terça-feira, 30 de setembro de 2008

Berlengas (1)

- Por Raul Brandão
( em " Os Pescadores )
Passo três dias deitado numa pedra a namorar o recorte delicado das Berlengas. Atraem-me como em pequeno as ilhas misteriosas e desertas dos meus sonhos. Por fim meto-me num barco, e depois de três horas a remos, vejo-as mudar de cor e encher o horizonte. Distingo as minúcias na Berlenga grande, em Santa Catarina e Farilhões, e ponho o pé em terra com assombro. É um monte espesso com um castelo na base, assente numa pedra destacada e ligada à terra por uma ponte em aqueduto.
…Mas o monte solitário sai todo vermelho da água vede e grossa como um vidro e o castelo é o último refúgio dum pirata que surpreende mulheres na costa para as violar na ilha…Este granito está coberto de líquenes ferrugentos , que ao por do sol escorrem sangue, e à cor da rocha compacta contrapõe-se a da fortaleza de tijolo, carcomida e doirada, que data de 1676, e que se revê na água translúcida. Nunca vi água assim: é uma lente esverdeada que desvenda fundos mágicos. Subo um carreirinho a pique. Sento-me no planalto e olho. Olho, não é bem – trespasso-me. Trespasso-me de cor, de luz, de amplidão. O que aqui existe e domina é o azul do céu e o azul do mar. Bebo-o. Vagueio uns dias ao vento falando só. Viver aqui é viver em pleno céu. É ser nuvem e mar, é ser azul. A vida sobre esta base de granito não tem cor. A grande rocha está suspensa no vácuo – porque o mar é pó verde muito ténue e a costa pó roxo a diluir-se. Do alto vê-se o cabo Carvoeiro e, mais para o sul, a praia da Consolação, a Ericeira e a praia de João Salgado, e, para o norte, o Baleal, a Foz do Arelho, S. Martinho do Porto e, até onde a vista chega, a ocidental praia lusitana. Mas isto num sonho fundido em azul, para lá do mar com veios espelhados, desde o pedestal desta rocha imensa, onde vegeta o perrexil e o cardo, até ao infinito,. Do outro lado, para além dos recortes afiados dos Farilhões, das Estelas e de outras pedras escumantes, fica o mar eterno.
São extraordinárias as manhãs, com uma ponta de névoa em que o mar se dissolve, e os fins de tarde, oiro e verde, a que se sobrepõe o violeta com aquela voz magnética sempre a chamar-nos lá em baixo, já escuro, do fundo das águas – e o morro vermelho a emergir do oceano… Não me canso, extasiado. Vou por outro carreiro, pelas escadas de palmo abertas na pedra. Dou com as ruínas dum convento. Nos restos arruinados da capela copio diferentes datas: fr. Lobato, 1622; outra: 1606; um coração com duas letras enlaçadas L e R – 1615. Fico a cismar…No fundo, avisto uma praia solitária, um côncavo do tamanho da mão, onde nunca entrou o sol. Fria e pálida, entre grandes rochas negras e cenográficas que emergem do mar e se recortam no azul, transe-me como um sítio misterioso que o homem visse pela primeira vez. Olho-a com medo. Não me atrevo a devassá-la…É isto mesmo…As ilhas desertas são habitadas. Tenho a sensação estranha de um contacto gelado: desconfio que anda por aqui uma alma virginal e pura e ao mesmo tempo cruel…
Raul Brandão
( Em " Os Pescadores )
Agosto de 1919
- continua...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As aguarelas de Joseph Pedro

Nome: Joseph Pedro ( assina os seus trabalhos com o nome de Joed )
Residência: DeBary, na Flórida
É meu familiar nos EUA, embora nunca o tenha visto.
Agradeço-te , Joseph, o envio das aguarelas. Como as acho bonitas vou publicá-las no blogue, como te prometi.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Petição pelo resgate, para Portugal, dos militares mortos na Guerra do Ultramar / Guerra Colonial Petition

Petição pelo resgate, para Portugal, dos militares mortos na Guerra do Ultramar / Guerra Colonial Petition

