quinta-feira, 30 de abril de 2009

Que cantam os pássaros?

Que cantam os pássaros?
De que falam?
Tão cedo na manhã,
Que alegria nos transmitem!...
Eduardo Aleixo
( Lx, 29/4/09 )

terça-feira, 28 de abril de 2009

No campo, o cheiro da alfazema...

( Foto: rio Douro - autoria de À Beira de Àgua )
- Poema de Rita Aleixo
No campo, o cheiro da alfazema
é uma ternura que se espalha pelo ar.
E junto ao esplendor da Natureza
toda a harmonia se encontra no lugar.
-
Nada há de mais belo
que ver um semeador a plantar
o que com o decorrer do tempo
da terra há-de brotar...
-
De madrugada a lida recomeça
num trabalho duro de muito esforço.
Mas que melhor haverá de recompensa
que a de poder acompanhar este ciclo gracioso?
-
A gente citadina desconexa
não o pode saber apreciar...
Pois seus muros de cimento são altos
e difíceis de ultrapassar.
-
Para dar largas à visão
a cidade é fechada de aparências.
Uma enganadora ilusão
que prende as gentes nas suas teias.
-
No campo o horizonte é o limite
e a essência da vida na perfeição.
Quem nunca se libertou para a vislumbrar,
então é pobre e pequeno na imensidão.
-
Vale a pena subir os altos muros
da prisão que a cidade encerra!
Pois ainda se sente, vinda lá do fundo,
a ternura do cheiro a alfazema...
Rita Aleixo
( 2002 )

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Poema

- de Raul de Carvalho
( Alvito, 1920- 1984 )
Leva-me!, ó moreno
peito da beleza,
ó curva silvestre,
soluço selvagem,
macio leito,
quente mão no ombro,
passos silenciosos e miúdos
pela casa abandonada que somos,
aqui onde estamos,
aqui onde esperamos
por ti.
-
Por tuas mãos longas e prometidas,
teus cabelos de orvalho,
tua camisa de dormir feita de luar,
renda de estrelas que os meus olhos cobiçam,
seda que envolve e acalma os músculos,
meu frágil e cintilante corpo da noite.
-
Ó inquieta voz
que me chamas,
ó luz
que me cegas e guias,
ó cuidado maternal comigo,
ó minha miséria e glória,
meu entusiasmo sem motivo,
meu riso sem alegria,
meu amor sem pecado,
ó sangue que segues dormindo confuso,
pequenas gotas brilhantes,
ó vívida e santa e impudica forma de possuir-te,
ó solidão temperada só pela solidão,
ó recurso vão
à seca flâmula,
à morta madeira,
ao álcool esmagado
nas veias,
ó misericórdia
da claridade
abrindo as fechadas
janelas
do nosso abrigo,
-
ó palavra, nua,
deitada, nua,
na areia, nua,
da praia.
ó palavra encostada
no colo das águas,
-
ó aproximação
da confluente
população dos símbolos.
-
ó união
com o miolo das
espécies,
com o alvéolo
leve
das andorinhas,
com o poderoso e louco
porte das águias,
com a altura que geme
na loucura que teme
na nossa ambição de dormir
sobre a terra lavrada e molhada.
-
Ó bênção que me acolhes,
tecto que me cobres,
mão que me conheces,
razão que me compreendes,
olhos que me choram,
saudade que tens, por min,
de um encontro.
-
Ó anjo posto
no pilar da torre,
no túmulo, na estrela,
no lume da fronte humana,
lápide, perfume,
lâmpada e sândalo,
sandália que calças
uns pés nus de virgem.
-
Ó conciliante e conciliadora,
ó irradiante e reveladora,
ó cura completa
da palavra na boca
do poeta

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Zeca Afonso...

