E evoco, então, as crónicas navais:
mouros, baixeis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
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E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
e em terra num tinir de louças e talheres
flamejam ao jantar alguns hotéis da moda.
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Num trem de praça arengam dois dentistas;
um trôpego arlequim braceja numas andas;
os querubins do lar flutuam nas varandas;
às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!.
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Vazam-se os arsenais e as oficinas;
reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras;
e num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
correndo com firmeza, assomam as varinas.
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Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
e algumas, à cabeça, embalam nas canastras
os filhos que depois naufragam nas tormentas.
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Descalças! Nas descargas de carvão,
desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
e apinham-se num bairro aonde miam gatas,
e o peixe podre gera os focos de infecção!
(Cesário Verde: o Livro de Cesário Verde)
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Depoimento ( poema ) de Alberto Caeiro sobre Cesário Verde: Ao entardecer, debruçado pela janela,e sabendo de soslaio que há campos em frente,
leio até me arderem os olhos
o livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
e o modo como reparava nas ruas,
e a maneira como dava pelas cousas,
é o de quem olha para árvores,
e de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
e anda a reparar nas flores que há pelos campos...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
que ele nunca disse bem que tinha,
mas andava na cidade como quem anda no campo
e triste como esmagar flores em livros
e pôr plantas em jarros...
( Alberto Caeiro : " O Guardador de Rebanhos - poema III )
8 comentários:
Os teus convidados da semana são sempre excelentes...
Um beijo
São poemas muito bonitos de excelentes poetas!
Boa escolha, amigo...
Beijos de luz e o meu carinho!!!
Um bonito post! Beijos.
Gosto muito de Cesário Verde. Bem hajas por tê-lo trazido aqui.
Beijinhos
"O sentimento dum ocidental" de Cesário é um dos mais belos poemas não só do autor como da língua portuguesa. E que bem o analisou Fernando Pessoa...
Um abraço.
Um luxo, este post, Eduardo. Um verdadeiro luxo.
Beijinhos
*
O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca. Eu sei um bom rapaz, – hoje uma ossada, –
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,
Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
,
in,cesario verde
,
o meu preferido . . .
abraço
,
*
Olá querido Amigo Eduardo, bela escolha dos teus convidados... Todos eles esxelentes poetas... Incluíndo tu Amigo!...
És o murmúrio das águas,
és o oiro incandescente,
és o perfume do goivo,
és a brisa do poente!...
Uma boa noite, Amigo do coração,
Fernandinha
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