segunda-feira, 6 de julho de 2009

Viagem no comboio histórico

20/06/2009
Na Estação do Pinhão, o comboio a vapor, que nos vai levar até à Estação do Tua e depois, até à Régua.
Em virtude do intenso calor, soube a refrigério a garrafa de água muito fresca, o cálice do "vinho fino" e as "bolas de carne", oferecidas, a título de "boas vindas", por duas raparigas sorridentes.

O comboio pôs-se a apitar, à maneira antiga.

Do lado direito, o rio Douro corre, luminoso e calmo.
Do lado esquerdo, vejo, através da janela, escarpas de xisto, oliveiras, vinhedos, amendoeiras, piteiras. As escarpas estão cobertas por redes metálicas, protectoras.
Até à Estação do Tua ofereceram-nos música de acordeão. Chegámos ao Tua. Um intervalo, indispensável, para que as máquinas se aprontem para a viagem de regresso até à Régua.
Nesse intervalo conhecemos um casal que também adora viajar. Bebemos cerveja fresca. Trocámos impressões sobre experiências mútuas de viagens. Falámos sobre a indispensabilidade de termos um olhar fresco, como se fossemos crianças, isentas de preconceitos, o olhar para ver o diferente de nós. Só assim nos podemos enriquecer nas viagens pelo (do)mundo.

No regresso, o rio, do lado esquerdo. No banco à nossa frente, uma criança olha-me. Por vezes, o fumo do comboio ameaça entrar na carruagem. O comboio apita o som da minha infância. O seu rodado é o de " pouca terra...pouca terra...", como vinha escrito no livro da escola. Dois homens, de concertina, passam. Uma moçoila, fardada, vai com eles. Vão tocar a partir da carruagem seguinte. Hão-de chegar à nossa. Pela janela vêem-se os fiapos de vapor entrecobrindo o verde dos vinhedos. Cheira a vapor. Tenho a t-shirt suja. É bom. É a marca da viagem. A criança sorri-me. Parece feliz. Três acordeões. As raparigas, com pandeiretas, dançam: " Ó vira que vira Ó vira virou As voltas do vira Só eu é que as dou..."
No intervalo entre as carruagens, fico a observar, deliciado, as águas do Douro. Vou assim até à Régua. Vou embalado pelo som do comboio, que sempre me transporta para o país das lembranças, para o país que nunca visitei, e de que estranhamente tenho saudades, me deposita nos desertos e nas gares e nos cais e me faz pensar no seu significado profundo, e me deixa a boca e o coração cheio de chegadas, de esperas, de partidas, de encontros e de desencontros!
É um som melancolicamente sábio, o do comboio. Da vida...
Próxima reportagem: da Aldeia de Linhares da Beira, ao Museu do Pão, em Seia.

20 comentários:

gaivota disse...

lindo, lindo, linda viagem paisagens magníficas, o nosso portugal tem destas coisas e felizmente tem gentes que as apreciam e divulgam!
obrigada
beijinhos

gota de vidro disse...

Esta viagem é maravilhosa. Para mim passa-se nas mais belas paisagens que o nosso Páís tem.

A tua descrição é perfeita.

Adorei

Uma boa semana

bjito

Lucília Benvinda disse...

Poesia pura!!!
Magnífica descrição, bem sentida, bem observada, bem ao jeito de lembranças de outros tempos... tempos que passam velozes pelo comboio da vida.

Adorei as fotos e o calor que pões no relato. Até me fizeste sede!!! A sede de viajar... sentindo como tu.

Abraço apertado,
Lucy

Maria P. disse...

São lugares muito bonitos...

Beijinhos*

Unknown disse...

Gaivota

Gota de Vidro

Lucy

Maria P

A alegria de vos sentir afins. Boa semana para todos.
Bem hajam.

Nela disse...

Prilégios do pobre:

Se se cala, o pobre é parvo;
um maçador, se é palreiro;
bisbilhoteiro, se sabe;
se afável, é embusteiro;
se é gentil, intrometido,
se não atura, é soberbo;
cobarde, quando é humilde,
se é audaz, não possui tento;
se é valente é temerário;
presunçoso, se é discreto;
adulador, se obedece,
se algo recusa, é grosseiro;
com pretensões, atrevido;
com méritos, não ganha apreço;
sua nobreza é oculta;
sua veste sem esmero;
se trabalha, é ambicioso,
e, pelo contrário extremo,
um perdido, se descansa...
Vejam bem que privilégio!
~
Eduardo, esta é para ti que viajas muito e vês de tudo.

Gostava de subir o Douro de barco, mas também de comboio é interessante e animador.

