.
Nas noites acenam as estrelas.
Nem sonhos há!
Tu és o sonho
que te ouves sem saber
no sonho!...
E as águas cantam nos regatos,
luminosas,
contentes...
- Assim devia ser o mundo! -
diria a criança se
pensasse como os homens!
-
In " Os caminhos do silêncio " - a publicar
-
Foto minha. S. Tomé.

domingo, 10 de julho de 2011

Cavalgando as sílabas do silêncio

" O tempo de escrever como outro
tempo
largo e de lago
espelhado em mil distâncias
e montanhas" - ana luísa amaral -
in " Entre dois rios e outras noites"
-
Preciso do tempo para o meu tempo como se não tivesse ( houvesse ) tempo. Único espaço onde respiro e me sinto livre. Nem preciso de espelho para me ver o rosto que tenho e ser a respiração que respiro. Pode existir ruído, mas só o silêncio se ouve. Catedral de espaço ilimitado. Autenticidade cinzelada a sulco de lâmina no jade mais profundo e puro. Arco luminescente giza o discurso língua vibrante entre o céu e a terra, entre as águas e o fogo, entre a vida e a morte. No céu desta boca de lume me vejo e falo e me atasco leve e me voo semente na terra amada e sulco as águas bote por janelas de vagas onde assomo as corolas ronronantes do mistério. No centro dessa boca ventre sou eterna criança não nascida com memórias sem palavras e receios de esquecimentos de um tempo ainda por nascer! Mas tudo decifro cavalgando as sílabas do silêncio que enche como almas velhas ondulantes o espaço sem tempo da catedral sem nomes, diluídos nos altares do amor pleno...
- In " Os caminhos do silêncio ", a publicar - Foto de Frutuosa Santos

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Chuva, antiga...

Chove e gosto; e sinto, sempre,que o som da chuva é muito antigo; e que chove sobre a terra, sobre mim, e sobre o mundo, e eu sou a terra, o mundo, o tempo, a chuva e o som da chuva. Há, no som da chuva, que cai sobre mim, ao ouvir a chuva, o tempo da chuva e o tempo do mundo e o tempo do tempo e o tempo de mim!...
É como se eu fosse da idade da chuva , da idade da terra, da idade do mundo, da idade do tempo, e por isso não me basta dizer : chove, e é bom ouvir a chuva, etc...Porque algo me faz lembrar o inlembrável e ao dizer isto sei que não é construção da mente para efeitos estilísticos...Não!...É sentimento. Antigo.Como a chuva. E o tempo...
Desde quando choves, chuva, e sobre mim roças lembranças que não desvendas?
-
In " Os caminhos do silêncio", a publicar.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Até para a semana!

Fiquem bem. Abraços.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sem lembranças de nada.

Que parte de nós é receptiva à essência das coisas, às palavras mais puras, à beleza das mensagens, à aceitação sem medo dos caminhos inimaginados, à abertura das cortinas longe do propósito de as abrir, é como se deixássemos de ser pesados no hábito de o sermos, é como se..., não: é mesmo quando planamos sem o sabermos, quando estamos leves sem o pensarmos ser, é quando somos outros que outros olhos se abrem, não sei em que parte de nós é outra a consciência, outro o patamar do ser. É então que as coisas sublimes (me) acontecem. Sem explicação. Com uma realidade própria. Leves e sábias. Envolvido nelas, como se corpo em nuvem, sou pureza de musgo e alga, dentro e fora, apenas luz, sem lembranças de sombras. Sem lembranças de nada!
País, de que mundo?
Consciência, de que vida?
Não sei.
Apenas que faço parte de que mistério ( ? ) , quando disso nem me lembro, me vejo viajando no mundo em que passo, mas tão leve me sinto, que dou um passo, sem limite nem de tempo, nem de espaço...
-
Lisboa, 25/8/2010
-
" Os caminhos do silêncio"

sábado, 18 de junho de 2011

Em memória de Saramago - um ano depois

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina / Como a lua não faz nem o sol pode; / Cobra de luz ardente e enroscada / ou ventos de cabelos que sacode. / Ergo uma rosa, e grito a quantas aves /
o céu pontua de ninhos e de cantos, / Bato no chão a ordem que decide / a união dos demos e dos santos. / Ergo uma rosa, um corpo e um destino / contra o frio da noite que se atreve / e da seiva da rosa e do meu sangue / construo perenidade em vida breve. / Ergo uma rosa, e deixo e abandono / quanto me doí de magoas e assombros. / ergo uma rosa, sim, e ouço a vida / Neste cantar das aves nos meus ombros.
- José Saramago
- Cedido pela minha amiga, Água do Mar, a quem agradeço.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sobre o Silêncio!