DESTINO

Pastora de nuvens, fui posta a serviço
por uma campina tão desamparada
que não principia nem também termina
e onde nunca é noite e nunca madrugada.
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( Pastores da terra, vós tendes sossego,
que olhais para o sol e encontrais direcção.
Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.
Eu, não. )
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Pastora de nuvens, por muito que espere,
não há quem me explique meu vário rebanho.
Perdida atrás dele na planície aérea,
não sei se o conduzo, não sei se o acompanho.
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( Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não. )
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Pastora de nuvens, cada luz colore
meu canto e meu gado de tintas diversas.
Por todos os lados o vento revolve
os velos instáveis das reses dispersas.
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( Pastores da terra, de certeiros olhos,
como é tão serena a vossa ocupação!
Tendes sempre o indício da sombra que foge...
Eu, não. )
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Pastora de nuvens, não paro nem durmo
neste móvel prado, sem noite e sem dia.
Estrelas e luas que jorram, deslumbram
o gado inconstante que se me extravia.
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( Pastores da terra, debaixo das folhas
que entornam frescura num plácido chão,
sabeis onde pousam ternuras e sonos.
Eu, não. )
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Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto
do dono das reses, do dono do prado.
E às vezes parece que dizem meu nome,
que me andam seguindo, não sei por que lado.
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( Pastores da terra, que vedes pessoas
sem serem apenas de imaginação,
podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!
Eu, não! )
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Pastora de nuvens, com a face deserta,
sigo atrás de formas com feitios falsos,
queimando vigílias na planície eterna
que gira debaixo dos meus pés descalços.
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( Pastores da terra, tereis um salário,
e andará por bailes vosso coração.
Dormireis um dia com pedras suaves.
Eu, não. )
( Cecília Meireles , em Antologia Poética )

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A barrinha do meu lenço

Clique aqui: Untitled Document e ouça boa música. Grupo Coral Alentejano: " Os amigos do Barreiro ". Com um abraço meu, pelo menos. Eduardo.

( Obrigado, Arlindo, pelo envio destas lindas modas da nossa terra )

Poeta convidado da semana: Cesário Verde

( Estátua de Cesário Verde, situada na Praça da Ilha do Faial, junto do Largo da Estefânia, em Lisboa - foto do autor )
O sentimento dum ocidental
- Dedicado a Guerra Junqueiro Avé Marias
Nas nossas ruas, ao anoitecer, / há tal soturnidade, há tal melancolia, / que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia / despertam-me um desejo absurdo de sofrer. / ----- O céu parece baixo e de neblina, / o gás extravasado enjoa-me, perturba; / e os edifícios, com as chaminés, e a turba, / toldam-se duma cor monótona e londrina. / ----- Batem os carros de aluguer, ao fundo, / levando à via-férrea os que se vão. Felizes! / Ocorrem-me em revista, exposições, países: / Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! / ----- Semelham-se a gaiolas, com viveiros, / as edificações somente emadeiradas; / como morcegos, ao cair das badaladas, / saltam de viga em viga os mestres carpinteiros. / ----- Voltam os calafates, aos magotes, / de jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; / embrenho-me a cismar por boqueirões, por becos, / ou erro pelos cais a que se atracam botes./ -----

E evoco, então, as crónicas navais:

mouros, baixeis, heróis, tudo ressuscitado!

Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!

Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

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E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!

De um couraçado inglês vogam os escaleres;

e em terra num tinir de louças e talheres

flamejam ao jantar alguns hotéis da moda.

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Num trem de praça arengam dois dentistas;

um trôpego arlequim braceja numas andas;

os querubins do lar flutuam nas varandas;

às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!.

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Vazam-se os arsenais e as oficinas;

reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras;

e num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,

correndo com firmeza, assomam as varinas.

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Vêm sacudindo as ancas opulentas!

Seus troncos varonis recordam-me pilastras;

e algumas, à cabeça, embalam nas canastras

os filhos que depois naufragam nas tormentas.

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Descalças! Nas descargas de carvão,

desde manhã à noite, a bordo das fragatas;

e apinham-se num bairro aonde miam gatas,

e o peixe podre gera os focos de infecção!

(Cesário Verde: o Livro de Cesário Verde)

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Depoimento ( poema ) de Alberto Caeiro sobre Cesário Verde: Ao entardecer, debruçado pela janela,

e sabendo de soslaio que há campos em frente,

leio até me arderem os olhos

o livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês

que andava preso em liberdade pela cidade.

