Na minha infância, ia sempre, com o meu pai, todas as semanas, buscar água aos poços e às fontes, que havia nas aldeias do concelho da minha terra, em Mértola, no Alentejo.
Quanto às águas do rio, o Guadiana, que banha Mértola, corriam limpas e eram transparentes.
Os peixes, abundavam, e gostava de vê-los vencendo a força das cataratas em direcção à nascente, procurando os fundos de seixos ideais para a desova.
Durante o inverno o rio galgava as encostas íngremes e formava cheias de cor acastanhada, espectaculares, e era assim que, de acordo com as leis da natureza, as águas fertilizavam os solos e, baixando depois, recuperavam os tons claros e leitosos, dando a sensação de rio com cara mais lavada.
Quando eu era pequeno havia muita miséria e desequilíbrios sociais profundos, mas existia o equilíbrio e a aproximação entre os homens e a natureza.
Não havia falta de água !
Hoje...
As fontes ainda existem, mas contaminadas.
As águas do Guadiana já não são as mesmas, têm sinais de poluição, e é habitual em certos períodos não ser recomendável comer-se o peixe mais popular e resistente, que é a "tainha", e que, na minha terra, se chama, "muge".
Há muitas espécies de peixes que já não sobem o rio para a desova, com a frequência e a quantidade de antigamente, como é o caso do " sável". E por vezes surgem peixes mortos boiando à tona da água.
A poluição é, como sabemos, fruto da ganância dos homens, que preferem o crescimento económico desenfreado ao desenvolvimento harmonioso da economia.
As águas do rio já não galgam as encostas, já não existem as cheias que regulavam todos os anos a actividade do seu caudal e as águas são de uma cor esverdeada...
Com o êxodo rural e o crescimento das cidades as necessidades humanas cresceram e o egoísmo também. Hoje é sabido que os gastos em água são exorbitantes nos países desenvolvidos, mas a água é cada vez mais um bem escasso. Estudos recentes indiciam que a água será um problema social e político grave dentro de pouco tempo.
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Lembro-me de Exupéry que, nos seus livros, falando no deserto, enaltece o valor milagroso de uma laranja !...
Uma laranja no deserto, repartida, saboreada, sugada milimetricamente...
O valor da laranja para quem, com sede, sozinho, se encontra no deserto...
Isto faz-me pensar que, com a escassez da água, no deserto pobre material e espiritualmente falando do mundo próximo-futuro, uma gota de água é como a laranja disputada de Exupéry....
Bem pior!
Porque uma gota de água... como se parte, como se divide?
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Muito há a fazer para que a água não diminua e não se transforme numa gota...
Para isso há que despertar a consciência dos homens...
É o que se pretende neste dia.
Recebam a minha humilde contribuição para esse propósito.
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Eduardo Aleixo
12 comentários:
Be, Edu, não é no dia 15 mas está feito na mesma. Valeu, amigo!
Oxalá não cheguemos ao ponto de espremer a 'laranja' - é o meu maior medo!
Pelo menos, em casa, podemos fazer algo de útil, começar por poupar a água, aproveitando-a, reciclando-a... (eu aproveito a água da máquina de lavar roupa para lavar os terraços onde andam os meus 4 cães.)
A bem da ÁGUA potável,
Fazes bem em lembrar o quanto se pode fazer pela água, pela natureza.
Pela minha parte faço o que posso, mas às vezes desanimo com tanta inconsciencia à nossa volta...
Cá pelo meu lado poupo água assim:
- também aproveito a água da máquina de lavar roupa para lavar terraços;
- a água de lavar as hortaliças para regar flores
- a água que chega à banheira até aquecer deito p/um balde e serve para lavar as casas de banho
- A água do duche cai para dentro de uma tina (gira) que arranjei, essa água serve para as sanitas
- Normalmente não ligo a máquina de lavar louça, lavo à mão mas nunca com a agua a correr +/- à moda antiga,
(sei que me vão dizer que não estão para tanto trabalho...) cada um que faça a sua parte, eu estou tranquila, espero que o universo veja isso...
Bjs.
Laide
Primeiro quero agradecer-lhe o poema que escreveu no meu cantinho. Uma deliciosa poesia que li e reli! Obrigada!
Quanto a este tema tão relevante, quero dar-lhe os parabéns pela criatividade e pela partilha!
Cada vez mais nos compete assumirmos os nossos deveres como cidadãos (como refere o meu amigo José caldeira no portugalprofundo) e percebermos que é um recurso em perigo no nosso planeta, logo o perigo se estende aos seres que o habitam!!!
Muitos parabéns e mais uma vez obrigada!
beijinho
um tema muito pertinente que nunca é demais falar.
um bom texto!
beij
Estamos a gerir muito mal os bens do nosso planeta. As gerações vindouras vão sofrer devida à nossa ineficácia
Bom domingo
bjgrande do Lago
Um tema para reflectir e cada um de nós fazer o que pode para voltarmos a esse equilíbrio entre a natureza e o homem. Gostei de lembrares a propósito Exupéry.
Um grande beijo, Eduardo.
Um texto muito interessante e muito oportuno nos tempos actuais !
A água é um bem precioso e indispensável à vida . Que todos pensemos nisto e que contribuamos para que a àgua não se transforme numa gota...
Gostei da casa amarela
E das telhinhas em par
Da relva verde, singela
E do seu cão a espreitar
Dessa linda sinfonia
Que me apraz muito ler
Do escutar, da nostalgia
Que ousa sempre escrever
Gostei da água, que é ouro
Só gastar o que é preciso
E gosto de si tesouro
Mas um tesouro de amigo.
Beijos com muito carinho.
a tal gota de água...
e taínhas, que eu bem gosto e não sabia que se chamava muge por aí...
e a pouco e pouco tanta coisa se vai espremendo até não haver nem rasto ou cheiro!
boa semana, e vota no meu bebé!!!
beijinhos
Um texto que se entende perfeitamente
Água no mundo, cada vez mais carente...
gostei de ouvir falar do Guadiana
(tenho uma costela alentejana)
e de Exupéry na sua laranja
e vamos ver como a gente se arranja
se não entendermos a tempo
que a água é nosso grande sustento!
Gostei deste alerta...
nunca é demais Eduardo
sensibilizar com tanta gotinha
em cada palavrinha...
Obrigada!
Meu beijinho
Tens toda a razão!
Beijos.
Palavras muito sábias Eduardo. Parabéns!
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