Já o
sabia!: as árvores já mo tinham dito, e
o vento, lembrado! Já o sabia pelo escorregar dolente do sangue nas ânsias do
meu corpo, pelo roçar lasso e ronronante com que as palavras se deleitavam no
colo quente do poema, pela vontade silenciosa de imitar as árvores, ficando
como elas languidamente recolhido, mesmo face ao desejo: um torpor, um
adormecimento, uma aceitação de placidez, uma preferência suave e leitosa pela
criança em detrimento do ser amante, fogoso…
Vem,
Outono! Preciso de outras cores que tu trazes, e me acalmam, e me harmonizam
com o universo. Dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio. Dá-me a
suavidade. que se respira nas tardes
breves, a moderação e a sapiência que fornecem a energia às árvores para as
tempestades do Inverno, a maturação da
uva que fica à espera da hora adequada para o vinho ser bebido em copos
merecidos…
Preciso
da tua concha, Outono! Não é hibernação, não! É o ritual adequado ao ritmo do
meu corpo humanamente grandioso, como se fosse, ( e é ), divinamente consagrado. É o regresso anual às
fontes do ser, ao tempo da criatividade maior, em que mais novo sou, seja qual
for a idade que tiver, porque me aproximo do momento em que nasci, em que vou
rever a minha estrela, encher-me da seiva do universo de onde vim: esperma de
amor, baba de orvalho, carícias de átomos e de tudo o que é germinação latente
no ventre da terra.
Assim
me fazes renascer, Outono, e me preparas para o Inverno, para todos os
Invernos, violentos, sim, mas belos, e
eu fico munido então, com as armas do amor pleno…
Texto
do meu livro:, Os Caminhos do Silêncio - Chiado Editora
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