Mas o modo como olhava para as casas,

e o modo como reparava nas ruas,

e a maneira como dava pelas cousas,

é o de quem olha para árvores,

e de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando

e anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza

que ele nunca disse bem que tinha,

mas andava na cidade como quem anda no campo

e triste como esmagar flores em livros

e pôr plantas em jarros...

( Alberto Caeiro : " O Guardador de Rebanhos - poema III )

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Olhar com atenção

Que segredo esconde um número?
Quem foi que o desenhou?
E as letras, que verdade escondem
para além das suas formas rendilhadas?
Quem foi que as inventou?
Por que foram os números e as letras
assim desenhadas?
Será que significam alguma coisa
independentemente do que expressam?
É que... quando observo os números
e as letras
e a sua fabulosa arquitectura
dou-me conta
de que talvez tenham vida própria
com tanto mais evidência
quanto mais intensa
é a minha observação!
Mas...
Não acontecerá o mesmo
se olhar
com igual atenção
para as pedras
para as flores
para os bichos
para as águas
para o rosto das pessoas?
Eduardo Aleixo

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Chegou o Outono...

Já sabia que tinhas chegado: as árvores já mo tinham dito, e o vento, lembrado.
Mas já o sabia antes pelo escorregar dolente do sangue nas ânsias do meu corpo, pelo roçar lasso e ronronante com que as palavras se deitavam no colo do poema, pela ânsia de imitar as árvores ficando como elas lânguidamente recolhido, mesmo face ao desejo: um torpor, uma languidez, um adormecimento, um curvar de placidez, uma preferência suave e leitosa pela criança em detrimento do ser amante, não sei explicar. ..
Vem, Outono, preciso de outras cores que tu trazes, e que me acalmam, me equilibram com o universo, dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio, dá-me a suavidade que se respira nas tardes breves, a moderação e o equilíbrio que dão a força às árvores para as tempestades do inverno, a maturação da uva que fica à espera da hora adequada para o vinho ser bebido em copos merecidos...
Preciso da tua concha, Outono! Não é hibernação, não! É um ritual anual, adequado ao ritmo d0 meu corpo humanamente grandioso, como se fosse - aliás é - divinamente consagrado...
É um regresso anual às nascentes do meu ser, ao tempo da minha maior criatividade, tempo em que mais novo sou, seja qual for a idade que tenha, tempo em que me aproximo astrologicamente do momento em que nasci, em que vou pois rever a minha estrela, encher-me da seiva do universo de onde vim: esperma de amor, baba de orvalho, carícias de átomos e de tudo o que é vivo sobre a terra.
Assim me fazes renascer, Outono, e me preparas para o inverno, para todos os Invernos, violentos, sim, mas belos, eu, já armado então, com as armas do amor pleno...
Eduardo Aleixo

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os lugares

Os lugares,
só vivem...
dentro de ti!...
E mesmo assim,
se os vives,
ou melhor,
se os lembras,
o que fazes
é lembrares-te!
Dar-te-ás conta porém
de que os lugares
- como a vida -
são cenário!
Mas se não encontrares no cenário
aqueles com quem falavas,
os sonhos com que sonhavas,
os projectos que projectavas,
saberás que és figura a mais na cena
e que o cenário é apenas um cenário,
cuja beleza é vazia de significado!
Saberás que não precisas de regressar ao lugar para o lembrar.
Ficas então serena, mas melancolicamente livre
para regressares à tua peça verdadeira,
em que és um actor de corpo inteiro,
porque nela a vida flui com as águas do presente
e onde à tua espera está um palco cheio de gente...
Eduardo Aleixo

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Poema de Rainer Maria Rilke

Hoje por amor de ti rosas
hei-de sentir, rosas sentir por amor de ti,
por amor de ti hoje longo longo
não sentidas rosas sentir, rosas.
Cheias as jarras todas, em si mesmas
deitadas, cada uma cem vezes,
como vales cheios de outros vales
ei-las deitadas, sobreponderadas.
Tão inefáveis como a noite,
seu peso vence o que se lhes rende,
como as estrelas sobre planuras
de esplendor se precipitam.
Noite das rosas noite das rosas.
Noite de rosas noite de muitas muitas
claras rosas, clara noite de rosas,
sono das mil pálpebras de rosas,
claro sono da rosas, sou eu que te durmo:
Claro dormente dos teus aromas, fundo
dormente das tuas frescas intimidades.
Como desfalecente a ti me entrego,
agora tens que responder pelo meu ser.
Meu destino se dissolva
no mais incrível repouso,
e o instinto de abrir-se
sem ferir nenhures, actue.
Espaço de rosas, nascido nas rosas,
nas rosas criado em segredo,
de rosas abertas nos acresce
grande como o do coração, pra que também mesmo fora
nos possamos sentir no espaço das rosas.
( Paris, Julho de 1914 )
Poemas II - Rainer Maria Rilke

