sexta-feira, 31 de julho de 2009

Longe de ser eu...

Longe de ser eu,
As águas não são claras,
Mesmo que o poema seja belo
E o beijo seja ardente!
Longe de ser eu,
Estou longe da nascente!...
( Foto de Lucília Ramos, que agradeço, http://natureza.blogspot.com )

quarta-feira, 29 de julho de 2009

E com sede, nem falam!...

Cada micropartícula da palavra expressa
Seja gotícula do sangue do ser que a expressa
Sem ela não viva
Como barco sem vela
Como ar
Se nos faltasse
Fala, canta, dança, pinta, cala,
Mas como se morresses
Em cada fala
Em cada canto
Em cada dança
Em cada quadro,
Em cada gota de silêncio!...
O resto...está a mais,
Nem máscara é!
Tão longe do ar
Da água
Do perfume
Do incenso!
Ouve:
Até do suor está longe,
E do sexo,
E do amplexo da pele,
Que até os anjos podem invejar!
Falo da semente da fala
Da fonte
Onde todos se ajoelham
E com sede
Nem falam!
( Lx, Julho de 2009 )
- Os Caminhos do Silêncio -
( Foto do autor )

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Apresentação do livro: Entre o Sono e o Sonho - antologia de poesia contemporânea - Volume II

Antes da Apresentação... com familiares e amigos...
Na sala reservada à apresentação...
O Portal Lisboa e a Chiado Editora expõem o Projecto que vai já no segundo volume. E começam a chamar os autores...
Digo algumas palavras... Confraternizando... Apenas, faltou ....a Rita, que não pôde vir de S. Tomé...
E outros amigos...
Ah! Conheci algumas pessoas da blogosfera e foi bom...
----------------------------------------------------------------------
NOTA: se estiver interessado na aquisição do livro, pode contactar-me por mail.
---------------------------------------------------------------------------
( Fotos de Maria Augusta Aleixo e Manuel Aleixo )

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mão de veludo, a noite...

É mão de veludo, a noite,
Afago de orvalho nos olhos fatigados!
É fim do dia cheio de acenos
E sorrisos só aparentemente inesperados
Em sulcos incertos
Por onde voz profunda incitou
Que teus passos ousassem caminhar
Leme de arrais solitário
Nas lonjuras do mar sem fim
Com becos cansados, mas gratos,
Testemunhas do amor ilimitado!...
( Dos Caminhos do Silêncio...)
- Julho de 2009, Santa Cruz -

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pegadas

As minhas pegadas quero eu gravá-las
Sobre as areias do mar que eu amo,
Onde os barcos passam,
Cheios de homens e mulheres,
Com sonhos carregados nas cabeças
E tantas dores sobre os ombros!
As minhas pegadas quero eu deixá-las
Sobre as areias do mar que eu amo,
Onde me sinto como um grão de areia
A olhar para as constelações,
Quando a noite me cobre de silêncio,
E o corpo escuta, até adormecer,
O sentido que procuro para os passos,
Que o mar já desfez,
Deixando apenas sons nos búzios e nas conchas...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

As palavras!...

As palavras são palavras.
Nuvens...
Instrumentos na mão do vento...
O vento, somos nós!
Se o vento entoar a canção do amor,
As palavras serão de amor.
Se o vento entoar a canção do ódio,
As palavras serão de ódio.
As palavras de amor são visitas habituais
Na morada do meu coração.
As outras...
Não entram nele,
Nem permito que se aproximem!
Limito-me a vê-las,
Bichos rastejantes,
Na viagem de regresso!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Novo olhar

- Poema de Rita Aleixo
E agora?
O que resta quando a rajada passa?
O que fica quando o nosso real deixa de existir?
Que semente irá brotar,
Que passo a dar,
Que palavras dizer,
Quando os seus significados deixaram de fazer sentido?
A estrada é a mesma,
Junto ao mar,
Junto à areia,
Que se mistura com as rochas e as conchas.
Tudo é o mesmo, mas deixou de o ser!
Lágrimas inexistentes, sentidas, mas invisíveis,
Percorrem soltas esse caminho desconhecido,
Ontem tão familiar.
Hoje estranho, amigo antigo desaparecido.
O que resta então?
O que fica por fazer senão prosseguir com outro olhar
O mesmo mar repousante,
A areia da praia e as suas rochas e conchas como se fosse
A primeira vez que as estivessemos a ver!
Renovadas.
Surpreendentes...
( S. Tomé, 2009 )

