Já não pode fumar,
Cuspir já não pode,
A noite esfriou,
O dia não veio,
O bonde não veio,
O riso não veio,
Não veio a utopia,
E tudo acabou,
E tudo fugiu,
E tudo mofou,
E agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
Seu instante de febre,
Sua gula e jejum,
Sua biblioteca,
Sua lavra de ouro,
Seu terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse,
A valsa vienense,
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, José!
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
Sem teogonia,
Sem parede nua,
Para se encostar,
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade
( Antologia Poética )
7 comentários:
Excelente este poema de Drummond de Andrade.
Também eu estarei ausente, mas até 7 de Julho... no outro lado do Atlântico.
Faz boa viagem, boas férias se for o caso, ou bom trabalho (espero que seja a primeira hipótese!).
Boa viagem, Maria.
Eduardo
Faz uma boa viagem, e corra tudo bem.
Beijinho*
Que tudo te corra bem também.
Beijinho.
Eduardo
Deixas-nos bem acompanhados...boa viagem! Muitos beijos.
Um poema que nos apetece ler e reler.
Voltei de férias e passei para deixar as minhas saudações amigas
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