1.
Humildade ( 1954 )
Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
-
Amigos entre deuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.
-
E os pássaros detrás de grades de chuva,
e os mortos em redoma de cânfora.
-
( E uma canção tão bela! )
-
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê.
2.
Exercício ( 1955 )
Ciência, amor, sabedoria,
tudo jaz muito longe, sempre
- imensamente fora do nosso alcance.
-
Desmancha-se o átomo,
domina-se a lágrima,
já se podem vencer abismos
- cai-se, porém, logo de bruços e de olhos fechados,
e é-se um pequeno segredo
sobre um grande segredo.
-
Tristes ainda seremos por muito tempo,
embora de uma nobre tristeza,
nós, os que o sol e a lua
todos os dias encontram
no espelho do silêncio reflectidos,
neste longo exercício de alma.
( Cecília Meireles, in " Antologia Poética " )
8 comentários:
Belíssimos!! Humildade (1954) o ano em que nasci...muitos beijos.
Amigo Eduardo desejo para si e família um Feliz Ano de 2009 cheio de muita paz, amor, saúde e muita alegria.Boas entradas em 2009.Beijinhos
Cecília Meireles escrevia magistralmente. Não tenho palavras para a comentar, apenas para te agradecer as palavras dela.
Beijinho
Querido Eduardo, belíssimos poemas... De uma ternura estrema... Que me fez pensar, que ainda existem pessoas com um coração lindo... Um abraço de carinho e ternura,
Fernandinha
A poesia de Cecília Meireles é sempre um bálsamo para a alma. Obrigada. Que o Novo Ano venha melhor, com a realização de todos os seus sonhos. Um beijo.
Muito boa escolha a tua
que o ano que se aproxima te traga tudo de bom
beijinhos
Uma beleza a poesia de Cecília Meireles.
Cadinho RoCo
Cecilia Meireles uma poetiza de sempre...!
Sempre que a leio, fico inquieta e... quieta!
FELIZ ANO NOVO para ti, amigo (já és um amigo)
Um beijo
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