segunda-feira, 7 de setembro de 2009

4. Ilha de Santiago - Tarrafal

Museu da Resistência ( Campo de Concentração do Tarrafal )
" Chegaram ao Tarrafal sucessivas levas de presos. " " As primeiras ocorreram em 1936: 151 deportados; e em 1937: 157.
" Mais tarde, à medida que a Segunda Guerra Mundial foi evoluindo favoravelmente aos aliados, decresceram os números das deportações. "
" Na sua maioria estes presos ultrapassaram largamente as penas a que tinham sido condenados, quando julgados."
" Em 1939 verificaram-se as primeiras saídas do Campo, mas só em 1944 é que se regista um movimento significativo de libertações, cerca de uma trintena."
" A Colónia Penal do Tarrafal foi encerrada " provisoriamente " no pós - guerra, como consequência das fortes críticas das Nações Unidas e do movimento oposicionista ao regime. "
" Assinale-se que no mesmo ano em que saem os últimos portugueses do Campo do Tarrafal o governo publica o Estatuto do Indígena das províncias a Guiné, Angola e Moçambique, na senda do que viria a acontecer, escassos 7 anos depois, a reabertura do Campo, desta feita para nele aprisionar nacionalistas africanos " - pode ler-se nos cartazes afixados na exposição. Com a guerra colonial, " em 1962, chegam os primeiros presos angolanos e guineenses."
" Em 69-70 foram construídas as muralhas e as torres de vigia."
"Entre 1968 e 1971 foram encarcerados cabo-verdianos."
" No 1º de Maio de 1974 a população conseguiu a libertação do Campo de Concentração do Tarrafal. "
Hoje é considerado Monumento Nacional.
Posto de Socorro e Casa Mortuária
" Entre os pavilhões B e C, em frente do portão do Campo, ao fundo, há uma construção diferente de todas as outras..."
" Um pequeno pavilhão, de paredes caiadas a ocre, janelas e porta em madeira, cantaria vermelha, dividida em duas pequenas salas, uma de espera, para os presos doentes, e outra para o consultório médico;"
" ...Era o posto de socorro, mas também servia de casa mortuária, o que estava perfeitamente de acordo com o médico do Campo,que mais gostava de assinar certidões de óbito do que tratar dos doentes."
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" Tralheira, foi a alcunha com que o conhecíamos e aquela que merecia quem afirmava: .................« Não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito» ". " A dor dos doentes deixava-o indiferente. Pela calada da noite, vinha assistir aos espancamentos..."
" Além de médico do Campo era delegado de saúde e administraor do Conselho do Tarrafal "
Cela dos presos políticos

Agora utilizada como sala de exposições.

A Frigideira: cela de isolamento. A pão e água.

A Holandina

" Designação dada pelos cabo-verdianos a uma câmara pequena, com cerca de 2 metros de comprimento, 1 de largura e 1,80 de altura, situada no interior da cozinha principal do Campo ( ala esquerda - cabo-verdianos ). " " Constituída por uma pequena porta e uma fresta com grade de ferro. Segundo depoimento do prisioneiro cabo-verdiano, Gil ...... ( 1971), referenciando a holandina: « ....outra coisa que me marcou foi a holandina. Nenhum de nós foi para lá, mas puseram um angolano lá, e como tínhamos mobilizado um dos polícias, através dele na hora da refeição deixávamos um prato para esse polícia levar a esse preso angolano; também o Augusto......., preso político angolano, de 1970 a 1974, no seu testemunho disse que: « ....por causa da indisciplina houve quem tivesse sido posto no segredo, a pão e água ». A sua localização, junto da cozinha, tinha o vil propósito de aumentar o sofrimento do prisioneiro, com fome, e obrigado a receber o cheiro da comida!

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A visita ao antigo Campo de Concentração permite ver imagens e ler documentos ( alguns, atrás transcritos ) que relembram as condições desumanas em que eram obrigados a viver aqueles que lutaram pela liberdade e discordavam do regime do Estado Novo. Naquele clima subtropical, com humidade relativa superior a 90 graus, o ar pesado sobre o corpo, torna-se penoso estar ali muito tempo de modo a ler todas as informaçoes expostas. Não deixei de pensar como seria ainda mais doloroso ali ficar durante anos como aconteceu a muitos. Os da minha geração e que lutaram contra o regime de Salazar e Caetano lembram-se desse tempo em que não havia liberdade. E por isso sabem dar-lhe o devido valor, preservando-a e não deixando que ela seja beliscada minimamente, mesmo em regime democrático. Os da minha geração lembram-se. Mas tenho consciência, porque a vida assim me ensinou, que só quem passa pelas situações tem a conssciência verdadeira e as palavras com todo o significado. A minha homenagem deixo a todos eles.

