segunda-feira, 9 de março de 2009

Crónica Semanal II ( da ilha de S. Tomé )

Olá... Cá estamos outra vez reunidos para uma sessão de partilha cultural... Este domingo caiu manhã bem cedinho uma grande carga de água tropical, como nunca tinha assistido na minha vida (tirando os tufões em Macau!). Foi uma chuva torrencial acompanhada de trovões e relâmpagos que estavam exactamente em cima da ilha e que faziam um barulho aterrador - a terra parecia tremer. E eu até gosto da trovoada...Não dormi mais e nessas alturas em que a natureza é assustadoramente real e presente, uma pessoa não consegue evitar pensar na vida e afins. Pois assim me pus eu a pensar, pois esta última semana foi particularmente dura. Isto de trabalhar nestes contextos não é fácil, sobretudo quando nos pomos a reflectir realmente sobre o que andamos aqui a fazer e no impacto real das nossas acções. Mas não vou maçar-vos com isso agora. Como foi também no domingo o Dia da Mulher e nós aqui (quando digo nós é a organização onde trabalho - a bem dizer, Médicos do Mundo) temos um programa de rádio semanal aos sábados, pelo que decidi incentivar a minha equipa de activistas a falar sobre o tema das desigualdades existentes entre o homem e a mulher no país. Infelizmente, o nível de espírito crítico, capacidade de escrever e empreender no geral é muito baixo. Se não somos "nós" a puxar a corda...mas bom, quanto ao dia da mulher em si, neste lado do mundo, ainda é mais fundamental trabalhar as questões de género - vemo-las por aí nos rios a lavar roupa, a caminhar com lenha na cabeça, com um filho no colo e outro dentro da barriga, dependente do homem e sem poder de decisão sobre a sua vida. Quando falamos, nas nossas saídas junto da comunidade, sobre coisas tão "simples" como a pílula, o período fértil e mostramos imagens do que é o seu aparelho reprodutor, muitos olhos brilham de interesse - para algumas é a primeira vez que estão a ouvir falar nisso...Enquanto as pessoas não tiverem as informações e conhecimentos suficientes para "agarrar" de facto na sua vida, não podemos pensar em desenvolvimento. Enfim. Conheço alguém que vai ficar com um sorriso nos lábios ao me ver escrever sobre o tema do Género. :) Bjs a todos e obrigada pelos simpaticos comentários Rita

9 comentários:

Anônimo disse...

Sem dúvida que uma trovoada equatorial deve ser aterradora, sendo essa mais intensa, não conseguimos imaginá-la!
Para esse e outros países em vias de desenvolvimento o Dia Internacional da Mulher, deveria ter muito mais significado!
Já lá vai mais de meio século em que no nosso país as mulheres também lavavam as roupas no rio, embora os homens na sua maioria não tivessem filhos de várias mulheres, porque a cultura e a religião não lhe permitiam tal!
Bela crónica Rita!
Beijinhos da
Mãe

Unknown disse...

Gostei, sim, que tivesses falado do problema do " género ". Tu sabes que no meu tempo, quando homens, como eu, se preocupavam com essas coisas, não usavam essa linguagem académica. Mas pondo de lado a indirecta matreira com que acabaste a crónica, deixa-me dizer-te que apreciei o que escreveste. Tens razão quando falas nas grandes exigências de todo o tipo, que incluirei no conceito abrangente de educacional, para que seja viável o desenvolvimento. Quanto ás tempestades...adoro, tu sabes. Tudo o que venha da natureza. Finalmente, quando disseste que as pessoas têm de ser quase que pressionada para fazerem alguma cxoisa, lembrei-me logo do conselho que eles me davam quando aí estive e tinha pressa de fazer as coisas: amigo! Leve...leve... Que bom que é o leve...leve...Por aqui a gente é que precisa do leve...leve...
Beijinhos e saudades.
Eduardo ( pai )

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA RITA, ADORO AS TUAS CRÓNICAS E ESTA FOI UMA QUE GOSTEI ESPECIALMENTE AO FALAR DAS TROVOADAS, RELÂMPAGOS... FIZESTE-ME RECUAR NO TEMPO EM QUE MORAVA NOS AÇORES... MENINA NÃO ERA BRINCADEIRA NENHUMA EU VIA OS RAIOS CAIREM NO MAR A NOSSA FRENTE... FICAVA UM CHEIRO A POLVURA, COMO SE ANDASSEM AOS TIROS... PIOR DO QUE ISSO SÓ OS ENORMES TREMORES DE TERRA POR CAUSA DO VULCÃO DOS CAPELINHOS...
É UM MISTO DE BELEZA E MEDO AO MESMO TEMPO... ERA ASSIM QUE ME SENTIA...
... QUERIDA RITA GOSTAVA DE ESTAR EM CABO VERDE NÃO CONHEÇO, QUEM SABE UM DIA AINDA NOS ENCONTRAMOS... UM GRANDE ABRAÇO DE CARINHO E MUITA TERNURA... E ESPERO ANSIOSA A PRÓXIMA CRÓNICA,
FERNANDINHA

Lucília Benvinda disse...

Rita,
Gosto imenso da tua maneira de descreveres os teus (a)fazeres, tão reais, tão humanos, a lembrares-me, vincadamente, uma 'Fiel Jardineira'...!

Do 'Equador' passo para 'As crónicas da Rita' - que eu sigo a par e passo.

Talvez passes tempos difíceis demais e muitas vezes desalentadores, mas encorajadores e valorosos.

É no fundo aquilo que nos diz o nosso grande poeta: aqueles que realizam obras valorosas, vão-se da lei da morte libertando.

Um grande beijo de gratidão,
Lucy

Carla disse...

Rita
adorei ler esta tua crónica...para além da tua vivência que deve ser bem enriquecedora ainda me fizeste viajar até terras tropicais
obrigada
beijos

~*Rebeca*~ disse...

Adorei!

LuNAS. disse...

Rita
A tua crónica é de uma riqueza ímpar! Dizes muito em pouvo e levantas questões importantes.
O teu trabalho, o vosso trabalho, junto dessas gentes é uma pérola. Para todos.
Óptima crónica
Beijinhos

Anônimo disse...

Rita Catita!
Pede ao Universo uma trovoada idêntica para Junho.
Prepara-te que eu estou a chegar.
Abracitos
Isabel

Anônimo disse...

Começando pelas Trovoadas, não me posso esquecer da nossa amiga V. que deveria ter entrado em pânico se assistisse ao espectáculo lindo que pontualmente a natureza nos oferece. Dá-nos adrenalina de uma forma saudável. Qto às questões de genero e ao termos que "puxar" faz parte da missão que alguns afortunados têm...em PT foi hj lançada a Estratégia Nacional para as Pessoas Sem Abrigo 2009-2015, vamos ver se é desta que o Governo se compromete. Dois paises, duas realidades:)
Bjs
CF