segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Outono, chegaste...

Já o sabia ! : as árvores já mo tinham dito, e o vento, lembrado! Já o sabia pelo escorregar dolente do sangue nas ânsias do meu corpo, pelo roçar lasso e ronronante com que as palavras se deleitavam no colo quente do poema, pela vontade silenciosa de imitar as árvores, ficando como elas languidamente recolhido, mesmo face ao desejo: um torpor, um adormecimento, uma aceitação de placidez, uma preferência suave e leitosa pela criança em detrimento do ser amante, fogoso...
Vem, Outono! Preciso de outras cores que tu trazes, e me acalmam, e me harmonizam com o universo. Dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio. Dá-me a suavidade que se respira nas tardes breves, a moderação e a sapiência que fornecem a energia às árvores para as tempestades do inverno, a maturação da uva que fica à espera da hora adequada para o vinho ser bebido em copos merecidos...
Preciso da tua concha, Outono! Não é hibernação, não! É o ritual adequado ao ritmo d0 meu corpo humanamente grandioso, como se fosse - e é - divinamente consagrado...É o regresso anual às nascentes do ser, ao tempo da criatividade maior, em que mais novo sou, seja qual for a idade que tiver, porque me aproximo do momento em que nasci, em que vou rever a minha estrela, encher-me da seiva do universo de onde vim: esperma de amor, baba de orvalho, carícias de átomos e de tudo o que é germinação latente no ventre da terra.
Assim me fazes renascer, Outono, e me preparas para o inverno, para todos os Invernos, violentos, sim, mas belos, e eu fico munido então, com as armas do amor pleno...
-
In, "Os caminhos do silêncio" - Foto Net

24 comentários:

Paulo Francisco disse...

Gostei muito! E aqui Primavera.

vieira calado disse...

O que é pior

é também ir chegando

o outro outono...

Forte abraço

Graça Pires disse...

"Vem, Outono! Preciso de outras cores que tu trazes, e me acalmam, e me harmonizam com o universo. Dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio". Lindíssimo, Eduardo!
Também gosto do outono, quando os dias ganham o tom do mel.
Um beijo.

helia disse...

Uma linda Foto e um belíssimo texto sobre o Outono! Eu gosto do Outono, mas gosto mais da Primavera.

Anônimo disse...

Sabes também "me aproximo do momento em que nasci", só que não sei escrever como tu.
Gostei muito
Bjs.
Laide

gaivota disse...

outonos... da vdia e dos tempos!
pois é, amigo!
beijinhos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

TINHAS RAZÃO EDUARDO... ADOREI O TEXTO... ESTÁ SUBLIME...UMA BOA NOITE E MUITOS BEIJINHOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

Maria P. disse...

E como eu gosto do Outono!:)

Beijinho*

Manuela ramos Cunha disse...

Não há dúvida Eduardo que a mudança para o Outono, em que as folhas caem e nós também.

Problemas emocionais que precisamos colorir para não cair no desinteresse por tão bela VIDA!

Serão precisas então, todas as armas de amor pleno!Concordo contigo.

Já reparei que és mais um amante inconfundível do futebol, como a maioria dos homens que se "prezam"! Certa ou errada?

Beijo Nela

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um belo texto a anunciar o outono, que o autor hoje nos dá a partilhar.

achei-o muito bonito, poetico e sereno.

um beij

gota de vidro disse...

O Outono consagrado às cores empalidecidas , onde na paleta escorrem as tintas esmaecidas e avermelhadas da época.

Lindo o texto

Bom fim de semana

bjito da gota

utopia das palavras disse...

A estação da nostalgia, da folhagem rubia e quente...tempo de poesia!

Excelente texto, poético, introspectivo...bonito!

Beijo

Morgada disse...

Edu,
Bela melodia outonal! Gostei da tua nostalgia, da concha que te espera para te aconchegar.

Também gosto de conchas, de árvores amareladas, do ouro que a natureza nos presenteia e, até do 'ventoinho' que corre e nos depena as folhas, deixando-nos desarmados e nus. Só assim saberemos quem somos! Que venha então o Inverno!"

