- poema de Vieira Calado ( a quem envio um abraço )
" - Ó meu coração sê diferente da roda.
Mas só como o centro da roda que permanece em repouso.
Se a roda roda tão activamente
é porque o seu centro é imóvel...."
CANTO DE OLEIROS HINDUS
Afinal fui sempre uma roda. Sempre
a propensão para vaguear os contornos fluidos
da precisão equacionada a partir dum centro estático.
Embora desde muito verde tivesse coabitado
com a áurea do mistério
das mais insignificantes humílimas, criaturas,
embarcadas no comboio do sol, é certo.
E tivesse ido com elas até ao limite mais meridional
do esquecimento ou do medo. Percorrido
as imediações do real as arestas afiladas do vento
a soprar os olhos trans-
-lúcidos dum sombrio silêncio,
hábil malabarista de palavras e fumo.
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Mas nunca conheci nada de jogos de fortuna e azar
apostei sempre a partir do calafrio alargado
à matéria dos ossos
inscrito nos ácidos ribonucleicos que conduzem
invariavelmente o fim ao princípio
circular da roda.
( Do livro, " Itinerário ", de Vieira Calado )
6 comentários:
que bom teres trazido aqui este pedacinho do livro do nosso amigo!
é excelente, também já cá mora...
beijinhos
Eduardo,
A Roda da Vida... a fazer-nos circular e com a sensação de que nem saímos do lugar!(Estes são os meus pensamentos a girar...)
Um poema e tanto!
Um abraço a ti e ao Calado.
Gosto muito da poesia do Vieira Calado!! Já tenho vários livros dele. Beijos e bom fim de semana.
Gostei de conhecer.
Beijinho, bom fim-de-semana*
Obrigado, amigo, por ter postado este meu poema.
Bem haja!
Ele é um grande poeta! Este poema muito interessante!
Gosto do Itinerário, já o li de frente para trás e de trás para a frente.
Beijos e um bom fim de semana
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