( Foto minha - águas d0 Guadiana em Mértola)
1.
-
de água. de muita água. preciso. para improvisar outra ardósia sem estilhaços nem balas nem punhais. onde inscrever outra terra. e ser de novo licor e musgo. insidioso o caminho para a montanha. infiel luar e resgatar falsos poderes. de água. de toda a água. preciso. para cuspir a saliva de um cavalo moribundo. três tiros bastam. para te salvar. frenética criatura d0 sótão da agonia. -------------------- país errante.
sobre a mesa deixo o registo. álgido. em ruínas. errância da água.
( Foto de Lucília Ramos - águas de Vilarinho - http://lucy-natureza.blogspot.com )
sim. como Caeiro. " a única coisa que fazia por si era andar pelos caminhos do mundo, para que os outros, e a chuva e o sol e o vento, lhe dessem encontrões"
-
assim deambulamos desprendidos e dissolutos sobre as escamas.
arranhando a trágica elipse do tédio. preciso de toda a água. para ser faina de cal.e foice---------------------------------------------------------
-
----------- e assim legendo um nome . que à mercê das águas é memória.
aguda e opulenta. as coisas vivas primitivas e ardentes irrompem. fulvas de sabedoria.
e
porque a evidência é o contrário do sentimento
des.sinto este país.
em evidente falência. nua. ---------------------- sentida na pele.
-
incompetente círculo. rigoroso destino que hiberna. cansado branco
e cego
vertiginosamente traído.
-
as coisas vivas primitivas e ardentes -------------- ardem. e resistem.
-
e se o " corpo do eu " é entidade que pensa ---------------- que pensa este
país?
imperial curva que se curva à roda dos nulos.
-
2.
-
( Foto Net ) aloendro
talvez esmague buganvílias e cerre as pálpebras. talvez encha de
amoras o seio da tarde e finja ser pirata nas tuas mãos. talvez.
-
talvez volte de azul ou de noite ou de branco. talvez de abismo
líquido e profundo no retorno das giestas sem flor e dos vales oblí-
quos. talvez dos cheiros da montanha a cavalgar a face oculta da lua
e das areias. talvez a respiração ampla e gráfica das tuas mãos nos
meus ombros.
modulação sensível da neve e das fontes. os teus olhos. talvez volte.
talvez venha de aloendro.
- Isabel Mendes Ferreira, in " As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar "
11 comentários:
honradaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!
muito.
obrigada. Edu.
A poesia da Isabel é tão torrencial que me deixa sem as palavras certas para falar dela. É muito bela.E estes poemas, em especial, deixaram-me com a sede da sede...
Um beijo para a Isabel.
Um beijo para si, meu amigo.
Concordo, Graça.
Poema forte, muito sentido.
"Que montanhas de água possam desfazer todos estes vales de amargura portuguesa... para que não andemos mais aqui aos 'encontrões'...!"
Um abraço aos dois poetas.
Lindos os poemas...Enchem a brisa que nos aconchega de beleza.
A musica um encanto
Mas..........As palavras são de àgua, sem dúvida...Preferências minhas.....
Que tenhas uma boa noite de S. Martinho
jitos da gota
Só uma palavra para os poemas e fotos:
Sublime!
Nota: O silêncio vale ouro! Vou reler com prazer...
bjs aos dois
a escrita da Isabel é uma torrente de palavras que brotam dos seus dedos como a água das nascentes...e sobre a a´gua que ela gosta de divagar....
uma boa escolha para homenagear uma grande Senhora ...
deixo um beijo aos dois
Pi
Meu querido Eduardo
Simplesmente maravilhoso, adorei ler.
Beijinhos
Sonhadora
E as palavras estão molhadas
pela água em rosto de amizade
e só posso deixar um louvor
pela tua sensibilidade
e pela poesia da Isabel
que talha as palavras
com cinzel
de água e papel...
beijinhos de carinho Eduardo e tem um bom fim-de-semana
Bom fim-de-semana, Eduardo.
Beijinhos*
Obrigado pela vossa presença amiga. Bom fim de semana.
Postar um comentário