sábado, 24 de março de 2012

As palavras são de água

As palavras rebolam pela estrada aberta 
e eu senti o momento da abertura!
Uma fonte se abriu
quando espetei o dedo no ponto certo
da argila da montanha 
e a água correu!
Recebo-a com cuidado na ponta dos meus dedos,
nem penso,
deixo-a correr pelas mãos
e lavo com ela o corpo todo.
É o momento da minha ligação ao universo!
Agora revejo o meu rosto verdadeiro
que se expressa
feliz ou triste, não importa.
É a água da Fonte!
Não há estrangulamentos ...
Sou a água que corre e me ilumina.
As palavras são de água.
Correm.
Ouvem-se no silêncio.
A alma está contente porque eu a ouvi
no momento certo.
Ela esperava que eu a ouvisse.
Ela espera sempre ser ouvida.
Nem sempre a ouço...
Ando muitas vezes distraído...
Mas há momentos que não sei explicar:
- Descubro fontes!
São os momentos do encontro maior!
- O encontro mágico do amor.
-
In, " As palavras são de água " - Chiado Editora, Setembro de 2009
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Foto Net

sexta-feira, 16 de março de 2012

Dia que amanhã já findou

Poema de  Rita Aleixo
.

Perscruto o passado
Perscruto o futuro
Sondo memórias, falas e sonhos
Vejo imagens, palavras e mundos

Só para ver se me encontro
.
Mas nem num nem noutro mundo
Me escondo
Nem num nem noutro
Passado e futuro
Vivo
.
Apenas com um e outro
Me inspiro
Sorvo ar, experiência e valentia
Algum amor, inocência e sabedoria
Para acabar no ponto onde agora me encontro 
- O hoje
.
Dia que amanhã já findou
e onde amanhã já não sou.
.
RITA ALEIXO
.
Foto Net

domingo, 11 de março de 2012

ECOS...

As vozes das almas calam-se face à inundação alienada dos ecos que ressaltam sobre as montanhas da pele. O ruído que provocam faz cair as brumas sobre o anúncio de todos os sentimentos verdadeiros.
Há que partir da voz original e que ela não se perca.
Só ela fala das águas puras do interior das rochas e deixa ver o essencial do mundo.
É demasiado o ruído e este faz tremer as pontes entre as águas soltas e as que correm transparentes no ventre secreto da terra.
Por isso fujo dos ecos prevalecentes sobre os poros  das encostas da pedra.
Prefiro a voz pura, tosca, mas original, que se eleva na madrugada como as névoas na superfície das águas quando o sol desce no vale e vai no bico das cegonhas dizer o que a alma diz sem outra pretensão que não seja:
- Estou aqui, só, debaixo do céu,   mas acompanhado por todo o amor do mundo !...
-
In  " Os caminhos do silêncio ", Chiado Editora, Novembro 2011