segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Como se fosse um sem abrigo!

Bato a Tantas portas
Do Saber e da Poesia!
Leio Tantos Poemas
Que são espelhos
Onde o rosto com as mãos carentes de
Um afago maior
Do que a amplitude do meu corpo
Se sentem mais firmes
Do que a verdade do que sentem!
Mas termino sempre só
Como mendigo
Ou cão perdido
À porta duma casa abandonada
- a minha casa -,
Onde acordo,
E prostrado,
Envergonhado,
Me sinto,
Como se fosse um sem abrigo!
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Os caminhos do silêncio
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Lx, Nov. 2010
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Foto Net

sábado, 27 de novembro de 2010

O voo da águia

A águia sobe cada vez mais alto,
em seu voo descobre os quatro cantos da Terra.
De súbito, no meio do céu,
quebra-se o voo,
debatem-se suas asas cansadas,
a águia cai.
Mas o vento, agitado pelas asas,
continuará voando para além dos séculos.
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In, POEMAS DE LIBAI
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Nota: este poema data de 745 e foi dedicado a Li Yong ( 678 - 747 ), grande calígrafo, na altura governador de Beihai, na actual províncioa de Shandong.
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Foto Net

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ao entrares no Templo do Amor

Como posso individualizar o amor pleno, eterno, sem tempo, sem limites e sem nome?
Como posso colocar o teu nome no Templo do poema que dissolve todos os nomes na taça pura do amor infinito?
Ao entrares no Templo do Amor o poema que te escreveu apenas te acena indelével comovido por entrares e não o veres, a ele, que te criou, com o cinzel de fogo que o Amor Maior lhe concedeu!
Assim, todos os meus poemas,sem falarem de amor,são de amor, sobre o amor, escritos com amor, mas não incluem o teu nome, amor...
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" Os caminhos do silêncio "
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Foto minha

sábado, 13 de novembro de 2010

Aos amigos verdadeiros

Presenças discretas,
Silenciosas,
Muitas vezes invisíveis,
Cintilantes,
Não parecem calorosas
Nem ardentes,
Mas são certas,
Sóbrias,
Permanentes.
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Muitos de nós só o sabem
Muito tarde!
Poucos o sabem,
Cedo!
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São como estrelas vigilantes
Nos céus das nossas vidas
Tantas vezes distraídas!...
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Seres sublimes,
Luminosos,
Sensíveis,
Tão fortes,
Mas tão frágeis,
Corações que sofrem
E cantam
E rejubilam
Em silêncio...
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Nada nos exigem!
Nada regateiam!
Apenas nos amam...
- São os amigos verdadeiros!...
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In " As palavras são de água "
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Foto Net

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

2 poemas de Isabel Mendes Ferreira

( Foto minha - águas d0 Guadiana em Mértola)

1.

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de água. de muita água. preciso. para improvisar outra ardósia sem estilhaços nem balas nem punhais. onde inscrever outra terra. e ser de novo licor e musgo. insidioso o caminho para a montanha. infiel luar e resgatar falsos poderes. de água. de toda a água. preciso. para cuspir a saliva de um cavalo moribundo. três tiros bastam. para te salvar. frenética criatura d0 sótão da agonia. -------------------- país errante.

sobre a mesa deixo o registo. álgido. em ruínas. errância da água.

( Foto de Lucília Ramos - águas de Vilarinho - http://lucy-natureza.blogspot.com )

sim. como Caeiro. " a única coisa que fazia por si era andar pelos caminhos do mundo, para que os outros, e a chuva e o sol e o vento, lhe dessem encontrões"

-

assim deambulamos desprendidos e dissolutos sobre as escamas.

arranhando a trágica elipse do tédio. preciso de toda a água. para ser faina de cal.e foice---------------------------------------------------------

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----------- e assim legendo um nome . que à mercê das águas é memória.

aguda e opulenta. as coisas vivas primitivas e ardentes irrompem. fulvas de sabedoria.

e

porque a evidência é o contrário do sentimento

des.sinto este país.

em evidente falência. nua. ---------------------- sentida na pele.

-

incompetente círculo. rigoroso destino que hiberna. cansado branco

e cego

vertiginosamente traído.

-

as coisas vivas primitivas e ardentes -------------- ardem. e resistem.

-

e se o " corpo do eu " é entidade que pensa ---------------- que pensa este

país?

imperial curva que se curva à roda dos nulos.

-

2.

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( Foto Net ) aloendro

talvez esmague buganvílias e cerre as pálpebras. talvez encha de

amoras o seio da tarde e finja ser pirata nas tuas mãos. talvez.

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talvez volte de azul ou de noite ou de branco. talvez de abismo

líquido e profundo no retorno das giestas sem flor e dos vales oblí-

quos. talvez dos cheiros da montanha a cavalgar a face oculta da lua

e das areias. talvez a respiração ampla e gráfica das tuas mãos nos

meus ombros.

modulação sensível da neve e das fontes. os teus olhos. talvez volte.

talvez venha de aloendro.

- Isabel Mendes Ferreira, in " As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar "

sábado, 6 de novembro de 2010

E os outros...

O que pensam?
O que sentem?
O que sonham?
O que riem?
O que choram?
O que calam?
O que sofrem?
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Lx, Nov.2010
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" Os caminhos do silêncio "
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Foto Net

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O rosto do vento

Gosto da calma das noites
Após a guerra dos dias,
Mas sinto sempre a grande solidão do mundo
Estampada no rosto do vento
Que conhece os segredos
De todos os caminhos...
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In " As palavras são de água "
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Foto Net