Temos uma família desfeita na terra:
( Ó ternos corações, ó fechados olhos onde costumávamos
habitar! )
mas dessa não temos notícia:
e o nosso amor é uma rosa sobre muros de sombra.
--
Temos uma família muito distante,
em aposentos que não vemos, em países que jamais iremos
visitar!
Dessa temos notícias, eventualmente:
mas o nosso amor é uma rosa que murcha incomunicável.
--
Temos uma família próxima, algumas vezes,
que se move, e nos fala, e nos vê,
mas entre nós pode não haver notícias:
e o nosso amor é um muro sem rosas.
--
Temos muitas famílias, havidas e sonhadas.
São as nuvens do céu que levamos sobre a alma,
as espumas do mar que vamos pisando.
Nós, porém, continuamos viajantes solitários:
e a rosa que levamos no coração, comovida,
também se desfolha.
--
( Ou pode ser que, afinal, a rosa seja unânime
e eterna
em sobre-humana família. )
( Cecília Meireles - 1961 - in "Antologia Poética" )
5 comentários:
Querido Eduardo, Cecília é sempre a grande Cecília Meireles... S U B L I M E ... Amigo!... Um grande abraço de carinho e ternura,
Fernandinha
O que é importante é regar a rosa, todos os dias... nem de mais, nem de menos, a água certa!
Beijo
Um belíssimo poema da Cecília Meireles. Obrigada pela partilha. Beijos.
e a família tem muitas rosas, as rosas têm muitos espinhos... cada um leva no coração parte da família, depois da última viagem...
eduardo, meu amigo, não tenho o selo "I love your blog" no meu can´tinho, porque não sei fazer essas "habilidades" de transportar esses prémios...
agradeço do coração, simplesmente
continuação de festas felizes
beijinhos
Gosto muito da Cecília, mas este poema não conhecia... - que incultura!(?)
Mas...
comunicando, entendendo, sentindo, acompanhando, estamos nós aqui, os dois e mais uns tantos que se nos juntam. Não é Eduardo?
Pertencemos á família Universal.Quer melhor?
Essa que realmente nos percebe, nos acalenta, nos aconselha, nos faz recuar algumas
vezes, nos situa em pólos opostos, para que saibamos depois como nos atraír para a mesma via...isso é que é família! Não a que pertencemos por uma questão meramente biológica, a fim de sabermos por onde começar a evoluir - qual espelho que nos é reflectido.
Mas a partir do momento em que tudo se esgotou, devemos virar-nos para os que e nós precisam realmente! Aí sim, somos de facto úteis!
portanto....que as rosas nunca murchem, porque:
eu estou aqui e...
digo PRESENTE!
Olá família!
Com carinho
Mariz
(está aqui a resposta ao seu mail)
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