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Poeta convidada da semana: Ana Luisa Amaral

Newton ou o exíliio
Alargando o compasso,
ele organiza o mundo,
parece repetir,
correcto e lento,
o que a razão calcula revelar.
E assim exila para sempre
o sonho.
Mas nessa correcção
premeditada,
não há sossego, nem sequer amor:
só tempo aprisionado
a solidão, paz trocada por paz
- igual a lento esvoaçar
sem asas.
Alheio é-lhe o fulgor
da criação coincidente à queda,
alheio é-lhe também o erro
mais terrível:
a glória de sentir nas mãos um fio de terra,
sustendo um fio de luz.
À luz de um sol perfeito e frio,
calcula,
os pontos do compasso
medindo e limitando,
e acerta, exacto,
o mundo.
Deixará descendentes,
será mestre
dos que hão-de vir
em hordas pelos tempos,
o compasso nas mãos,
cobiçando por jardas as fronteiras
rente à periferia do olhar.
Mas não verá dragões,
nem faunos, nem sereias,
nem terá unicórnios a seu lado,
nem saberá bordar tapeçarias
em sépias de explodir pupila e mares,
nem nunca tecerá a dor e a alegria.
E nunca serão suas profecias,
nem lerá revoadas de estorninhos
em dança inter-estelar.
Frio e ausente,
emoldurado a frio,
será dele o compasso
- e a solidão.
Só - pulsará no tempo
o coração
daquele que o criou.
Ana Luísa Amaral
( Do livro. " Entre dois rios e outras noites "

Guitarra

Começa o choro
da guitarra.
Partem-se as copas
da madrugada.
Começa o choro
da guitarra.
É inútil calá-la.
É impossível
calá-la.
Chora monótona
como chora a água,
como chora o vento
sobre a nevada.
É impossível calá-la.
Chora por coisas
distantes.
Areia quente do Sul
pedindo camélias brancas.
Chora a flecha sem alvo,
a tarde sem manhã,
e o primeiro pássaro morto
nas ramadas.
Oh, guitarra!
Coração malferido
por cinco espadas.
Federico Garcia Lorca
( Tradução de Eugéniode Andrade )

O AMOR e os caminhos do silêncio...

Algum dia saberemos o significado
e a finalidade dos encontros desencontros enganos desenganos
acasos despedidas becos coincidências sincronismos descaminhos nos caminhos que juntos,
desatentos,
caminhamos? ! ... Como poderemos saber como nasceu do nada a palavra côr de espanto?
Quem por nós falou?!
Quem por nós escreveu?!... Quem por nós pintou?
Dizemos o quê nos recados de amor que semeamos sem dar conta nas estradas do silêncio? ! Com que lábios beijamos nos sonhos ( com ) que sonhamos? ! ... Quem por nós sonha? ! Quem por nós zela? ! Quem vamos sendo por detrás das máscaras sombras corpos ( apenas corpos?!... e que corpos?! ) ... dançando à luz da vela? ! ... Desejaria bem sabê-lo... Deslindarei um dia
as linhas do novelo?...
Eduardo Aleixo

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pelos caminhos da Beira Alta