A tua voz permenece vencedora sobre o tempo, ouvida com agrado pelas novas gerações. Tu sabes bem o que isso significa: qualidade. Sabes também o que sinto neste momento. Viste que fui ao You Tube buscar canções tuas para "postar" ao 25 de Abril. Sabes que desisti. Eu disse-te o meu pensamento: não faltarão blogues com a tua voz. Toda a gente pensa em ti, ou em outros. Mas, desculpa, não te quero transformar num ritual, numa moda. Tu nunca gostaste. Não, não vou pôr música. Esta noite, não. Tu sorris, como sorrias antes, aquele sorriso tímido- insinuante. Prefiro dizer-te que foram muitas noites em que te ouvi, quando isso era proibido. Ouvir-te a ti, ou ao Adriano, e sempre de atalaia, não aparecesse alguém intruso. Nas crises académicas, em Lisboa, quando dormimos na própria universidade, cercada pela polícia, para além dos debates, era a tua voz que ouvíamos, a do Fausto, e a de outros. Uma noite, no Instituto Superior Técnico, quando saimos, levámos muita porrada dos gorilas. Tu sabes como eram aqueles tempos. A música era uma arma. Eu próprio cantei as tuas canções nas associações operárias. As tuas e as do Patxi . Éramos muitos. Éramos muitos a sonhar. Nunca mais te esqueci. Fui ao teu último espectáculo no Coliseu, em Lisboa, estavas tu já muito doente. Depois as coisas precipitaram-se. Tu partiste. Não viste outras coisas. Que não interessam que sejam ditas. O importante é que saibas que te conheci, que nunca te traí, que te amo e que te lembro para sempre...
Eduardo Aleixo

quinta-feira, 23 de abril de 2009

luminosas pombas

palavras certas e calmas
que não enganem
palavras aladas
luminosas pombas
filhas das estrelas
irmãs dos caminhos
iluminai-me as sombras
Eduardo Aleixo

quarta-feira, 22 de abril de 2009

DIA DA TERRA

( Obrigado, Clo, - http://textos-e-pretextos.blogspot.com ) por mo teres lembrado )
Como escrever-te um poema, Mãe-Terra, sem dizer-te: - Amo-te, e perdoa-nos? Um beijinho.

terça-feira, 21 de abril de 2009

MAIS ABRIL

- Trova do mês de Abril
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia.
---
Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida ( foram vidas ). Foi a História ( foram histórias )
mil encontros despedidas. Foram vidas( foi a vida )
por um só dia vivida.
---
Foi o tempo que passava como se nunca passasse.
E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse
toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia
na esperança de um só dia.
---
Musa minha vem dizer o que nunca então se disse
esse morrer de viver por um dia em que se visse
um só dia e então morrer. Musa minha que tecias
um só dia dos teus dias.
---
Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram
musa minha onde contemplo os dias que se passaram
sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria
a vida por um sóm dia.
---
Já muitas águas correram já muitos rios secaram
batalhas que se perderam batalhas que se ganharam
Só os dias não morreram em que era tão curta a vida
por um só dia vivida.
---
E as quatro estações rolaram com seus ritmos e seus ritos.
Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos.
E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia
toda a vida por um dia.
---
Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas
a canção que se vestia com bandeiras nas palavras:
Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida
por um só dia vivida.
( Manuel Alegre )

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ABRIL DE SIM ABRIL DE NÃO

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
--
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo mais contradição.
--
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
--
Abril de Abril vestido ( Abril tão verde )
Abril de Abril despido ( Abril que dói )
Abril Já feito. E ainda por fazer.
Manuel Alegre

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Convidado do mês de Abril: Alves Redol

Livro: Uma Fenda na Muralha
«Precisamos de navegar, ainda bem que o Tó vai a tomar conta do motor, não posso deixar que as vagas se desfaçam em riba da popa, isso seria o fim, e também não é bom fugir depressa à frente das ondas avagalhoadas que correm sempre aos galões, umas escondem as outras, e cada uma traz a sua manha, e nunca se sabe a que vem com a morte dentro; num mar assim a morte vem sempre dentro de cada onda;

é uma luta danada, de vida ou de morte, DEUS NOS ACUDA!, um homem parece ter olhos à volta da cabeça e nas mãos e em todo o corpo, mas a morte tem mais olhos ainda, vê tudo, CORTA-LHE A FORÇA AGORA, TÓ!, CORTA-LHE A FORÇA!, e está à espreita que eu abrande ou me distraia, um só instante, para atirar o golpe fatal, já a conheço, já não é a primeira vez que a morte me espera nas veredas do Mar, que o digam estas rugas e estes cabelos brancos;