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Entre o Sono e o Sonho

O livro, " Entre o Sono e o Sonho - Antologia de Poesia Contemporânea - Volume II ", tem a participação do À Beira de Água, através de 4 poemas de Rita Aleixo, e de 6 poemas meus.
A sessão de lançamento da obra, projecto do Portal Lisboa e edição da Chiado Editora, terá lugar no " Café In ( Av. Brasília, Pavilhão Nascente, nº 311, em Lisboa, no dia 25 de Julho, sábado, às 19,30 h ).
A entrada é livre.
Todos são bem - vindos!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Convidado do mês de Julho: Mário Cesariny

1. Poema
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura.
2. Uma certa quantidade
Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
-
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz ( adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
-
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa
dói aqui
dói acolá
-
E resulta que também estes andavam à procura
uma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar
-
Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro
( Cesariny, em " Uma grande razão - os poemas maiores )

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Simplesmente...são!

Ao nosso lado,
Bem longe
da nossa inquietação...
As flores,
Simplesmente...
São!...

sábado, 11 de julho de 2009

Música no silêncio

Música no silêncio antiquíssimo da noite !

Eterno o silêncio, eterna a música,

Que sempre existiram no universo,

Nas águas e no vento!

Aqueles que a escutaram antes dos outros

Foram os que nasceram compositores!...

Ouço-os no silêncio da noite

Cada vez mais atento

Quando cansado estou dos ruídos periféricos

Da vida. Da vida que corre sublime

E pura como as águas limpas que se ouvem correr

Livres nas montanhas.

Música pura, é o silêncio, que fala.

E quando fala e eu escuto,

Respiro, pairo, danço, voo,

E entro no universo infinito do meu corpo

Que se transforma sem dar por isso

Num oásis de conforto!...

Reedição deste poema, que me parece adequado ao paraíso musical de Deva Premal.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sorriso poético à noite e à chuva...

Quando olho para a minha amada
E ambos sorrimos por dentro sem nos rirmos
É um estado de graça que acontece:
Chove lá fora,
É noite,
O vento corre doido pelo ar.
Mas cá dentro,
É manhã,
Céu azul.
Brisa do mar!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prémio

Muito grato, Ausenda - blogue Utopia das Palavras - ( http://poemas76.blogs.sapo.pt ).
" O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores. "
Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Viagem no comboio histórico

20/06/2009
Na Estação do Pinhão, o comboio a vapor, que nos vai levar até à Estação do Tua e depois, até à Régua.
Em virtude do intenso calor, soube a refrigério a garrafa de água muito fresca, o cálice do "vinho fino" e as "bolas de carne", oferecidas, a título de "boas vindas", por duas raparigas sorridentes.

O comboio pôs-se a apitar, à maneira antiga.

Do lado direito, o rio Douro corre, luminoso e calmo.
Do lado esquerdo, vejo, através da janela, escarpas de xisto, oliveiras, vinhedos, amendoeiras, piteiras. As escarpas estão cobertas por redes metálicas, protectoras.
Até à Estação do Tua ofereceram-nos música de acordeão. Chegámos ao Tua. Um intervalo, indispensável, para que as máquinas se aprontem para a viagem de regresso até à Régua.
Nesse intervalo conhecemos um casal que também adora viajar. Bebemos cerveja fresca. Trocámos impressões sobre experiências mútuas de viagens. Falámos sobre a indispensabilidade de termos um olhar fresco, como se fossemos crianças, isentas de preconceitos, o olhar para ver o diferente de nós. Só assim nos podemos enriquecer nas viagens pelo (do)mundo.

