quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vi

Vi a velhice
vi a solidão
vi os olhos teus rirem ao encontrarem-se com os meus que de ti nasceram,
vi a decrepitude do corpo,
a nossa decadência,
como se estivessemos todos numa fila
à espera,
vi.
Vi também o carinho dos mais jovens tratando dos velhos
sós
e tristes e muitos já sem lembranças na cabeça
e repetindo as mesmas palavras,
vi.
Vi também que é Fevereiro
e as amendoeiras abriram já seus olhos brancos floridos para o céu.
Vi também as flores brancas raiadas de desenhos castanhos das estevas.
E os brincos floridos brancos dos gaimões.
E vi ao lado da estrada principal as cegonhas
limpando e rearrumando aos pares os seus ninhos.
Vi.
Vi que não tarda a flor da urze e do rosmaninho.
Vi que está chegando a primavera
na mesma terra
à beira do rio
onde a velhice adormece.
Vi nos campos verdes os borregos pastando.
E vi que sempre foi assim.
E vi que não estava contente nem triste.
Estava assim.
-
Mértola, 7 de Fevereiro 2011
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Os caminhos do silêncio
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Foto Net

14 comentários:

Anônimo disse...

Vi, li e compreendi. Gostei e mais não digo.
Um abraço,
PM

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

eu tambem vi!
um olhar em cima do poema.
um beij

Eli disse...

Vejo uma profundidade aqui.

:)

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido Eduardo

Sensibilidade...vida real...emoção neste poema, sentimentos à flor da pele.
Sabes quando vi a flor da esteva, senti o cheiro como se estivesse perto delas...e estou "roubando" a imagem.

Beijinho com carinho
Rosa

Ivy disse...

Quem tiver olhos de ver( e de sentir), que assim veja.E não se entristeça ou alegre, mas sinta cada momento na sua grandeza!

helia disse...

Vi.... Que Poema maravilhoso! Adorei.

Paula Raposo disse...

Gostei imenso do poema e da foto! Tudo lindo! Beijos.

Manuela ramos Cunha disse...

Eduardo, mais um poema maravilhoso!

Eu estou assim...
Já nem sei se vi! Mas vejo!
Uma grande solidão que é preciso combater, eliminar da vida humana, para que todos sintamos a Primavera em nossos corpos, sentidos e intuição de sermos felizes em união!

Triste poema, mas de esperança e muita humanidade. Real...

É sempre um prazer visitar este clube de poetas, que não estão mortos - antes, pelos contrário, mas, nos dão sempre dicas novas, para pensar!

A poesia AQUI é bem acentuada e cheia de sentido!
Gosto.

Beijinhos, Nela

gaivota disse...

estar assim... ver tudo isso, é viver!
beijinhos

Anônimo disse...

e eu, li emocionada. um beijinho.

Maria Rodrigues disse...

Que poema marvilhoso amigo. Vi, que escreve com alma e assim consegue tocar o coração de quem lê.
Tenha um maravilhoso fim de semana, pleno de alegria, paz e harmonia.
Beijinhos
Maria

GarçaReal disse...

Belo o teu poema, mas salpicado de laivos de tristeza.
Gostei

Bom domingo, mesmo chuvoso

bjgrande do Lago

Clotilde S. disse...

Viste ,e eu revi nas tuas palavras, a Mãe,a vida, a morte,o Alentejo autêntico.
E ,acima de tudo, viste a renovada esperança que é dada à Natureza, mas que é negada aos seres humanos.
Daí ,talvez,essa tua aceitação sem contentamento nem tristeza da nossa condição humana.
Estavas assim.
(...)
Gosto de te ler, Poeta!

Um abraço!

tb disse...

eu também vi... um poema em cada olhar...
Belíssimo o lugar daqui. A música, as fotos e palavras.
Um abraço