Praia do Tarrafal

Finalmente, um banho nas águas calmas da baía...

F I M
Eduardo Aleixo

16 comentários:

Lucília Benvinda disse...

Edu,

Espectacular toda a reportagem que fizeste de cabo Verde. Como nunca lá fui, pude saborear aqui a maravilhosa viagem que fizeste.

Gosto imenso destas 'coisas' - tu sabes!

Continua a mostrar-nos o que conheces e muitos de nós, não!

Um abraço,
Cila

gaivota disse...

recordar quando por aí andei... estava tudo ao abandono, selvagem, algumas celas serviam de escola primária...
podia-se visitar tudo e encontrei (trouxe) coldres e balas vazias desse chão do presídio...
a frigideira era simplesmente o bloco de cimento sem mais nada...
a praia é linda!!!!!!!!!!!!!
valha-nos Deus, como tudo foi assim...
beijinhos

Paula Raposo disse...

Para que não se apague a memória! Excelente post. Beijos.

Agulheta disse...

Amigo Eduardo. Que bem retratado o campo de consentração do Tarrafal! para alguns pensam que nada disto existiu,mas ainda a pouco tempo,um amigo meu me emprestou para ler o livro (tarrafal campo de morte) posso dizer que até me estava a faltar a coragem de ler este testemunho tal era o que faziam aos pressos,durante a geração de sessenta sabemos como era,muitos querem safar este passado tão cruel para os portugueses,mas não podem apagar a história,deve fica na memória de todos.Gostei de ler embora como disse tudo está igual e bem descrito do que li.
Abraço e boa semana Lisa

Paola disse...

Às vezes, esquecemo-nos... perdemos a memória... Ainda bem que nos lembras desse horror que foi o Tarrafal...

Beijo

Unknown disse...

Cila

Ambos adoramos viajar. Sempre que puder e Deus me der saúde hei-de caminhar por este belo mundo. Devolvo-te as palavras quanto à capacidade de mostrares a sua beleza: é isso que fazes com o teu lindo blogue.Obrigado.

Unknown disse...

Gaivota

Tudo foi assim: assim são as ditaduras, de direita e de esquerda.

Unknown disse...

Paula

A nossa geração tem obrigação de se lembrar...

Unknown disse...

Agulheta

Com o passar do tempo...até parece que foi um sonho( mau ), uma névoa..mas foi verdade.

Unknown disse...

Paola

Obrigado pela visita.

Cristina Fernandes disse...

Por vezes, recordar o pior da história, revela o melhor que podemos ser...
Parabéns pelo post.
Um Abraço
Chris

Aníbal Duarte Raposo disse...

Caro Eduardo Aleixo,

Aqui estou eu a retribuir a visita.

Vejo que fizeste uma viagem a Cabo Verde, terra que não conheço mas que ainda hei-de conhecer se Deus quiser. Linda reportagem. Já fiquei com água na boca.

Tenho andado arredado destas andanças por bons motivos: férias, pesca e vindimas.

Vamos a ver se as musas me revisitam.

Abraço e até sempre.

Anônimo disse...

Vejo pela tua reportagem que a República de Cabo Verde sabe preservar a memória histórica.
No Portugal do plástico, o campo de cencentração do Tarrafal, obra do beato Salazar, já seria um excelente resort que formaria com o condomínio de luxo da sede da pide e com a pousada de Peniche um triângulo turístico.
Calculo que, depois da visita, o banho na baía te tenha sabido bem...
Um abraço.
PM

f@ disse...

Olá Eduardo,

Belo post... pena que nos faça lembrar o pior do ser humano...
fica o sal da praia a adoçaros sentidos.

imenso beijinho

Isabel disse...

beijo.

da terra onde o fogo mordeu e a memória foi cal.



(imf)

vieira calado disse...

Para que nunca nos esqueçamos!

Parabéns pela reportagem.

Um abraço