começo a estar velho, velho, triste coisa é ficar velho, embora os nervos sejam de aço, rijos como aço, mas até o aço estende, estende, e um dia quebra, talvez quebre duma vez por ser tão rijo;
as mãos parecem firmes no leme, bem as sinto agarradas com toda a alma, e começo a recear que assim seja, as coisas com a força toda não acabam bem, no Mar, pelo menos, não pode ser, porque só eu sei o que é preciso vencer e pisar dentro de mim para não desatar aqui aos gritos e levantar os braços para terra, a pedir paz ao Mar, e a dizer ao Mar: «Pronto! Acabou-se! Leva-me, foste tu que ganhaste, andaste atrás de mim a vida inteira e agora aqui me tens como queres, acanalhado e sem força, uma coisa qualquer para aqui. Mas acaba depressa com isto, pelo amor de Deus te peço, acaba depressa com a gente, senão atiro-me sozinho à água e deixo-me morrer...É melhor, ó Mar, sim, é melhor morrer agora que esperar que tu te canses de brincar com a gente.»
- Agora não, Joaquim! Agora, não ...É melhor voltar outra vez!
Vencer, pisar e esquecer o medo de raiz que um homem traz da barriga da mãe, e ainda conseguir juntar tamanho gosto pela vida, pelas coisas boas e ruins que a vida dá, de maneira que um homem parece mais seguro aqui, mais firme aqui do que quando está deitado na areia ou a falar com os camaradas em raparigas e em peixes; a vida é uma coisa tão arrenegada e tão prometida, que o Mar nem sempre pode com um homem, quando no mundo não há nada mais forte do que o Mar,
nada mais forte a não ser um homem,
um homem que parece menos do que um alcatraz; um alcatraz tem asas e abala, e um homem fica ali amarrado com o Mar nos olhos, na boca, no coração, no sangue, e mesmo assim, desgraçado de todo, um homem volta só com o seu gosto de viver, e com o que aprendeu com os mais velhos, e com o próprio Mar, que é a mulher mais safada, mais reles...
e mais honrada, carago!
e mais honrada que um homem do mar pode conhecer.
- Mais devagarzinho, Tó! Mais devagarzinho!
Vai por aí fora, outra vez direito à ondulação donde veio. Precisa de voltar ainda atrás, duas e três vezes, para apalpar o Mar todo naquele sítio, o pior é que a luz do dia está mesmo a morrer, e agente morre aqui mesmo, coisa desgraçada!, senti-lo bem, palmo a palmo, não deixando fugir um único sinal, de maneira a descobrir a traição das ondas que o não largam.
- Eia, que grande vagalhão! - grita o Tó.
- Deixa-o ir. E que vá pró Inferno!
As ondas parecem a sombra do bote, sombras a toda a volta, e a pior é a que já tenho nos olhos, e a gente pequenos, tão pequenos, aqui esquecidos de tudo, e aqui lembrados de tudo, à espera de um milagre, embora o Tó diga que é na mão da gente que está a vida;
uma vontade danada de fugir e voltar sempre, vir aqui ao mesmo sítio, e a morte ali mesmo, à espera; apalpar tudo bem, porque o milagre só se dará se eu souber meter o bote neste inferno e enfiar pelo meio duma fenda que se pode abrir agora ou mais daqui a bocadinho.
As raivas babosas e desencontradas golpeiam-lhe os flancos da lancha como machados agudos.
- Meu rico botezinho!
E nem uma trégua, um momento de calmaria para a gente ganhar alma, não vejo o Manel, o Zé está mesmo entre o Corrucho e o Barrasquinho, o Álvaro agarrou-se ao bico da proa, e vai a levar porrada que nem eu sei como se aguenta.
- Mete agora o motor a meia força!
- Já está!
- Eu não oiço!
- Mas está! Importe-se lá com o leme. A gente já podia estar em terra.
- Vais com medo?
- Vou, sim, e depois? Vossemecê não tem? Olha! pois não que não tem!...
Sim, é um medo danado, que ninguém o sonhe, o Tó é capaz de perceber tudo, se calhar já podíamos estar em terra, onde tenho agora os olhos, que já ia atravessando o bote? Mas saber que estou vivo, ainda vivo, e os outros também, é uma bazófia maior do que o Mar. Não sei porquê, apetecia-me agora beber uma litrada de vinho, bebia-o duma vez, e outra logo a seguir, e então acabava-se tudo; sei lá se não é melhor passar o leme ao Tó, que esse já eu sei que tem sorte para uma companha inteira.