No regresso, o rio, do lado esquerdo. No banco à nossa frente, uma criança olha-me. Por vezes, o fumo do comboio ameaça entrar na carruagem. O comboio apita o som da minha infância. O seu rodado é o de " pouca terra...pouca terra...", como vinha escrito no livro da escola. Dois homens, de concertina, passam. Uma moçoila, fardada, vai com eles. Vão tocar a partir da carruagem seguinte. Hão-de chegar à nossa. Pela janela vêem-se os fiapos de vapor entrecobrindo o verde dos vinhedos. Cheira a vapor. Tenho a t-shirt suja. É bom. É a marca da viagem. A criança sorri-me. Parece feliz. Três acordeões. As raparigas, com pandeiretas, dançam: " Ó vira que vira Ó vira virou As voltas do vira Só eu é que as dou..."
No intervalo entre as carruagens, fico a observar, deliciado, as águas do Douro. Vou assim até à Régua. Vou embalado pelo som do comboio, que sempre me transporta para o país das lembranças, para o país que nunca visitei, e de que estranhamente tenho saudades, me deposita nos desertos e nas gares e nos cais e me faz pensar no seu significado profundo, e me deixa a boca e o coração cheio de chegadas, de esperas, de partidas, de encontros e de desencontros!
É um som melancolicamente sábio, o do comboio. Da vida...
Próxima reportagem: da Aldeia de Linhares da Beira, ao Museu do Pão, em Seia.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A rafeira São em São Tomé

Por aqui, todos os cães são rafeiros, na sua maioria escanzelados, sarnentos, cheios de feridas e com medo das pessoas, que lhes atiram pedras diariamente. Na sua maioria, olham para nós de olhar triste e receoso. Sou de opinião que não deviam sequer existir nestas condições. Quando cheguei, há mais de um ano atrás, faziam-me muita confusão. E cada vez que via alguém bater num cão, ficava enervadíssima. Estranhamente, habituei-me, apesar de ter sempre pena deles...mas tive que os "enquadrar" na paisagem. Entretanto, na minha casa há dois cães, com quem convivo e dou comida desde que cheguei a esta terra. Confesso que tentei desde o início não dar-lhes a mínima atenção para não me afeiçoar aos cães e até consegui seguir assim até há bem pouco tempo. Quem me conhece, sabe que adoro animais, sempre vivi rodeada deles, portanto conseguir desligar-me destes foi assunto sério. Mas o raio da cadela, que era uma cachorrinha quando cheguei, conseguiu vencer o meu afastamento. Ela (a São) e o pai (a quem chamamos cão grande) andam sempre juntos e são muito companheiros um do outro. Deitam-se sempre no portão cá fora à espera que cheguemos a casa, ladram de contentamento quando ouvem o carro a chegar e saltam efusivamente para cima de mim como gesto de boas vindas, que sistematicamente me chateia por não só me sujar e magoar toda como por me rasgarem a roupa....Mas para toda a restante gente ladram hostilmente e são realmente dois bons guardas da casa. Aprendi que os gestos de carinho e amor são aprendidos, pois a São não sabe muito bem como manifestar esse amor, pelo que essa forma manifesta-se mordendo-me os pés, as pernas e as mãos. Nunca me lambeu como o meu cão em Lisboa o faz, e todos os cães "normais" que conheci. Mas deita-se no chão de perna aberta sempre que falo com ela e já reconhece bem o seu nome, a esperta! Quando me ponho a ler um livro na varanda, deita-se ao meu lado sempre a olhar para mim e gane de contentamento quando me ponho a brincar com ela. Nós temos uma lixeira bem ao lado de casa, onde ambos vão sempre buscar restos de comida. Ainda esta semana, veio o cão grande com uma pele de peixe gigante para o jardim todo contente e a São veio com uma cabeça de galo... :) Isto para dizer que no meio disto tudo, eles são uns felizardos, apesar de serem igualmente magricelas e estarem cheios de pulgas e cortes como grandes "cães de rua" que são. E também para dizer que o afastamento não funcionou. No outro dia tive que chamar o único veterinário que conhecia o número, porque a São sangrava abundantemente da pata e eu quase entrei em pânico com a situação. Mas o homem, que fiquei a saber ser o veterinário do cão do embaixador, coseu pata enquanto eu segurava na pata da cadela anestesiada, e perguntou se ela tinha as vacinas em dia. "Nunca tomou nada" - foi a minha resposta, ao que ele contesta: Então ainda bem que estou de luvas, nunca se sabe..." e eu olhei para a minha mão (sem luva) a segurar a pata a sangrar e só consegui pensar a sorrir... "O raio da cadela..." Boa semana a tod@s, Rita