Ia eu por este caminho, paralelo à estrada que liga Viseu ao Sátão, mais propriamente junto a uma aldeia chamada Carcavelos, feliz da vida, tranquilo, alinhado com o ar puro, fino e precocemente frio de Setembro, vislumbrando ao longe a serra da estrela, e pensando que este caminho é simples, bonito, podia ser o meu caminho, quando me lembrei duma grande chatice:
- que diabo, não se vê o mar!...
Mas como me caiu tanto no goto, como se me tivesse destinado, como dizem que coisas mais sérias da vida podem está-lo, ou estarão, é uma questão de crença, lá desculpei, lá arranjei motivos, dizendo que o mar é logo ali, como me foi ensinado no meu Alentejo quanto ao encarar das distâncias, até que, neste devaneio singelo, deparo, encantado, com estas casinhas airosas:
Lembrei-me então que já conhecia. Já tinha visto. Mas não sabia o nome. Preciso sempre saber o nome das coisas. Assim como conhecer a cara das pessoas. Não me perguntem porquê. Não sei. Mas o nome já é coisa muito importante.
Encontrei uma rapariga simples, no caminho simples:
- Bom dia, menina...
-Bom dia, senhor...
- Desculpe lá, menina, como se chamam estas casinhas?
- Por aqui nós dizemos que são os "canastros"...
- Os canastros...
- Sim, é para guardar o milho...
- Obrigado, menina. Bom dia.
E pronto. Se algum beirão, ou beiroa, quiser confirmar, que confirme, eu confio na moçoila...
13/09/08, aldeia de Carcavelos
Eduardo Aleixo

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Solidariedade para Flávia

Um abraço meu. Com amor. Eduardo

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Bom fim de semana

( Diário de Notícias, dia 10 de Setembro de 2008 )

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Germinação

Tudo se calou fora e dentro de mim! O que está a acontecer? O que está mudando? O que está crescendo? Pergunto ao vento. Pergunto ao silêncio. Fico sem resposta. Aguardo no tempo!… Eduardo Aleixo

Poeta convidado da semana: Egito Gonçalves

Poema
Que luar será belo se a fome
te roer? Que amor te servirá?
Ah,não! Não temas
declarar o teu amor e ir para casa
comer macarronete.
Deve alimentar-se de quê
o amor?
Poema
Por algum motivo as lágrimas descem
até à boca.
Mastiga-se o sabor, entra
no sangue o sal,
em vida se transforma, é
sulco que a dor abre, fertiliza,
aberta linha de semeadura onde
poderá surgir um bosque,
uma cidade, uma justiça...
É o gosto da dor
que vitaliza, acende o palpitar
no coração que sobe à superfície.
Descem até à boca
por algum motivo as lágrimas.
Poema
Quando falamos de amor
de que amor
falamos?
Quando esperamos realizar
a nossa
esperança
de que esperança nos cremos
portadores? A que verdade
supomos esperançar-nos?
Quando falamos da fonte
e a madrugada
sabemos se haverá água
nas manhãs?
Agarrados ao fogo das palavras
afogamo-nos
supondo ter a margem
sob os dedos?
( Egito Gonçalves - em " O fósforo na palha" ).

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Setembro, o sol de novo...

O dia chegou com sol. Mal abro a janela do quarto sinto-me inundado de luz. Dou logo de caras com as hortênsias lilases que me dizem, a sorrir, bom dia. O meu cão, o “ Gwyn “, do lado de fora, estende-me as patas, contente, e eu já sei que está à espera da “dona”, que foi buscar o peixe à “ carrinha “, que chega por volta das nove horas, buzinando e anunciando a chegada das fresquíssimas sardinhas de Peniche, do bom robalo, polvos, douradas…O sol entra-me pela porta aberta da sala, formando um corredor de luz intensa, rectangular, como um apelo para que siga a sua luz e não permita que o dia não seja luminoso. Vou-me lavar, tomar o pequeno almoço e prometer a mim mesmo todos os bons propósitos para o dia que começa, pois há que tratar das árvores que estão doentes, apanhar os figos da figueira, ver se os marmelos já estão maduros, analisar se os rebentos das nespereiras são mesmo futuras flores, colocar meias de vidro nos cachos das uvas já maduras para que os pássaros não as comam, matar os caracóis que estão a assassinar as folhas tenras das plantas e das árvores, cortar a relva, aparar a sebe, enfim, um conjunto de tarefas que fazem parte da azáfama de quem tem gosto em ter o seu pequenino naco de terra decentemente apresentado. Para que, no fim do dia, nos saiba bem sentir o corpo cansado, “ jogar as moedas”, ou a “ sueca “ com os amigos no café - se for caso disso - falar sobre coisas triviais, mas que fazem parte da vida, como por exemplo o futebol, ainda por cima no café “Ti Juca “, que é do irmão do falecido Joaquim Agostinho, onde a esmagadora maioria é sportinguista e eu… um glorioso lampião, etc, etc, não falando já que, de tarde, ao crepúsculo, é bom estar sentado no telheiro, a beber uma cervejinha merecida e a ler, ou a escrever, nesta fase: saboreando os poemas de Ana Luísa Amaral ( “ Entre dois rios e outras noites “ )…. Eduardo Aleixo Brejenjas, 7/9/08

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Chuva em Setembro...