Aníbal Duarte Raposo disse...

Caro Eduardo,

Esta estação nostálgica funciona sempre como musa inspiradora.

Forte abraço

Unknown disse...

Olá Eduardo,

Sem querer mudaste a minha visão sobre esta Estação. Via o Outono como um aborrecimento, mais roupas, as primeiras constipações...alergias... as preocupações, porque a seguir vem o Inverno. O tempo a ficar cinzento...enfim!
Apresentas, aqui, um texto belo acerca do Outono que me deixou encantada... afinal há factores positivos no Outono! Por vezes andamos demasiados sofocados com pré - ocuações que não nos deixam apreciar belezas!
Hoje deixo-te agradecimentos pelo teu texto me ter aberto o meu leque de horizontes...

abraço outonal
amigo blogueiro

tulipa disse...

Discretamente fui
e visitei
o sotavento
mar
ria formosa
ilha de tavira
barco
passeios pela cidade
ruas estreitas
à noite, o luar
na varanda
espreitava
janelas abertas
ao luar...

Obrigado pela tua simpática visita.

Abraços outonais.
Bom fim de semana.

Anônimo disse...

Eduardo,
na frieza metálica da vida quotidiana é bom saber que existe entre nós quem com tanta profundidade, com tão grandiosas e simples palavras consiga transmitir o que de mais simples lhe vai na alma.

Filipa Robalo

Unknown disse...

Para Laide

Para Filipa

- Grato vos fico. Abraços

Manuela ramos Cunha disse...

Noos meus tempos de escola, achava o Outono o fima da picada! Era o fim do verão, e, lá ía eu começar a escola - que castigo!!!-

Agora, a todas as estações eu admiro, porque me encantam as mudanças vindas do céu - aquilo que nenhum homem controla! -

Este verão, para mim, foi muito pequenino, quase não dei por ela, mas, o Outono está a saber-me bem (até já pus edredom na cama - que delícia!) voltar ao meu aconchego da casa, do leito, dos dias mais pequenos (é que gosto de tudo muito rápido, para não pensar muito) e, à noite refugio-me e penso: tudo é preciso: despede-se uma estação e aí vem outra com os seus mistérios para futuro!

Mas enquaqnto o frio não vem a valer, eu ainda penso que estou com um pé no Verão e outro no Outono, e, esta sintonia dançante, faz-me bem. Adoro dançar! A sério!

E neste vai e vem te mando um abraço outonal...
Nela

Clotilde S. disse...

Tu, Escorpião, tens o Outono das águas submersas, dos rios subterrâneos que levam ao mar, a paixão e as emoções profundas pelos grandes mistérios da vida e da morte.Tens as Palavras e o Silêncio.
Eu, Sagitário, mas ainda filha do Outono, sou o vulcão, o fogo que aquece a terra fria, sou a folha que cai, que voa alto e desaparece por momento ..Sou a árvore que se despe para se voltar a vestir.O cavalo selvagem que corre pela planície dourada, mas que se deixa acariciar por quem lhe sabe sussurrar ao ouvido.
Amei o teu "Outono" !

Beijos com a serenidade deste final de Verão,

Clo

GarçaReal disse...

Realmente O Outono vai buscar as cores pastel, desmaiadas do caír da folha, que o vento arrasta e trás as primeiras chuvas.
Para mim é estação de nostalgia, em que a alma entristece com a falta do brilho belo do sol quente de Verão.

Mas belo é o teu texto,acompanhado do caír da folha....

Com amizade

Bjgrande do Lago

Parapeito disse...

Eu gosto muito do Outono...e gostei desta paleta de cores que sao as suas palavras
Que nos fique nos olhos o dourado dos dias de Outono
brisas mansas**

Unknown disse...

Tão bom relê-lo... lindo... o outono assim...

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Eduardo

O Outono como tu o descreveste, parece um dia da mais bela Primavera...a sensibilidade à for da pele.

Deixo um beijinho
Rosa