No meio da prisão
Onde todos aceitaram uma falsa liberdade
Só os homens e as mulheres livres dizem
Estamos presos!
Lisboa, Junho de 2013
Foto Net
sexta-feira, 28 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
Ainda sobre o voo...
Voar,
Mas com o cheiro sagrado da terra
Nas asas sorridentes
E luminosas,
Com os bicos contentes.
Junho de 2013
Foto Net
Mas com o cheiro sagrado da terra
Nas asas sorridentes
E luminosas,
Com os bicos contentes.
Junho de 2013
Foto Net
sexta-feira, 21 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
Havia uma pedra no meio do caminho...
No meio do caminho havia uma pedra, diz o poema de Carlos Drummond de Andrade.
Havia.
E na minha vida sempre houve muitas pedras.
Mas de cada vez que a gente remove a pedra agradece a Deus
E continua a caminhar.
Ah!...Que bom!...
Voltei a ser cigano.
Já posso ir ver o mar...
Lisboa, 18 de Junho de 2013
( Foto Net )
sábado, 15 de junho de 2013
MOMENTO
- Poema de Rita Aleixo
Algo rebentou.
Uma semente
Um soluço de absoluta necessidade
Uma tristeza demasiado pesada
Para continuar ali presa no esquecimento.
Ficaste parado, como que em câmara lenta,
À espera de perceber o que de estranho se passara.
Que acontecera?
Permaneces aí enquanto o vento rebola na tua face,
Enquanto as pessoas passam distantes
E as folhas caem das árvores nuas para o inverno.
E tudo à volta gira, seguindo o natural ritmo das coisas.
Os dias passam, as horas flutuam umas sobre as outras,
Noites e novos dias sobrepõem-se,
Tudo está em movimento excepto
Esse momento em que te encontras aí
Longe do tempo que parece ter parado embasbacado
Por uma certa indeterminada razão que ainda
Não surgiu em ti.
Surpreso como tu, parece esperar que te recomponhas
Para então também seguir em frente
Com o presente estacado nas profundezas do passado,
E com o que passou presente a cada instante
Desse momento vazio onde tudo se move menos tu.
Algo mudou.
Um estremecimento interior
Um murmurar incessante
Uma fina gota cortante
Algo cujo impacto parece ter abalado os alicerces
Por onde respiravas, por onde andavas, por onde tudo fazias.
Tudo à tua volta traz asfixia, prisão, fragilidade
Tudo parece desmoronar com uma maior facilidade que um
Baralho de cartas jogado ao mar.
Apetece chorar, desistir, desfalecer.
As vozes ecoam incertas,
A clareza de outrora esvai-se, distancia-se, já não se encontra
em lado nenhum.
Tudo parece ter desaparecido tal como era
Tal como sempre o tinha sido
A ilusão, os sons, as imagens do quadro somem-se
Com o olhar de cada minuto focado
Em tudo o que ali estivera e já não existe.
Não mais...
Talvez nunca mais
Talvez nunca lá tivesse estado.
A folha ficou em branco
Pronta para um novo tempo que há-de vir...
Rita Aleixo
In, "Antologia de Poesia Contemporânea - Entre o Sono e o Sonho - Volume III
Chiado Editora - Fev. 2012
( Foto Net )
quarta-feira, 12 de junho de 2013
ICH BIN GREGA
- Texto de Clara Ferreira Alves
............" Eu vi Delos antes de 2012. Um lugar arqueológico e cuidado, com um museu bem guardado onde se podiam ver belas peças. Agora, Delos é um lugar de contemplação da nossa falência. Delos é Património da Humanidade e a Humanidade somos nós , os civilizados e os bárbaros, os chineses confusos e os germânicos ostracizados.
No barco que vem de Delos, ao deixar a cidade em ruínas, vejo a nossa civilização agonizar. Todas as complexas civilizações morreram. Nem o nosso avanço tecnológico nem a estabilidade das nossas instituições democráticas nos livrará desta morte, em que o passado deixou de ser respeitado e passou a ser ignorado. Ao meu lado, os jovens orientais, agarrados aos iPhones, suspiram por rede, olhos fixos no ecrã minúsculo. Delos não faz parte da sua substância. Não lhes pertence. Não lhes interessa. Um barco de desapontados.
