quinta-feira, 2 de julho de 2009
A rafeira São em São Tomé
Por aqui, todos os cães são rafeiros, na sua maioria escanzelados, sarnentos, cheios de feridas e com medo das pessoas, que lhes atiram pedras diariamente. Na sua maioria, olham para nós de olhar triste e receoso. Sou de opinião que não deviam sequer existir nestas condições. Quando cheguei, há mais de um ano atrás, faziam-me muita confusão. E cada vez que via alguém bater num cão, ficava enervadíssima. Estranhamente, habituei-me, apesar de ter sempre pena deles...mas tive que os "enquadrar" na paisagem.
Entretanto, na minha casa há dois cães, com quem convivo e dou comida desde que cheguei a esta terra. Confesso que tentei desde o início não dar-lhes a mínima atenção para não me afeiçoar aos cães e até consegui seguir assim até há bem pouco tempo. Quem me conhece, sabe que adoro animais, sempre vivi rodeada deles, portanto conseguir desligar-me destes foi assunto sério.
Mas o raio da cadela, que era uma cachorrinha quando cheguei, conseguiu vencer o meu afastamento. Ela (a São) e o pai (a quem chamamos cão grande) andam sempre juntos e são muito companheiros um do outro. Deitam-se sempre no portão cá fora à espera que cheguemos a casa, ladram de contentamento quando ouvem o carro a chegar e saltam efusivamente para cima de mim como gesto de boas vindas, que sistematicamente me chateia por não só me sujar e magoar toda como por me rasgarem a roupa....Mas para toda a restante gente ladram hostilmente e são realmente dois bons guardas da casa. Aprendi que os gestos de carinho e amor são aprendidos, pois a São não sabe muito bem como manifestar esse amor, pelo que essa forma manifesta-se mordendo-me os pés, as pernas e as mãos. Nunca me lambeu como o meu cão em Lisboa o faz, e todos os cães "normais" que conheci. Mas deita-se no chão de perna aberta sempre que falo com ela e já reconhece bem o seu nome, a esperta! Quando me ponho a ler um livro na varanda, deita-se ao meu lado sempre a olhar para mim e gane de contentamento quando me ponho a brincar com ela. Nós temos uma lixeira bem ao lado de casa, onde ambos vão sempre buscar restos de comida. Ainda esta semana, veio o cão grande com uma pele de peixe gigante para o jardim todo contente e a São veio com uma cabeça de galo... :)
Isto para dizer que no meio disto tudo, eles são uns felizardos, apesar de serem igualmente magricelas e estarem cheios de pulgas e cortes como grandes "cães de rua" que são. E também para dizer que o afastamento não funcionou. No outro dia tive que chamar o único veterinário que conhecia o número, porque a São sangrava abundantemente da pata e eu quase entrei em pânico com a situação. Mas o homem, que fiquei a saber ser o veterinário do cão do embaixador, coseu pata enquanto eu segurava na pata da cadela anestesiada, e perguntou se ela tinha as vacinas em dia. "Nunca tomou nada" - foi a minha resposta, ao que ele contesta: Então ainda bem que estou de luvas, nunca se sabe..." e eu olhei para a minha mão (sem luva) a segurar a pata a sangrar e só consegui pensar a sorrir... "O raio da cadela..."
Boa semana a tod@s,
Rita
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13 comentários:
Gostei muito de te ler, Rita. Gostei da tua ternura. Beijinhos.
Claro que quem te conhece sabe que adoras animais. Lendo-te, penso que as circunstâncias da vida - e as tuas são duras - não afugentando o amor, lhe dão outra forma e expressão.
Olha, a gente sofre com os animais. Mesmo cá.
Na semana passada, o GWYN esteve muito doente. Mas já passou.
Ontem é que foi dramático. A tua mãe não quer que eu te conte, mas já posso. A LAI-SI atirou-se outra vez do quinto andar para baixo. Lá a encontrámos. Foi abrigar-se no prédio ao lado. Não partiu a bacia, nem as costelas. Apenas o palato e os dentes. Está internada. Mas está salva. Dormiu bem. Só tem dificuldade em comer.
Temos de arranjar uma rede para as janelas.
Rita, gostei da tua crónica.
Beijos muitos do teu pai, que muito te ama.
Olá Rita,
É triste saber que há animais a viver nessas condições.
Bem haja quem os trata como deve ser e lhes dispensa amor, pois que são domésticos e precisam muito do homem para sobreviverem.