Parece Inverno! As árvores dançam forçadas sob a acção do vento. A chuva inunda o terreno da minha casa. Observo as árvores: como se moldam aos caprichos da natureza! Momentos há em que fico extasiado face à sua quietude e ao seu silêncio. Mas também sei como sofrem debaixo da violência dos ventos, das chuvas e das geadas! Adoro-as e respeito-as. Acho que são sábias, as árvores. Li num livro, cujo título e autor não fixei, a seguinte mensagem: elas são pacientes, pois esperaram por nós, humanos, durante muitos milhares de anos, para que as olhássemos, do modo como o estou fazendo agora! Sim, faz sentido: só com a evolução da humanidade, esta começa a ver as árvores e os bichos como seres vivos, como nós somos. Isto enternece-me.
Eduardo Aleixo
( Brejenjas, 7/9/08 )

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Os portugueses e as eleições americanas

« Barack Obama é o candidato preferido dos portugueses. A popularidade de Obama em Portugal é um reflexo das diferenças políticas entre Portugal e os Estados Unidos. As preferências dos portugueses são condicionadas pelo facto de estarem, em termos políticos, à esquerda dos americanos e pela forma como a informação sobre os Estados Unidos cá chega. A informação é filtrada pelos jornalistas americanos , que estão à esquerda da sociedade americana e pelos jornalistas portugueses que estão à esquerda dos seus colegas americanos. O resultado destes filtros é uma visão alienada e paroquial da política americana. A barreira informativa entre os Estados Unidos e Portugal tende a criar uma série de equívocos. Alguns intelectuais portugueses, sobretudo os que estão mais à esquerda, projectam os seus valores e os seus interesses no eleitorado americano e esperam que este se comporte de acordo com esses valores e interesses. Quando o eleitorado americano não se comporta como o esperado, os intelectuais de esquerda concluem , como concluíram quando George Bush foi eleito e reeleito, que os americanos são estúpidos. Estes intelectuais cometem um erro básico: tentam analisar as eleições americanas sem se darem ao trabalho de compreender o contexto político e cultural em que elas ocorrem. Em vez de produzirem análises objectivas e imparciais ,limitam-se a expressar os seus desejos. » ( Diário de Notícias, 7 de Set. 2008, da autoria de João Miranda )
Achando de muito interesse o texto transcrito, na óptica dos erros que todos cometemos em matéria da validade da percepção do real, por não termos os dados todos da realidade, e não podermos ter, tanto mais que não vivemos nos EUA desejo apenas sublinhar a minha posição. E que é: - Que o sonho de Luter King seja já realidade, com a eleição de Barack Obama, como futuro presidente dos Estados Unidos da América. São estes os meus desejos. Eduardo Aleixo

gaivota mansa...

Hoje de manhã
o mar era assim:
gaivota mansa
com bico azul
e papo de cetim!
( Sta Cruz, 8/9/08 )
Eduardo Aleixo

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Inventámo-nos

Inventámo-nos. Somos
eco do mesmo apelo reconhecido,
a mesma busca
dum resgate impossível.
A mesma fome nos ergueu
os braços
a um gesto de encontro,
um riso,
um pólen na viagem do vento.
E eis que o pássaro inexistente
pousa
concreto e tangível
sobre os nossos ombros.
( Egito Gonçalves - em " O fósforo na palha " )

É como se fugíssemos ...

A nossa vida é uma história com um número incontável e desconhecido de estórias, esquecidas, não lembradas, adormecidas, soterradas, abandonadas, desprezadas, muitas delas presenças, figuras silenciosas, que nos acompanham ao longo d0s anos e de que não damos conta, ou, quantas vezes, fingimos que não existem, materializadas em objectos, em livros, fotos, filmes, quadros, discos, cartas, postais, para só falar naquilo que faz parte do chamado mundo objectivo ...
Podemos assim atravessar toda a nossa existência sem prestarmos a atenção que estes bocados de vida merecem, ainda com coisas para dizer, mas que temos medo de ouvir, de afrontar!...É como se fugíssemos, cobardemente, de nós próprios!...
Eduardo Aleixo

