A tua voz permenece vencedora sobre o tempo, ouvida com agrado pelas novas gerações. Tu sabes bem o que isso significa: qualidade. Sabes também o que sinto neste momento. Viste que fui ao You Tube buscar canções tuas para "postar" ao 25 de Abril. Sabes que desisti. Eu disse-te o meu pensamento: não faltarão blogues com a tua voz. Toda a gente pensa em ti, ou em outros. Mas, desculpa, não te quero transformar num ritual, numa moda. Tu nunca gostaste. Não, não vou pôr música. Esta noite, não. Tu sorris, como sorrias antes, aquele sorriso tímido- insinuante. Prefiro dizer-te que foram muitas noites em que te ouvi, quando isso era proibido. Ouvir-te a ti, ou ao Adriano, e sempre de atalaia, não aparecesse alguém intruso. Nas crises académicas, em Lisboa, quando dormimos na própria universidade, cercada pela polícia, para além dos debates, era a tua voz que ouvíamos, a do Fausto, e a de outros. Uma noite, no Instituto Superior Técnico, quando saimos, levámos muita porrada dos gorilas. Tu sabes como eram aqueles tempos. A música era uma arma. Eu próprio cantei as tuas canções nas associações operárias. As tuas e as do Patxi . Éramos muitos. Éramos muitos a sonhar. Nunca mais te esqueci. Fui ao teu último espectáculo no Coliseu, em Lisboa, estavas tu já muito doente. Depois as coisas precipitaram-se. Tu partiste. Não viste outras coisas. Que não interessam que sejam ditas. O importante é que saibas que te conheci, que nunca te traí, que te amo e que te lembro para sempre...
Eduardo Aleixo
28 comentários:
Eduardo:)) Acabei agora mesmo de postar as minhas memórias de Abril.
Que os nossos registos sejam lidos, principalmente pelos mais jovens, e que os mais velhos não esqueçam o que já passaram.
A memória pode ser tão curta.
Liberdade, amigo!
Liberdade, Sempre!
Um beijo e um cravo!
Clo
Liberdade, em primeiro lugar. A gente sabe.
Um beijo e um cravo e uma rosa e uma hortênsia e um lírio e um jarro e...
Até amanhã.
Gostei desta carta ao Zeca.
Muitos de nós temos uma estória, ou várias, com o Zeca.
Não me digas que no dia da porrada no Técnico também fugiste Av. de Roma acima e entraste na igreja de s.joão de deus...
:)))
Beijo, e um cravo Vermelho!
Maria
Se calhar, Maria. Avenida de Roma, foi de certeza. Da Igreja, não me lembro. Talvez tenha fugido Alameda abaixo. Mas foram muitas, as vezes. A nossza vida... Beijo. Cravo vermelho.
Eduardo
As minhas palavras são escassas para comentar esta missiva. Se me permites vou levá-la para as minhas filhas lerem, já que a mãe, apesar de também ter muito para lhes transmitir acerca das suas vivências nos movimentos estudantis, associativos pós 25 Abril, não tem esta estória de emoção, de saudade de boa memória, exposta nesta prosa poética que me comoveu!
Também estive no Coliseu nesse dia!!!
Um beijo maior
E um cravo vermelho!
Eduardo. As memórias do antes? para mim foram algumas,desde fugir de um lado onde estavamos na altura(café) no bota abaixo,depois já vinha de casa o ensinamento do pai,o Zeca nunca quiz ser um mito,não conheci pessoalmente,o Adriano sim,onde eles estiverem,continuarão a ouvir as histórias de Abril,mas se calhar mais nos da nossa geração.
Fica bem por Abril sempre,até partir.
Beijinho bfs
Pois é, Zeca Afonso, um arauto da Liberdade, ele e tantos outros, neste país então escondido por políticos monocórdicos, de uma só voz permitida, a deles, e por eles amordaçado, e por eles aprisionado, e por eles proibido de ser denunciado, este país então de obscurantismo, de miséria, de trabalho ainda de escravo, de pobres sempre pobres e ricos sempre ricos, de pântano social e de tirania política, de não abertura a estudos, a diálogos, a negociações, enfim um regime político-social de todo fechado, avesso ao progresso, à Liberdade...
E Zeca Afonso foi, sem dúvida, com muitos outros, um afrontador desse pantanismo em que a miopia política de então tinha este país, e foi-o com sua música e suas canções, lançadas primeiro por entre os meios académicos e depois estendidas até ao povo, como armas sonoras e sentimentais, ainda que com algum recato por serem inexoravelmente proibidas, que pouco a pouco acordavam mentes para a luta que teria de vir, como se também fossem sementes prometedoras lançadas no húmus mental de quem se sentia ou viria e sentir disposto a abraçar a referida luta pelo derrube desse obsoleto, opressor e amordaçante regime. E essas sementes viriam realmente a frutificar com o auxílio desses audaciosos Capitães de Abril. Mas, com muita mágoa e igualmente revolta ainda, terá de dizer-se que ABRIL se nublou há muito, ficando grande parte por cumprir, ou, por outras palavras, ABRIL foi subvertido depois de ter brilhado muito em teoria e apenas um pouco na prática, subvertido em favor dos que menos precisavam ou que mais tinham já ou em favor de certas classes sócio-profissionais ou corporativistas, de que se destacam indesmentivelmente os políticos, que foram sempre, ironicamente, desde então, granjeando tão vergonhoso despeito dos eleitores e do povo em geral e com eles afundando o apreço pelas instituições, ficando este país, que deveria ter continuado a ser de ABRIL, tão descredibilizado de Justiça, Saúde, Trabalho, etc.