« Está atento com o Silêncio,
Protege-o,
Porque contém
Todos os sonhos dos homens.»
( Sabedoria Ameríndia )
-
« Quando dormem os lábios, acordam as almas e trabalham; porque o silêncio é um elemento cheio de surpresas, de perigos e venturas, e é pelo silêncio que as almas tomam livremente posse de si mesmas.»
.
« ...cumpre-nos cultivar o silêncio entre nós, porque só nele é que se entreabrem, por um instante, as flores inesperadas e eternas, que mudam de forma e de cor, consoante a alma, a cujo lado nos achamos. »
( Maurício Maeterlinck, in " O Tesoiro d0s Humildes ". )

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Isto é mais importante!

É importante escutar o que dizem os pássaros,
a voz do mar,
os sentimentos do vento,
a sonata do luar,
o namoro das pedras com as águas,
a sinfonia dos canaviais,
o rumorejar dos pássaros
antes do anoitar dos bicos
debaixo dos sovacos das penas...
Tantas palavras que escrevo para dizer
que isto é mais importante
do que os pensamentos ardilosos
que te povoam a mente
e com os quais, se dizes que sentes
a sábia música do silêncio...
mentes!...
-
In " Os caminhos do silêncio " , a publicar
-
Foto minha, Costa da Caparica.

sábado, 28 de maio de 2011

Tudo se transforma num deserto

Tudo se transforma num deserto
As casas com os postigos fechados
Debaixo do sol escaldante
Nem um rosto
Nem um ruído
É um momento de abandono
De solidão
Em que todas as pontes ruíram
E nem um vulto na distância
Na paisagem calada...
Estes momentos são aqueles
Em que nos medimos com o silêncio
Cujo rosto já não encontramos disponível!
Resta-nos ali ficar à espera
No vazio
Com saudades da sua voz...
-
In "Os caminhos do silêncio " - a publicar
-
Foto Net

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Antes da invenção das palavras!

Entrega-me o teu corpo de mistério luminoso
Que desvendo como peregrino
Nos caminhos solitários do mundo!
Com minhas mãos cheias de estrelas floridas de amor,
Que a todos reune
No Templo dos deuses sem nome,
Te amo,
E não firo convenções - que não tenho - :
Sou poeta, camponês, citadino, viajante, marinheiro,
Míscaro
Nascido do espérmen das estrelas,
Semente do céu,
Filho da Terra,
Escola sem livros,
Criança com o poder do Amor,
Dança livre do rosmano festivo,
Cobrindo os corpos juntos,
Sinfonia harmoniosa dos gestos,
As mãos entrelaçadas
No tempo sem tempo,
Antes da invenção das palavras!...
-
In " Os caminhos do silêncio "
-
Foto Net

domingo, 15 de maio de 2011

Palavras plenas

Palavras plenas,
só as da terra, do sol, e do mar,
e do choro, e do riso,
e da manhã, e da noite.
Sonho real, como as flores e os frutos,
e as sementes, e as folhas caídas e pisadas no chão,
e as mãos abertas com dedos com fome de amor e de vida sedentos,
só as palavras que cheirem a vida e a morte,
a lembrança e a esquecimento,
e a desejo de intemporalidade,
e saibam ouvir os búzios,
cujos segredos procuram escutar por entre as rochas e penhascos
nos caminhos que se confessam destinados ao amor infinito!.....
-
Maio de 2011
-
" Caminhos do silêncio"
-
Foto Net
-
Poema reconstruído

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Escreves azul sobre o branco ao lado do verde

