sábado, 2 de julho de 2016

Uma estória de vida de uma refugiada na Grécia relatada por RITA ALEIXO


Sempre a sorrir !
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Uma destas tardes, no campo de refugiados, conheci uma mulher mais velha, com os seus 60 e muitos anos. Com um sorriso aberto e terno, estava à porta da sua tenda e convidou-me para entrar e sentar-me para falarmos. Afinal, o tempo é tudo o que resta às pessoas, que aguardam na Grécia, enquanto o processo de asilo não avança... E assim foi, entrei e sentámo-nos. Ela está sozinha no campo, o que é algo particularmente difícil para quem é mulher, mas também para quem já é mais velho... Gostaria de partilhar convosco hoje um pouco da sua história tocante. Há muitas histórias, demasiadas, mas talvez por ela me fazer lembrar a minha mãe, escolhi a sua.
Ela contou-me ter nascido também num campo de refugiados na Síria, há muitos anos atrás, pois os seus pais fugiram da Palestina. Apesar disso, ela estudou, casou-se na Síria, teve 4 filhas e trabalhou ao longo da sua vida como professora. O seu marido, sírio, morreu ainda novo, o que fez com que tivesse passado por momento difíceis ao ter de criar sozinha as filhas de ambos. E disse-me, sorrindo: “ na vida temos que nos levantar sempre que caímos e prosseguir caminho...”
Entretanto… a guerra na Síria chegou há 5 anos, as suas filhas adultas, já casadas também, fugiram para a Europa, algumas estão na Alemanha, mas ela resolveu ficar. A Palestina (que nunca conheceu) e a Síria são os seus países, frisou, sempre com um sorriso. Contudo, uma bomba destruiu a sua casa e também ela foi obrigada a fugir. No perigoso percurso que a trouxe até aqui, teve que caminhar 4 dias para chegar à Turquia, teve que fugir aos polícias na fronteira turca, que atiram a matar, foi roubada pelos contrabandistas, que se aperceberam que estava sozinha e vulnerável, mas finalmente conseguiu entrar num pequeno barco de borracha atolado de gente rumo à Grécia. Nesse barco também ouviram tiros, mas felizmente conseguira, após horas no mar, chegar a uma das ilhas gregas! Ela teve sorte, sobreviveu, muitos ficam pelo caminho... No entanto, ela teve azar também, pois chegou quando as fronteiras na Rota dos Balcâs fecharam...Por isso não conseguiu prosseguir a viagem e ir ter com as suas filhas. Está à espera num campo de refugiados, na Grécia, sob condições climatéricas muito difíceis, e onde os recursos são escassos...
Ainda consigo ouvir a sua voz a dizer-me: “Eu nasci num campo de refugiados e aqui estou eu outra vez...Espero não morrer aqui.” Sempre a sorrir, e ainda com alguma esperança no futuro, estas pessoas merecem todo o meu profundo respeito.
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Rita Aleixo

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