- Ah Tó! Ajuda-me aqui!

O filho não o ouviu. Pôs-se a limpar as mãos ao desperdício e o velho já sabe o que esse movimento quer dizer quando o Mar aperta.
- Ah meu pai! Experimente agora! Se fosse a si, experimentava agora...
-Lá vou..
- A noite caiu já em cima da gente.
- Ajuda-me aqui!
- Hã?...
- Hã, gaita!
Este gajo quer que eu diga em voz alta para me ajudar, e isso custa-me, não quero que mais minguem oiça que me faltam os olhos. É sinal de que estou velho e que não estou velho só para o Mar. E isso é pior ainda. Pior, não, mas essa é uma coisa danada. Não, não posso ficar mais à espera, já perdi muito tempo, trago aqui sete vidas e o bote, que é o pão de todos e ainda o há-de ser doutros; um bote que é uma espada, e logo uma rabiosa assim no primeiro dia de Mar, nunca nenhum barco novo teve um noivado destes, é mesmo azar, é mesmo um filho da mãe dum azar que anda agora comigo. Lá à proa eles vão cheios de medo: se pudesse, embebedava-os...

- Ah Tô! Tô! Vê se ouves bem! Dá a essa gente o resto da garrafa de aguardente! - E acrescenta em voz baixa: «Morram todos bêbedos, ao menos. Não custa tanto...»

Apetece-lhe chorar mais, chorar nunca ninguém o viu, mas agora precisa de abrir a água dos olhos, senão as veias rebentam-lhe.

Hei-de também chorar em terra, sozinho, se a gente chegar a terra, hei-de esfregar os olhos na areia para que fique cego duma vez.

- Ah Mar!... - diz aquilo e levanta-se de mão erguida.

Uma onda enrola-o, não sabe bem se os pés estão firmes, ou se já baldeou, mas a mão continua agarrada ao leme, agora já vê a proa, estarão todos?, e depois põe-se a contar os camaradas.

- Eles não querem beber, pai!

- Então, bebe tu.

- Não preciso.

- Dá cá a garrafa.

- Pra si, não. Vossemecê vai ao leme...

O Tó joga a garrafa às ondas e aproxima-se do velho, oferecendo-lhe a cara para que lhe bata. Zé Diabo Negro sorri num esgar, quer fazer-lhe uma carícia, mas atira-lhe uma bofetada, que é o carinho maior de que se sente capaz.

- Vem para aqui e ajuda-me. Já não tenho olhos...

- Nem eu, pai. Mas os dois juntos somos capazes.

- Já perdemos muito tempo. E lixámos o Joaquim. Fui eu que o lixei.

Acena a cabeça - sabe lá o que mais deve dizer.

Esperar mais um bocadinho, só mais um bocadinho, a morte está à espera ali mesmo, ah coisa danada!, e não me deixar vergar por outra vaga como aquela que me quis levar, por muita gana que traga, porque ao cabo de tudo sempre se acaba por encontrar uma fenda na muralha, basta agarrar bem o medo e atirá-lo com força para os pés, já que não se pode jogá-lo para o Mar.

- Isto é um inferno, não é o Mar! - cicia para o Tó.

O Gaivota anda também a seguir-me a rota, da borda talvez saiba mais do que eu, sempre foi pescador da xávega muito tempo, e ninguém conhece melhor a borda do que os arrais dessa arte. Ele está a emproar a terra, talvez vá agora, sim, é agora, Deus me ajude! A Senhora da Nazaré me ajude, vamos lá agora que já não é sem tempo.

- Vamos lá com Deus! - clama o velho com a voz quebrada. Que a virgem da Nazaré ajude e veja a gente todos!

A companha tem agora os olhos postos no areal. Adivinham o rumorejar da gente, o que estão a fazer para os salvar; aqueles instantes parecem não ter fim.

O Tó segura bem o leme, o velho percebe-o. Ainda deixa a sua mão, quase mal lhe toca, mas afrouxa-a; sentiu uma tontura O que será isto?

- Vamos prá vida ou prá morte, rapazes! Agarrem-se bem!... - brama o filho.

Ele ouve-o, quer ainda reagir, mas depois quebra-se.