Fico sempre enternecida sobre o tema e penso logo nos meus cahorrinhos.
Li algures, que o desenvolvimento de um povo se mede pela maneira como tratam os seus animais. Concordo em absoluto!
Penso eu, que dia virá, em que nem mais um cão ou gato andarão pela ruas famintos e pulguentos, já farão parte das famílias como seus membros e o governo decretará leis a propósito de abonos de família.
Até lá, vamos cuidando conforme pudermos.
Um beijo,
Lucy
Rita,
Pelo que li os pobres canitos daí têm mesmo "uma vida de cão" e lamento-os por isso.Mas, por outro lado, sempre achei que os cães em liberdade,podendo ladrar, correr e saltar à sua vontade não devem ser muito infelizes, apesar de terem de lutar pela comida e de coçar a ocasional pulga.
Cresci com cães e tive-os enquanto tive jardim e quintal onde pudessem ser livres.
Respeito muito e até admiro as pessoas que os têm em casa e que os tratam com paternal ou maternal carinho, mas continuo a achar que os mais felizes são os cães que têm a sua liberdade.:)))
Adorei a tua crónica.
Beijinhos e dá aí uma palmadita no lombo dos bichos por mim, mesmo sem luvas.
Clo
Vim só deixar beijinhos de boa noite
amanhã venho ler... imenso beijinho
Parabéns Rita pela crónica.
Hoje não estou com cabeça para comentar a tua crónica.
Como estou de cama, doente, não posso estar sentada ao computador, estes primeiros 3 dias é mesmo 24h sobre 24h na cama, sem fazer esforços.
Por isso, coloquei as fotos com pouco texto escrito.
Estou a preparar mentalmente o meu próximo post, para vos contar mais um momento difícil e triste da minha vida.
Muitos de vós não acreditam, mas em meu redor anda sempre alguma bruxa má para me fazer mal...logo neste momento em que algumas das minhas Amigas já garantiam que 2009 era o "meu ano de sorte"...
Eu bem lhes dizia:
Não deitem foguetes antes da festa.
Os problemas da minha vida obrigam-se a ser desconfiada e estar sempre com os 2 pés atrás.
E...acabo de confirmar que estou certa nas minhas desconfianças.
Espero que agora as tais Amigas entendam o que eu lhes dizia e elas não acreditavam!!!
Mas...Deus olhará por mim.
Se ELE achar que está na hora de ir para junto d'ELE...que posso fazer? Nada...
Só sei que "ainda" não quero partir deste mundo!!!
Gostei da crónica. Espero bem que o camarada Gwyn, esse cão anarquista e da esquerda caviar, a leia com atenção para ficar a saber que a vida é difícil no terceiro mundo canino.
'Bêjos'.
PM
Um belo e comovente texto em que a Rita tão bem soube transmitir-nos uma enorme ternura pelos cães. Fiquei a gostar da são e do cão grande. É bom quando nos afeiçoamos aos animais que nos rodeiam.
Beijos Rita.
Um abraço Eduardo.
a são, rafeira ou não, tem todos os direitos!
gosto muito de animais, tenho aqui o meu coelhinho e já rive 2 cães, adoecem, têm que ser tratados, mesmo sem luvas...
beijinhos
Gostei de saber que ao menos esses dois têm o carinho merecido.
Faz doer o coração ver animais mal tratados, eu, ando sempre com o "coração nas mãos" por eles, não é raro encontrá-los abandonados por aí, sempre que vejo um nessas condições lá estou eu a telefonar para a Associação de Protecção que existe em Faro, que os leva para o canil para serem adoptados.
Tenho um cão pequenino, o Booguie, que é o depósito dos meus afectos. Adoro-o!
Gostei de ler a tua crónica!
Beijos
olá Eduardo
venho deixar-TE um abraço e desejar-TE um feliz fim de semana.
sempre teu amigo, sempre.
Estava a ler-te e a pensar que a dureza da vida torna as pessoas mais duras e mesmo para ser animal é preciso ter sorte, os bichinhos continuam a ser os nossos melhores amigos, faz pena ver os animais sofrer, as pessoas a sofrerem, não deve ser fácil a vida por aí,mas quem gosta de animais como tu não tem como resistir aos olhitos ternos de um cãozinho
beijinhos
Gostei de ler, também adoro animais.Um beijinho Rita e vai tratando bem dos animais por aí, que eles são nossos amigos e precisam de carinho tal como nós.
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