Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra ,
Batia-as, voava ao céu.
-
- Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas ,
Por isso voava ao céu.
-
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
- Veio a ambição, coas grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
-
Porque as minhas asas brancas,
asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.
-
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
- Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi, entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.
-
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam no céu.
-
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
- Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
-
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena, me caíram...
Nunca mais voei ao céu.
( Almeida Garrett - Porto, 1799 - 1854 )
9 comentários:
Acho que nunca mais tinha lido este poema desde que o estudei na escola...
Obrigada!
Um beijo
Olá querido Eduardo, belíssimo poema... Voei também aos Céus nas asas de um Anjo, ao ler este magnífico poema... Obrigada Amigo!
Fernandinha
Gosto muito deste poema de Almeida Garrett. Beijos.
Muito bonito este poema doAlmeida Garrett, que li bastantes vezes....
Bem aliado à foto.
Jinhos
Clarinda
Não consigo entrar no seu blogue. Sorry.
EA
Belo, simples e de algo profunda e religiosa significação este poema de Garrett, que nos mostra que nada terreno, nem o amor (de uma mulher) deve ofuscar o brilho das coisas celestes (de Deus) - o autor tinha asas brancas, puras, como ele, que era inocente, com as quais poderia ir para o céu quando quisesse, que não quis trocar por tesouros nem por glória, mas, repentinamente, ao subir para as estrelas, para o Céu, olhou para a Terra e a luz do Amor aliciou-o, deslumbrou-o, sentindo-a mais bela que a divina, e logo as penas das asas lhe pesaram e se desintegraram e caíram. Portanto, não devem trocar-se ou inferiorizar-se as coisas divinas nem em pensamento nem pela sensibilidade, mesmo que não materialmente.
Um abraço deste Anónimo bloguinvasor, que veio do Sul, de plainos e colinas ondeantes, a estevas e «charogaços» cheirantes, por vezes inclinando-se para o grande rio do Sul e absorvendo-lhe o frescor de (à beira de) água em baixas marés ou cheias fluviomarés.
Para todos, um abraço. EA
Que bom lembrar-nos aqui estes poemas, já tão esquecidos e que outrora sabíamos de cor. Eu sabia.
Um abraço Eduardo.
Graça
Abraço. EA
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