- Queres que vá tomar conta do motor?

- Não, fique aqui comigo. O pai é que é o arrais. Diga lá mais qualquer coisa aos homens.

Zé Diabo Negro empertiga-se no banco e grita:

- Vamos agora pra terra! E vamos chegar, rapazes! Eu cegue se não vamos chegar em bem!

A proa endireita, começando a romper o capelo das ondas que se agarram aos flancos do bote.

( Uma Fenda na Muralha - de Alves Redol )

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Conquista

- Poema, de Miguel Torga
- Foto, da autoria de Maria Pedrógão ( http://casademaio.blogspot.com/ ) , a quem agradeço, com muita amizade, a cedência gentil da sua linda foto ( tirada na Serra da Estrela: amanhecer na encosta da Torre.)
De que abismos irrompe a madrugada
E, feliz, amanhece!
Favorita velada
Do loiro sol que a aquece
Do seu alto passeio,
Vem da noite orvalhada
E rasga o manto onde escondia o seio.
-----
E o seu corpo presente
Brota como as ervilhas nos canteiros.
Alvo de amor, contente,
Dá flores, dá frutos, sente,
E cantam-lhe aves nos pendões cimeiros.
-----
Alegria é o seu nome verdadeiro.
Frescura a sua imagem natural.
Lutou pelo caminho traiçoeiro,
Quase um sapo a comeu num lodaçal.
Mas o dia rompeu,
E o mundo, agora, é luminoso e seu!
( Miguel Torga )

segunda-feira, 13 de abril de 2009

De S. Tomé e Príncipe

O vento ouve
O vento ouve-se forte a bater nas cortinas da casa – Incessante, Ruidoso – Um trovão desaba com estrondo mesmo em cima dos homens – E A terra treme por instantes. Gota de água num oceano infinito, Sementes de memórias de um tempo que já foi tempo De um vácuo de aspirações, medos e paixões. E chega em silêncio o murmúrio da chuva. Nada mais para além disso. Só nós. Esse grande universo por descobrir. Boa semana para todos, Bjs Rita

Poema de Lao-Tzu

O sábio não tem uma ideia fixa;
tem consciência das necessidades dos outros.
..
Aos que são bons, trata-os com bondade.
Aos que são maus, trata-os também com
bondade,
porque a natureza do seu ser é boa.
--
É amável com os amáveis.
É também amável com os rudes,
porque a natureza do seu ser é a amabilidade.
--
É fiel aos fiéis;
é também fiel aos infiéis.
O sábio vive em harmonia com tudo sob o céu.
Vê todas as coisas como a si mesmo;
ama todos como seus filhos.
--
Todas as coisas são atraídas a ele.
Comporta-se como uma criança pequena.
( Poema de Lao-Tzu - livro Tao Te Ching )
- A Sabedoria do Tao no século XXI
( Foto, minha )

domingo, 12 de abril de 2009

Santa Páscoa para todos

Postagem partilhada com a Lucy ( http://lucy-natureza.blogspot.com/ ) a quem agradeço a amizade e a cedência das lindas fotos.
Jesus ressuscitou.
Aleluia.

( Fotos de Lucília Ramos )

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Rainer Maria Rilke

1
Chamais vós alma ao que tão frouxamente
vibra em vós? O que, como o soar dos cascavéis dos loucos,
pede aplauso e corteja dignidades
e finalmente, pobre, morre uma morte pobre
na tarde incensada de capelas góticas, -
- chamais a isso alma?
-----
Quando olho a noite azul, pelo Maio nevada,
em que os mundos giram longas vias,
então me parece que trago em mim um pedaço
de eternidade no peito. Agita-se, e grita,
e quer subir e quer girar com eles...
E isso é que é alma...
2
Não esperes até que Deus venha a ti
e diga: Sou.
Um deus que confessa a sua força
não tem sentido.
Hás-de saber que o sopro de Deus te invade
desde o princípio,
e quando o coração te arde e nada trai,
é ele então que em ti cria.
( Rainer Maria Rilke )

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O significado das raízes!

