sexta-feira, 28 de novembro de 2008
QUEM GANHOU A CONCHA FOI......
Convidado da semana: Luís de Camões
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
O silêncio das gaivotas contado pela estrela do mar - continuação (2)
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
ATENÇÃO
O mistério do silêncio das gaivotas contado pela estrela do mar
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Poema tirado de uma notícia de jornal
domingo, 23 de novembro de 2008
ECO
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Convidado da semana: Mário Cesariny
3. poema podendo servir de posfácio
ruas onde o perigo é evidente
braços verdes de práticas ocultas
cadáveres à tona de água
girassóis
e um corpo
um corpo para cortar as lâmpadas do dia
um corpo para descer uma paisagem de aves
para ir de manhã cedo e votar muito tarde
rodeado de anões e de campos de lilases
um corpo para cobrir a tua ausência
como uma colcha
um talher
um perfume
-
isto ou o seu contrário, mas de certa meneira hiante
e com muita gente à volta a ver o que é
isto ou uma população de sessenta mil almas devorando almofadas
escarlates a caminho do mar
e que chegam, ao crepúsculo,
encostadas aos submarinos
-
isto ou um torso desalojado de um verso
e cuja morte é o orgulho de todos
ó pálida cidade construída
como uma febre entre dois patamares!
vamos distribuir ao domicílio
terra para encher candelabros
leitos de fumo para amantes erectos
tabuinhas com palavras interditas
- uma mulher para este que está quase a perder o gosto à vida -
tome lá -
dois netos para essa velha aí no fim da fila - não temos mais -
saquear o museu dar um diadema ao mundo e depois obrigar a
repor no mesmo sítiio
e para ti e para mim, assentes num espaço útil,
veneno para entornar nos olhos do gigante
isto ou um rosto solitário como barco em demanda de
vento calmo para a noite
se nós somos areia que se filtre
a um vento débil entre arbustos pintados
se um propósito deve atingir as suas margens como as correntes
da terra náufragos e tempestade
se o homem das pensões e das hospedarias levanta a sua fronte
da cratera molhada
se na rua o sol brilha como nunca
se por um minuto
vale a pena
esperar
isto ou a alegria igual à simples forma de um pulso
aceso entre a folhagem das mais altas lâmpadas
isto ou a alegria dita o avião de cartas
entrada pela janela saída pelo telhado
ah mas então a pirâmide diz coisas?
então a pirâmide é o segredo de cada um com o mundo?
sim meu amor a pirâmide existe
a pirâmide diz muitíssimas coisas
a pirâmide é a arte de bailar em silêncio
-
e em todo o caso
-
há praças onde esculpir um lírio
zonas subtis de propagação do azul
gestos sem dono barcos sob as flores
uma canção para ouvir-te chegar
( Cesariny, in " UMA GRANDE RAZÃO - Os poemas maiores " )
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
OUTONO
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
YouTube - ANSIEDAD
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Crise leva famílias a retirarem idosos dos lares
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
ramalhete das rosas
domingo, 16 de novembro de 2008
Astronomia
sábado, 15 de novembro de 2008
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Convidado da semana: Jorge de Sena
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Ventos
BUCÓLICA
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Nota de Rodapé para as fotos...
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Mértola, nove de Novembro.
Mértola, 9 de Novembro de 2008
A MINHA HOMENAGEM
domingo, 9 de novembro de 2008
Poeminhas
sábado, 8 de novembro de 2008
Obama: somos todos americanos
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Convidado da semana: José Saramago
No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: « E depois? »Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço ( na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos ), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra, onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava: « Não faças caso, em sonhos não há firmeza». Pensava então que a minha avó , embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: « O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer». Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.
Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa ( faltou-me dizer que ela tinha sido, no dizer de quantos a conheceram quando rapariga, de uma formosura invulgar ), tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que elas haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do mapa instável da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver. A mesma atitude de espírito que, depois de haver evocado a fascinante e enigmática figura de um certo bisavô berbere, me levaria a descrever mais ou menos nestes termos um velho retrato ( hoje já com quase oitenta anos ) onde os meus pais aparecem: « Estão os dois de pé, belos e jovens, de frente para o fotógrafo, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade, que é talvez temor diante da câmara, no instante em que a objectiva vai fixar, de um e do outro, a imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o dia seguinte será implacavelmente outro dia ... Minha mãe apoia o cotovelo direito numa alta coluna e segura na mão esquerda, caída ao longo do corpo, uma flor. Meu pai passa o braço por trás das costas de minha mãe e a sua mão calosa aparece sobre o ombro dela como uma asa. Ambos pisam acanhados um tapete de ramagens. A tela que serve de fundo postiço ao retrato mostra umas difusas e incongruentes arquitecturas neoclássicas.» E terminava: « Um dia tinha de chegar em que contaria essas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. Um avô berbere, vindo do Norte de África, um outro avô pastor de porcos,uma avó maravilhosamente bela, uns pais graves e formosos, uma flor num retrato - que outra genealogia pode importar-me? a que melhor árvore me encostaria? » "
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( Extracto do discurso proferido pelo autor, a 7 de Dezembro de 1998, na Academia Sueca, que, em 8 de Outubro , anunciou a decisão de atribuir o Prémio Nobel da Literatura, pela primeira vez, a um escritor de língua portuguesa. Chama-se, como é sabido, José Saramago. O texto completo consta do livro intitulado " Discursos de Estocolmo - 7 e 10 de Dezembro de 1998", uma edição da Editorial Caminho, de distribuição gratuita, homenagem ao escritor no 10º aniversário do evento. )