Quantas vezes nasci?
Quantas vezes morri?
Por que países nunca vistos
Semeei o meu silêncio,
O meu olhar de espanto?
Toca, Vivaldi,
Enquanto me lembro,
Sem esforço em me lembrar,
Quantas vezes comecei a minha vida,
Olhando para o mar...
É noite.
Lisboa submerge em nevoeiro.
Nas ruas, o inferno dos motores...
Já trabalhei,
Mas só agora me apetece trabalhar:
criar um espaço de luz,
uma baía de inocência,
uma roseira de palavras intocáveis,
o sorriso da cidade a construir...
Tão longa ainda a caminhada!...
Tão distante ainda a paz!...
Tão inevitável por vezes a guerra...
Tão difícil a batalha da sinceridade!...
Tão loge ainda a Primavera!...
Mas toca, Vivaldi...
Eduardo Aleixo