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Poema

Quem foi o arquitecto
que fez este café
tão longe da Natureza
e tantos homens de pé?
Criado, põe esta gente na rua!
E abre um buraco no tecto
que eu quero ver a lua.
( José Gomes Ferreira - Poesia III )

Convidado da semana : José Agostinho Baptista

Vem aos meus sonhos
Vem aos meus sonhos,
faz em mim a tua casa.
Planta, em frente, a cerejeira dos
pássaros brancos,
deixa que eles pousem nos ramos e cantem
eternamente,
deixa que nas suas asas de luz eu leia o meu
nome,
antes de os relâmpagos acenderem os prados.
----------
Vem aos meus sonhos,
vê os labirintos por onde me perco,
vê os meus países do mar,
vê, em cada barco que parte do meu coração,
as viagens que não fiz,
os amores que não tive,
a luz cruel da minha solidão.
----------
Vem aos meus sonhos,
traz um fio de água para as dálias do meu
quarto vazio,
não queiras que as suas pétalas sequem muito
depressa,
caindo pelos delicados muros de cristal,
apagando a cor que dava vida aos aposentos
do solitário.
----------
Deixa que ele evoque a secreta doçura das
colmeias,
e vem,
vem aos meus sonhos,
ilumina o meu domingo de cinzas, o meu
domingo de ramos, o meu calvário,
diz que estás aqui,
nesta página que escrevo para nunca te esquecer.
----------
A noite
A noite
rodeia-nos com os seus braços longos,
com as suas ferramentas negras,
e aperta-nos,
como se fosse a grande mãe antiga,
inclinada sobre os berços à deriva.
----------
A noite
pinta os lábios de vermelho e as unhas,
abre os decotes de algodão e seda,
calça sapatos muito altos,
quando dança sobre as nossas vidas.
----------
A noite
acende as suas luzes, as suas violentas
luzes amarelas,
e então vemos as estrelas, os recifes,as
ruas sem árvores,
todas as portas fechadas.
----------
A noite
deita-se mais tarde, ao lado dos que não têm
nada,
nem amantes, nem amadas,
perseguidos por uma secreta ansiedade,
por uma dúvida:
----------
quem é esta meretriz,
de quem é este corpo de mistério com os seus
anéis que brilham?
E a noite beija-os com o veneno doce da sua
boca,
morde com os dentes brancos a carne que os
conduziu para o sono.
A noite não responde.
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Há quem a sinta mais cedo,
quem a procure quando o sol começa a cair no
horizonte,
porque quer os seus seios altos,
o seu regaço de rosas ternas onde esquecer a
dor,
as atribuladas noções do tempo,
onde ler, nos espelhos turvos da
madrugada,
o destino dos órfãos e dos malditos.
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A noite
atira os seus despojos aos litorais do mundo,
remos, crucifixos,
cadáveres azuis de barcos naufragados,
de suicidas ternos,
de paixões assassinadas por Setembro.
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A noite
canta nos íngremes becos da cidade,
e a sua voz rouca bate nas nossas fontes,
nos búzios que trazemos por dentro.
( José Agostinho Baptista - no livro " Esta voz é quase o vento " )

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Apontamentos íntimos à beira de água...

Não me importam as intenções exógenas - não levo a mal - que não se sintonizem com a minha maneira de estar no mundo. Se não se sintonizam, se não se encaixam, não são relevantes, não produzem efeito. À minha maneira de estar no mundo só a voz que vem de dentro me é essencial, sendo, no entanto, muito importantes as mãos dadas com os ventos amigos e por isso benfazejos que sopram de fora e atravessam o universo, a dimensão, o canal, onde o meu ser se movimenta.
Nada pois me perturba verdadeiramente a não ser a traição que cometa relativamente à minha interioridade. Só isso me pode amargurar.
À Beira de Água está-se bem, penso eu. As águas são claras. A sua canção pretende ser de amor, de perdão, de dádiva, de harmonia, de carinho, de serenidade, de riso pleno. E quando as tristezas e as mágoas da vida chegam - e são sempre muitas, como todos sabemos - ... lavam-se nas águas limpas ! ... Um beijo. Eduardo Aleixo