Beijo Nela

Unknown disse...

Nelita

Obrigado pelo poema. É teu? É um poema cheio de sabeoria.Diz-me se foste tu que o fizeste, ou se é da Cultura do Povo. Que é sábia, como sabes.
Quando te apetecer sobe o Douro, quer de barco, quer de comboio.Mas mesmo que não subas, olha para as águas. As águas são quase tudo o que há no universo. Só no nosso corpo são mais e 70%. Elas acalmam o nossso espírito. Vou enviar-te por mail o nome de um livro famoso sobrs as virtudes das áquas.
Sabes, eu adoro a água. Gosto muito que a tua mana me diga que eu sou o poeta das águas. Se bem que quem assim me baptizou foi a Ausenda, a Moura(inha), que é uma grande poetisa.
Também gosto muito de te ler. E também à tua maninha. Dá-lhe abraço meu.
E para ti, um beijinho.

PS: Foi pena o tempo na Nazaré...Mas, sabes, esta costa é assim...

utopia das palavras disse...

Poeticamente linda a prosa, o Tua igualmente belo, e esse som ...pouca terra...pouca terra, fez-me voltar à infância! Gostei!

Continuo viajando...contigo!

Um beijo

Unknown disse...

Moura(inha)
Obrigado. Já comentei o teu poema. Parabéns pelo prémio.

utopia das palavras disse...

Porque é nas águas deste rio que tantas vezes me cubro de pureza e alo o pensamento, no infinito da palavra, para ti o LEMNISCATA! Com gratidão!

Beijo

Unknown disse...

Moura(inha)

Olha que eu fiquei " almariado", eu não mereço, amiga.
Claro que te agradeço, mas há pessoas que escrevem melhor do que eu.Muito melhor.
Mas obrigado. Logo vou roubar o prémiio.
Beijo

tulipa disse...

OLÁ AMIGO EDUARDO

Para uns o Verão é andar em passeios de combóio, juntinho ao Douro, com uma paisagem maravilhosa.
Para outros é, infelizmente, estar de cama, doente.
Estou a ficar neurótica de estar enfiada em casa sem ver gente!!!

Na vida nem sempre fazemos o que mais gostamos...neste momento queria mil vezes estar numa piscina a nadar com os meus 2 netos, que bom seria!!!
do que enfiada em casa de quarentena, por causa de uma pneumonia!!!
Estou farta de casa e cama, muita tosse, enfim...

Passo para te desejar uma boa semana.

Deixo um bjinho grande.
MAS...digo-te que fiz este mesmo passeio no Verão/2006 e ADOREI.
Escreves muito bem, obrigado pela partilha.

f@ disse...

Olá Eduardo,

Desculpa a ausência...

Tb viajei aqui no teu comboio e vi com a paisagem corre ao andamento do comboio da imaginação e carrega as emoções...

Belo demais este texto e imagens...
Tb gosto mto do Dourado do douro verde e do azul da água e do céu...

Mil beijinhos

Unknown disse...

Tulipa
Amiga. Já fui ao seu blogue. As palavras que lá deixei são do coração.


Como pode um texto meu, tão simples, ser elogiado por quem escreve tão sublimemente? Que Deus a ajude. As suas palavras são bordados! Sinto-me pequeno! Mas beijo grande.

Nela disse...

O poema não é meu. Tenho um grande livro de poemas de todo o mundo, com autores que não conheço e de nomes estranhissimos.
O livro chama-se "Rosa do mundo" 2001 poemas para o futuro. Comprei-o na Almedina no Porto e como gosto de ter poemas de toda a espécie, sejam populares ou não, apanhei este e mandei-te.
Ainda bem que gostaste, pois o que o poema diz é mesmo verdade, portanto, sabedoria popular.

Também gosto de água. Então a bebê-la eu sou um ás.

Ando muito cansada e a precisar de mudar de ares urgentemente, de preferência dar muitosssss mergulhos no mar, que tudo limpa.

Beijinho Nela

Unknown disse...

Nela
Não há como o mar para lavar e acalmar.
Por causa da canção das ondas e da cor azul.
Beijo e concordo: vai mais vezes ao mar, com ou sem mergulhos.
EA

LuNAS. disse...

Muito bonita a reportagem.
É o som da vida, o comboio... nunca tinha pensado nisso!
Beijos

Unknown disse...

Lúcia flor de rosmaninho

É que o som do comboio é como se fosse o som do mar da terra, embalador...

Beijos

Paula Raposo disse...

Tudo muito bonito!! Beijos.

Unknown disse...

Paula
È mesmo bonito, sim. Bjs