quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

VI

Vi a velhice
vi a solidão
vi os olhos teus rirem ao encontrarem-se com os meus
que de ti nasceram,
vi a decrepitude do corpo,
a nossa decadência,
como se estivessemos todos numa fila
à espera,
vi.
Vi também o carinho dos mais jovens tratando
dos velhos
sós
e tristes e muitos já sem lembranças na cabeça
e repetindo as mesmas palavras,
vi.
Vi também que é Fevereiro
e as amendoeiras abriram já seus olhos brancos
floridos para o céu.
Vi também as flores brancas raiadas de desenhos
castanhos das estevas.
E os brincos floridos brancos dos gaimões.
E vi ao lado da estrada principal as cegonhas
limpando e rearrumando aos pares os seus ninhos.
Vi.
Vi que não tarda a flor da urze e do rosmaninho.
Vi que está chegando a Primavera
na mesma terra
à beira do rio
onde a velhice adormece.
Vi nos campos verdes os borregos pastando.
E vi que sempre foi assim.
E vi que não estava contente nem triste.
Estava assim.
-
In, " Os caminhos do silêncio", Chiado Editora, Nov. 2011
-
Foto Google

10 comentários:

Agulheta disse...

Amigo Eduardo.
Adorei o poema onde a velhice se mostra de vários tons,que se misturam em sintonia de dor solidão esperando o renascer da primavera.
Beijinho

Manuela ramos Cunha disse...

Poema que retrata muito bem e com carinho a descida das primaveras da vida!

É triste a solidão...sabendo que a esperada primavera só nos traz os perfumes da própria natureza, porque tudo o mais se transforma e se reflete no nosso físico, na nossa dor da mente, consciente desse fenómeno que é ir envelhecendo...

Aceitar estas transformações, ainda dá origem a que vivamos muitas e muitas primaveras...é que também tebho visto e sentido tudo isto que pões em prática no teu poema magnífico e muito humano de se envolver.

Beijinhos, Nela

LOURO disse...

Olá Eduardo!

Vi este belo poema,onde a velhice vai chegando com as primaveras da vida...Lindo!!!
Abaço,
Lourenço

gota de vidro disse...

Simplesmente delicioso este teu poema.

Lindo , doce e belo!

Que bem viste a aproximação daquela que é a mais bela estação do ano em que o odor das flores escorre pelos nossos corpos e faz brilhar nossos olhares com o deslumbre das suas cores.

Bom resto de semana meu amigo

Bom ler-te

Beijinho da Gota

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Eduardo

De estação em estação a vida vai passando e deixando em nós todas as vivências e recordações.
Como sempre bela a tua maneira de dizeres as coisas.

Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora

Aníbal Duarte Raposo disse...

Caro amigo Eduardo,
Gosto muito deste poema.
Abraço

Sandra Gonçalves disse...

Lindissimo poema...Bjos achocolatados

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

vi!

e muita coisa ficou...

um beijo

GarçaReal disse...

A chegada de algo belo e envolventes...............

Que bem escreves....Que bom ler-te

Bjgrande do Lago

Parapeito disse...

"Vi que está chegando a Primavera
na mesma terra
à beira do rio
onde a velhice adormece."
E que possa sempre bom Eduardo continuar a ver assim...e a fazer- nos ver...
Brisas doces para si***+