No aniversário da diva

Passam por nós os anos, ígneos pássaros
apressados, e caem muitas penas
Passam por nós os anos: são cavalos
nervosos frente aos toiros nas arenas
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Mas não envelhecemos sempre esperançados
na juventude eterna que não deixa marcas
Estamos marcados desde que nascemos,
transviados por onde não há estradas:
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somente caminhadas sem sair de becos,
miragens de desertos nos confins das ilhas
Passam por nós os anos e só fica
um sulco que se fecha na memória em ferida.
( António Barahona
Lisboa, 1939 )

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Entre dois rios e muitas noites

I do not know much about gods. But I think that the river
Is a strong brown god.
T. S. Eliot, " Four quartets"
Era de noite. A chuva sem doçura. A estrada tão diferente das estradas a sul deste outro rio. A saudade parada durante muito tempo, nas noites sem doçura, como a chuva. Era de noite e eu não sabia nada. --------------------------------------- Entre as duas paisagens, entre os dois rios mais físicos que tudo, partiram, as gaivotas, eu perdi-me. Sem pertencer jamais a uma paisagem própria. Mas o olhar que fala, fala de um ponto outro. E sabe perspectivas de tempos menos planos, tem sempre cores diversas, muitos fios, basta Odisseu para as desconjuntar. ------------------------------------------------------ Era depois mais tarde. O cheiro da cidade na viagem, antecipando o Sul, o outro rio. Chegar de noite. Os cheiros da cidade. E aportar depois na doçura das coisas. Assim me parecia ----------------------------------------------- Se me sento a jusante, as outras margens soam-me mais caras, de maior arvoredo do que aquelas que piso: e o mesmo quando troco de visão: mais bela a outra margem aquela onde não estou -------------------------------------------------

Era depois dentro de uma outra noite .

Irresolvido olhar, inteira a mágoa. Desejar uma luz

reconstruindo os rios. As duas rochas: quase igual

beleza, as duas margens: de uma sombra igual.

E assim, ao estar em espaço de entre-

-margens, entrever outro tempo,

outro lugar.

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Só quando o coração percebe, em

sobressalto, que é possível amar entre

dois rios, amar ambos os rios, esses que vão.

E ficam. Quando a chegada pode ser a mesma,

simultânea e idêntica. É quando estar na noite pode ser

saber estas verdades

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Podia terminar, dizer agora:

não usava Odisseu fotografia

para lembrar a face recordada.

Ao viver entre as noites da memória,

saber que saber tudo: igual a saber nada,

que o fim igual à génese de tudo.

De calcário ou granito enfeitar coração.

E ficar entre amar.

Ana Luísa Amaral

( Entre dois rios e outras noites )

Como estarão os teus olhos?

Sempre te conheci solitária,
olhos negros,
impressivos,
mas tristes,
sempre tristes,
cuidando das flores,
adorando a música,
falando do mar...
Nunca mais te vi...
Mas sei que se te encontrar
há-de ser num jardim qualquer,
num concerto,
ou à beira do mar.
- Como estarão os teus olhos?
Eduardo Aleixo

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Quero, isso sim...

Não me importa o tempo,
nem saber se estou só
ou se acompanhado!
Quero, isso sim,
é estar leve, leve,
no chão, pesado!...
Eduardo Aleixo

Partilha de livros e ideias : Lao Zi, fundador do Taoismo

( Século VI - 580 a. C )
( Foto Google )
Poema

O homem é macio e frágil quando nasce

Na hora da morte torna-se hirto e rijo

Plantas e árvores são débeis quando crescem

Ficam murchas e secas na hora de morrer

Assim

A dureza e a robustez são próprias da morte

Enquanto a macieza e a fragilidade

são próprias da vida

Portanto

Os fortes exércitos acabam destroçados

As árvores que crescem robustas

não resistem aos golpes do machado

O que é forte e rígido

Situa-se num plano inferior

O que é macio e frágil

Ficará num plano superior.

Bambús - foto Google
Poema
Trinta raios formam uma roda

Mas é do interior da roda

Que o uso da carruagem depende

Usa-se argila para moldar um vaso

Mas é do seu oco interior

Que o vaso se torna útil

Portas e janelas são recortadas

Para embelezarem uma sala

Mas é do espaço vazio do seu interior

Que a utilidade da sala depende

Portanto

Embora o Ser pareça importante

É o Não-Ser que se torna realmente

Valioso.

( Foto Google )

( Poemas retirados da obra acima ilustrada )