Só os cerros recortados contra o céu parecem os mesmos da minha infância!
Já as águas do rio, no vale, não são transparentes como eram. Há peixes que desapareceram e não sobem nas águas de Março. Nos postigos fechados da vila antiga, alcandorada na encosta íngreme, assoma o rosto do silêncio. O que vejo, mas não conheço, são os filhos e netos da minha geração de amigos, alguns já mortos. O que significa que o tempo foi correndo, a poluição conspurcou as águas e fui envelhecendo.
Hoje, sou um estrangeiro no cenário em que fui como actor um sonhador dinâmico, mas onde sinto que só as raízes das árvores escutam o meu canto! Olho para elas com outros olhos e compreendo melhor o significado das raízes!
Eduardo Aleixo
( Foto do autor )
Mértola, 6/4/2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

O meu dia-a-dia...

( Crónica de S. Tomé e Príncipe ) Há dias desesperantes. A minha empregada de limpeza, se é que lhe posso chamar assim, só vai duas manhãs por semana. Limpeza, pouca faz, já ter a roupa passada e a loiça lavada ás vezes é pedir muito…Na outra manhã, estava eu em casa doente, mas a trabalhar no computador (ela entrou eram 7.30h e eram na altura 9h), e veio toda sorridente perguntar-me se eu precisava de mais alguma coisa. Olhei para ela atónita, e para o monte de roupa para passar ao meu lado e a casa para limpar…E fiz-lhe uma lista de coisas que havia para fazer. Porque não o tinha feito? Resposta sorridente… “estou com preguiça, Rita!”. E vai que o meu resto de dia foi todo assim. Discuti com o senhor da gráfica que está a produzir uns folhetos para nós, porque duas imagens não saíram e ele recusou-se a aceitar que a culpa era da gráfica. Porquê? Porque nos nossos computadores a imagem aparece e nos deles não, resultado: versões de software diferentes que o irresponsabilizam de qualquer dano. Que aconteceu mais? Bom, tanta coisa…Tenho uma equipa com quem tenho que trabalhar como se lidasse com crianças. E não estou a brincar! É impossível trabalhar com a exigência ocidental neste contexto. E há dias em que isso é desesperante. Desculpem a minha falta nas crónicas, mas a minha inspiração e disponibilidade anda diminuta com o dia-a-dia santomense! Ainda assim, beijos e saudades Rita

segunda-feira, 6 de abril de 2009

palavras...

palavras gravadas na pedra e oferecidas ao vento do amor, palavras com cheiro de pele, de sangue, de suor, de dor, de riso e de esperança, embrulhadas como prendas e levadas no bico dos pássaros, palavras leves,beijos de água, que servem para lavar as mágoas, palavras aladas, luminosas, musicais, que se reportam ao percurso da alma... Eduardo Aleixo 5/4/2009

sábado, 4 de abril de 2009

Boa semana

Poema

Música no silêncio antiquíssimo da noite!

Eterno o silêncio, eterna a música

que sempre existiram no universo,

nas águas e no vento!

Aqueles que a escutaram antes dos outros

foram os que nasceram compositores!...

Ouço-os no silêncio da noite

cada vez mais atento

quanto cansado estou dos ruídos periféricos

da vida. Da vida que corre sublime

e pura como as águas limpas que se ouvem correr

livres nas montanhas.

Música pura, é o silêncio. Que fala.

E quando fala e eu a escuto,

respiro, pairo, danço, voo

e entro no universo infinito do meu corpo

que se transforma sem dar por isso num oásis de conforto!...

Eduardo Aleixo

quinta-feira, 2 de abril de 2009

É mais um dia que começa

Há frescura no rosto da manhã.
Há muita luz no azul do céu
e no verde da terra
onde poiso os pés.
Há o cantar dos pássaros.
Há as flores brancas nos ramos das ameixoeiras.
O meu coração sorri.
O meu cão olha para mim com olhos doces.
É mais um dia que começa.
Mais um poema no livro da vida.
Eduardo Aleixo
Lisboa, 2/4/2009
( Foto do autor )

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A chegada do poema

É uma inesperada ideia, que irrompe do nada!
Um sopro,
um acenar na bruma,
um balancear de folha,
um afagar de brisa,
uma tremura de água,
um trejeito de ombro,
um sussurrar de anca,
um barquinho no olhar...
Não sei explicar!
Batem à porta!
Quem é ?! Vou abrir. É o poema, que entra, a sorrir.... (Foto do autor ) Eduardo Aleixo