quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Livro de horas

- poema de Miguel Torga
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
De virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais,
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
---
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas,
E o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
---
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
---
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
---
Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser um monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
---
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
( Miguel Torga - S. Martinho de Anta, Vila Real, 1907 - 1995 )

10 comentários:

São disse...

Também aprecio muito Torga, também!
Saudações.


Não aprecio é nada as malfadadas letrinhas de verificação, rrss

pico minha ilha disse...

Também confesso ser eu e só eu, sou simplesmente eu.Adora Torga.Não cansei de todas as palavras só daquelas vazias que não dizem nada, e as minhas não me canso delas nunca.Beijinhos amigo

Lucília Benvinda disse...

O Gerês e o Torga são a minha perdição... já para não falar do Camilo!?

Eduardo,

Quando quiseres, escolhe uma das minhas fotos para os teus poemas. Um dia, venho pedir-te um poema para as minhas fotos.

Um beijo e, já agora, foram entregues os outros a quem dizia respeito.

Lucy

Luna disse...

Bom quando alguém se confessa , em especial a si mesmo
beijos

FERNANDA-ASTROFLAX disse...

QUERIDO EDUARDO, ADOREI O POEMA... SUBLIME AMIGO!!!
UM GRANDE ABRAÇO DE CARINHO,
FERNANDINHA

Paula Raposo disse...

Eu adoro este poema! Beijos.

poetaeusou . . . disse...

*
Torga é Torga
ou
Adolfo Correia da Rocha,
,
Um abraço pelo Torga,
aquele abraço para ti,
,
*

LuNAS. disse...

Confessarmo-nos diante de nós. ÀS vezes dói. Mas é preciso, por vezes. Tão bem que o Torga descreve.
Beijinhos, Eduardo

Anônimo disse...

Quando o Torga fala...
confesso
que a minha alma emudece!

Adoro este poema!

Beijinhos, amigo

Maria P. disse...

Eu confesso que gosto de Miguel Torga.
Boa escolha.


Beijinho, Eduardo*