Observas o voo perfumado do sonho sonhado na cadeira onde estiveste sentado, e cheiras o perfume do sonho, e revês-te sentado a sonhar ao lado das árvores ( distraído ao longo dos anos sem atentares na identidade da cadeira do sonho, só agora vês como é inócuo, infértil, amputado, embora sublime, o aroma que sobe no céu infinito e deixa confusas as estrelas debruçadas nas janelas do etéreo sobre as águas claras dos rios da terra, como que cheias de saudades das raízes, da frescura da terra, das mãos calosas que a trabalham, do cheiro do suor, do salgado da lágrima, da dança do riso, da liberdade festiva da aventura e da transgressão, da quentura dos corpos dos seres e da terra, ausências notadas nos incensos flutuantes evolando dos turíbulos movimentados por tuas mãos inaptas, impreparadas , inúteis…)…!!
Banhado pela luz do sol, e empurrado pela brisa, escreves azul em cima do branco do papel, sobre a mesa ao lado do verde das árvores floridas e com frutos…
Não resististe ao impulso conhecido em direcção às nascentes e aos regaços que sentes desde uma idade que não sabes localizar no mistério do tempo, e foste sentar-te ao lado do verde das árvores, e levaste a folha branca do papel, vazia como tu, vazio do verde, mas cheio dos cinzentos reflexos ecos ruídos guerras e conflitos, e imploraste pelo verde, o teu bosque de plenitude, brazonado em ti, mas situado muito para além da margem do teu rio de águas adormecidas, esquecidas, aparentemente abandonadas! …
Sentas-te então ao lado do verde, e começas por escrever: acariciado pela luz do sol, e assim permaneces, e vais mergulhando no colo da tua face não lembrada, até que já não te dás conta de que escreves, não a palavra: acariciado, mas sim inundado pela luz, e já não escreves que te sentes empurrado pela brisa = onda do mar, que te envolve e te alaga no verde das folhas, e deixas de falar em árvores floridas e em frutos: o teu olhar deixa de ser o teu olhar: dissolveu-se nos rios que sobem ao longo dos leitos frescos por dentro dos troncos das árvores e arbustos, fotossíntese tu és nos dedos esguios das gavinhas e nos sorrisos embriagados das folhas verdes balouçando no mar azul do céu que com um abraço infinito te recebe.
Dás contigo sem palavras que escrever. A caneta suspensa no sorriso da luz. O corpo aliviado da necessidade de pensar. Bote atrelado ao cais, reencontro dos seres e das fibras e das pedras e dos átomos do teu corpo com os átomos de todas as estrelas do universo. É o momento em que terminas o poema e olhas com outro olhar, e acaricias com outras mãos, as tuas, mas cheias de amor pleno, a mesa, e a cadeira, onde sentado escreveste a sonhar um poema sobre o sonho. - ( Os caminhos do silêncio )- Lisboa, Maio de 2011 - Foto Net

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ramalhete das rosas

A febre das palavras prontas para o edifício das pegadas
Quando o mar já foi vencido...
A alegria das palavras lidas por crianças,
Esses animais respeitáveis com radares infinitos
No corpo
Para o corpo infinito do mundo...
A vitória das palavras ceifadas, filtradas, construídas,
Modeladas no altar sublime da solidão,
Regaço procurado, onde se compõe o ramalhete
Das rosas mais frescas das mais puras
madrugadas...
-
Lisboa, 2008
-
Foto Net