Mas Zeca Afonso, sem sombra de dúvida, perdura e perdurará, porque os seus objectivos e os de ABRIL não foram cumpridos.
Eduardo, desculpa, mas o comentário grande à postagem de Zeca Afonso, enviado há pouco, é de Mírtilo. Com a pressa até me esqueci de me despedir e de subscrever a minha missiva.
As minhas desculpas e um abraço e até à próxima.
Mírtilo
Ausenda
Estaas no Coliseu! Bem me parecia que eras tu! Pois claro!
Aguilheta
Zeca não gostaa de mitos, não.
Sr Anónimo
Concordo com muita coisa que disse.
Acho que o Zeca também seria da sua opinião. Eu gosto dele porque é puro. Como a sua voz e intenções. Infelizmente e ironicamente, estes seres ficam, quase sempre pelo caminho. E se vivessem, seriam ultrapassados.
Mírtilo
Obrigado. Fica o esclarecimento. Abraço
Eramos muitos a ouvi-lo e a outros, eramos muitos a sonhar e a acreditar na liberdade, mas o sonho desfez-se pelo caminho dos anos.
Precisavamos de um Zeca de novo.
Bjs.
Laide
A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz.
(George Eliot)
Tenha um final de semana com muito carinho.
Um abraço
"Zeca Afonso..."
Eduardo Aleixo
QUE BONITA HOMENAGEM TU FAZ AO GRANDE zeca afonso, SOMENTE UM SER MUITO ESPECIAL PARA DEDICAR UM MOMENTO PRECIOSO COMO ESTE , MEUS CUMPRIMENTOS,
EFIG6ENIA COUTINHO
Gostei de ler esta carta.De memórias e histórias se fazem a vida.Um cravo vermelho com votos de bom fim de semana.
Laide
Sónia
Efigénia
Pico Minha Ilha
Para todos, com muito carinho, um bom fim de semana.
Acabei de chegar de um filme de Abril, daqueles que nunca passaram nos circuitos comerciais: "A Torre Bela" - todo o filme passado no teu Alentejo de 1975 e onde aparece o Zeca Afonso a cantar o "Grândola".
Um homem que deixou saudades, sem dúvida!!!
Abril, sempre!
Beijo,
Lucy
Lucy
Um bom 25 de Abril, com sentimentos de justiça social e de paz e de amor.
Beijo
Muito sentida esat homenagem ao ZECA.
.... Onde está o Abril do Zeca e de tantos outros???
BF
e porque são sei dizer melhor e se soubesse, não saberia dizer assim, digo que,
"Há uma Justiça para ricos e outra para pobres, uma Justiça para famosos e outra para anónimos, como há Saúde e Educação diferentes para ricos e pobres. Cumprir Abril é uma questão de justiça. Já não podemos esperar mais 35 anos".
Paulo Baldaia
_____________________________ para reflexão[...]
Que palavras...
Parabéns!
Beijinho e um cravo para ti:)
Papoila
Seja bem vinda. O Zeca sonhou. O somho chama-nos para o seu cumprimento. Força. Que a vida não pára.
Paulo
Concordo contigo. Temos de contribuir no dia-a-dia para que o sonho se concretize. O rio só parará se as suas águas, nós, secarmos.
Maria P
Obrigado pelo cravo: e como estão as gaivotas no mar? Se as vires diz-lhes que me viste e que estou contente com elas. Elas sabem. Ganharam a guerra da avaliação contra o Ministério do Mar.
Ai Zeca, tão longe e aqui tão perto. Que saudades das noites do Estoril depois das tuas idas a Alcoitão. É gente como tu e o autor desta página que nos ajudam no caminho do "eles comem tudo e não deixam nada". Descansa: ainda não nos comeram os miolos.
Leite de Pedra ( Manuel )
Já falei no seu blogue sobre o achigã. Bom 25 de Abril
Eduardo,
provavelmente o post mais sentido sobre esta data. A propósito de uam carta ao Zeca, dizes mais do que o que escreves!
Também se festeja assim.
Tocante, Eduardo.
òptimo dia para ti.
Bom fimd e semana
Lúcia
O sonho comanda a vida. Sempre 25 de Abril, nas águas turbulentas da História. Bj
Então, ainda não te encheste de ouvir o Zeca? Andas a banhar os pés, mas olha que por cá anda um ventinho bem fresco, até ´tenho dores nos ouvidos.
Hoje, lá vou outra vez assistir a mais um filme de Abril "Natureza Morta", de Susana Sousa Dias, que mostra o que foi a ditadura portuguesa recorrendo a uma perturbante montagem de imagens.
A ver vamos...
Divirta-se 'Chiquinho' nessa liberdade de azul e mar.
Beijinhos aqui da Morgadinha.
Eduardo,
Passei para lhe deixar um ramo de cravos vermelhos com um grande sorriso :)
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