Em Delos, Património da Humanidade, as pedras foram largadas às silvas e aos cardos, às lagartixas e aos corvos. Nasce um pinhal no meio de colunas. Grande parte da cidade está vedada porque se tornou perigosa. As cisternas estão cheias de água estagnada com mosquitos. As víboras rastejam nas sombras. O teatro de Dyonisos não se pode visitar. Nem as casas, a de Dyonisos, de Cleópatra, do Tridente. O museu está deserto e sem guardas, com alas fechadas. O Terraço dos Leões foi invadido pela natureza. A loja fechou. O Estado grego, sem dinheiro, sem funcionários, sem ministério da Cultura, demitiu-se em bloco. As ervas daninhas e as flores silvestres, os répteis e os insetos, devoram Delos. A cidade está submersa em vegetação e abandono e à guarda do tempo, esse grande escltor. Angkor Vat renasce, Delos morre.
E que deixará esta civilização que rivalize com a beleza de uma estatueta de Afrodite ou ma figurinha de terracota? Um iPad."
Livro: " Estado de guerra "
segunda-feira, 10 de junho de 2013
E assim vamos...até quando?
Neste tempo incerto, amargo, injusto,
imoral, desiludido, amargurado, sitiado, de rosto frio, tecnocrático, formal,
mas democrático, país europeu herdeiro garboso da civilização ocidental cristã,
à beira-mar plantado com barcos vazios
de remos e redes parados com os peixes ilesos contentes nas águas infinitas do
mar; país de barriga gorda dos subsídios para cimento de estradas e
prédios para gente cada vez mais pobre para os poder utilizar; riqueza de campos com frutas desprezadas no chão por não terem as
dimensões das regras comunitárias e assim impedidas de entrarem no sagrado
templo do mercado; país de corrupção
descontrolada, de desemprego sempre crescente, com os trabalhadores do Estado
perseguidos como se fossem uns bandidos; aposentados que descontaram toda a vida
legalmente e que são roubados para pagarem as dívidas que não contraíram; velhos
assaltados nas suas residências solitárias; um Estado que não belisca os interesses
gananciosos dos poderosos; uma Justiça que é raro fazer justiça; uma Classe Política
em que pouca gente já acredita; um Presidente da República indiferente aos
apelos do povo para que intervenha e contribua para emendar o rumo trágico do
país…
( Prosaico-presidencialmente
falando ):
- tal não é aconselhável,
pois não está em causa a legitimidade do governo, sendo que uma intervenção
nesse sentido expressaria apena um desejo fácil de protagonismo inútil…
Por isso, ponho-me a inventar metaforicamente
a palavra certa, que rasgue e sangre o
ventre teimoso e míope do pensamento
dominante, que esmaga e destrói a alegria e a esperança de vivermos felizes, e
descortino que só em palavras como
Cardo
Pedra
Rubro
Seta
e outras a inventar urgentemente e tenham o perfume e os picos das rosas e caminhem em marcha fogosa e firme nas rotas fora da
lógica de todos os poderes mafiosos, os instalados no poder, e os que se encontram fora do poder
e apenas desejosos de o conquistar, mas vassalos de esquemas doutrinários
divorciados dos anseios dos tempos que carecem de novos olhares e pensares…
…poderá encontrar-se a fonte fresca e limpa ainda não morta da
liberdade aurora inocência corpo vivo
semente fermento ideias sentimentos sem
medo com amor e fogo e água
ilimitada jacto pronto a ser usado
para derrubar o beco em que o mundo desemboca e nos esmaga e nos sufoca…
( Prosaicamente outros falando : utopia, lirismo, palavras perigosas,
populismo… )
E assim vamos: ….até quando?
( Escrito em Portugal, 10 de
Junho, Dia de Camões )
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Uma gota de água da mais pura
Uma gota de água da mais pura já não é suficiente para
salvar o meu corpo da secura, da aridez desumana dos discursos por mais
lógicos, da alienação do espectáculo verbal e estatístico face ao rosto carente
e desamparado das necessidades essenciais dos homens.
Uma gota de água da mais pura já não é suficiente, ouço o país queixar-se com voz
débil de amargura.O deserto em volta do meu corpo está pejado de bicos
sedentos que querem roubar o bem escasso da água que nos resta e que tanto nos
custou a retirar das profundezas da terra.
É o tempo-limite. Foz amarga dos rios ideológicos
antigos e modernos.
As palavras sem culpa são as únicas entidades amigas
que me rodeiam.
Palavras cansadas de saírem à rua.
De gritarem.
De apelarem para valores ensinados ao longo de mais do
que uma geração, mas agora traiçoeiramente
descartados, esquecidos, escamoteados,
espezinhados, desprezados por quem manda de modo hipócrita, dito democrático.
O que vai acontecer?
Não sei.
Recolho-me.
No deserto olho desencantado para as estrelas.
Fatigado, vou adormecer.
Na esperança porém, de, ao acordar, poder ouvir bater à
porta do país a luz benfazeja e justa de
um novo amanhecer.
Eduardo Aleixo
Lisboa. Mês de Junho de 2013, cheio de desencanto.
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