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A visita à velha casa

Fachadas principais da velha casa
No tempo em que vivias, mãe Gracinda – assim chamava eu à minha sogra - a velha casa de granito estava sempre cheia com a tua vivacidade, energia e amor, e tu eras o motor de todas as tarefas, eras tu que alimentavas as galinhas, os coelhos, os pombos, as rolas, o porquinho, eras tu que tratavas das alfaces, das couves, das cenouras, dos morangos, das batatas, dos nabos, das cebolas, dos alhos… eras tu que enchias com a água do poço o tanque de granito, e a água deslizava ao longo dos regos rasgados na terra pelas tuas mãos calejadas pelos frios rigorosos do Inverno, eram as tuas mãos sim, apenas as tuas mãos, pois que teu marido partiu antes de ti, que leiravam a terra , e tudo crescia agradecido...
Tu eras a alegria que a casa tinha. Eras uma mulher já idosa, mas os teus olhos brilhavam, o teu sorriso tinha a força das manhãs, da tua memória prodigiosa brotavam estórias antigas, adivinhas, provérbios e canções, que cantavas alegre e desinibidamente, sempre que te apetecia, face ao silêncio surpreso de quem te escutava, embevecido, e quase todos, muito mais novos e, não obstante, mais pobres em liberdade de gestos do que tu, que eras uma mulher tão religiosamente conservadora ! Eras, no entanto, muito inteligente, autêntica e transparente em tudo o que fazias. Comandavas a casa como se esta fosse um navio. O navio vencia as ondas do mar e tu ao leme sempre firme. Eras uma mulher maravilhosa. Com o teu desaparecimento ficou a casa, abandonada. As ervas invadiram tudo. Olho para as pedras e parece que perderam o jeito de falar, como antigamente parecia que falavam. Ali, o forninho, onde confeccionavas a broa de milho, o coelho com batatas novas ou as bolas com sardinhas, chouriço, ou presunto, e o bolo de azeite que é o folar à moda desta região. A adega, onde se guardava o vinho que durava até à Páscoa, e o excelente bagaço caseiro. O lagar, dentro do qual tu e os familiares pisavam os bagos das uvas para fazerem o vinho. Hoje…recantos sombrios, onde só os olhos saudosos, mas atentos, pousam. Nos quintais do rés-do-chão reinam as ervas e as silvas, que, juntamente com o noveleiro, seco – antes branquinho como a neve - rodeiam os bancos de pedra em redor da mesa de granito onde me sentava a ler ou a escrever ou a ver as pessoas a irem buscar a água à fonte situada no outro lado da estrada. E a figueira, que não parou de crescer, e cujos ramos, se não forem cortados, se aproximam da porta principal da casa no primeiro andar, em cuja sala de estar escrevo estas singelas palavras que invocam a tua memória. Os (a)loendros, tão pequenos que eram, e que foram plantados junto ao muro, estenderam os braços e ocupam o espaço central do terreno. As oliveiras, velhas, continuam a dar azeitonas! As parreiras, sem serem tratadas, ainda dão muitas uvas! A figueira está cheia de figos. No entanto, frutos que, se não forem apanhados, cairão podres no chão. O resto… são os sótãos cheios de arcas cobertas de pó e teias de aranha, com as madeiras a rangerem, e as telhas velhas nos telhados abaulados, e o pombal, já com poucos pombos, pois os caçadores vão atirando sempre que podem…
...mesa de granito onde me sentava a ler ou a escrever...
...o antigo lagar...
...a invasão das ervas...
...o tanque de granito para onde caía a água do poço antes de regar a terra...
Olhando para a casa e lembrando os momentos felizes, passados nela, penso que há pessoas que são como as estrelas: têm luz muito forte. E quando morrem... fica tudo muito escuro!

...telhados abaulados ...

Quintela de Azurara, 13 de Setembro de 2008

- Reedito agora. Porque as saudades mandam.

Eduardo Aleixo

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A máscara dos dias!

A máscara dos dias!
A rudeza indiferente
dos gestos e palavras
De quem se ignora,
Se desconhece,
Se detesta,
Não se atura,
E se aborrece.
De quem se fala e ri
À superfície.
De quem trabalha
Mas não cria.
De quem envelhece,
De olhos macerados,
Os pensamentos emprestados,
Os sonhos já rendidos,
Esquecidos,
Não lembrados!...
-
Dias...onde a luz faz estremecer
Os alicerces da bruma
( o bolor aí se cria,
e trepa,
e prende os corações,
que riem quando deviam chorar,
que choram quando deviam gritar!...)
-
No dia a noite é espessa!
E de noite...o choro é livre!
As mãos de alguns odeiam,
E mostram no peito...
A chaga de uma flor!...
-
In "As palavras são de água"
-
Foto Net