terça-feira, 23 de setembro de 2008

Chegou o Outono...

Já sabia que tinhas chegado: as árvores já mo tinham dito, e o vento, lembrado.
Mas já o sabia antes pelo escorregar dolente do sangue nas ânsias do meu corpo, pelo roçar lasso e ronronante com que as palavras se deitavam no colo do poema, pela ânsia de imitar as árvores ficando como elas lânguidamente recolhido, mesmo face ao desejo: um torpor, uma languidez, um adormecimento, um curvar de placidez, uma preferência suave e leitosa pela criança em detrimento do ser amante, não sei explicar. ..
Vem, Outono, preciso de outras cores que tu trazes, e que me acalmam, me equilibram com o universo, dá-me o teu castanho claro, o teu amarelo torrado, o teu laranja de sol macio, dá-me a suavidade que se respira nas tardes breves, a moderação e o equilíbrio que dão a força às árvores para as tempestades do inverno, a maturação da uva que fica à espera da hora adequada para o vinho ser bebido em copos merecidos...
Preciso da tua concha, Outono! Não é hibernação, não! É um ritual anual, adequado ao ritmo d0 meu corpo humanamente grandioso, como se fosse - aliás é - divinamente consagrado...
É um regresso anual às nascentes do meu ser, ao tempo da minha maior criatividade, tempo em que mais novo sou, seja qual for a idade que tenha, tempo em que me aproximo astrologicamente do momento em que nasci, em que vou pois rever a minha estrela, encher-me da seiva do universo de onde vim: esperma de amor, baba de orvalho, carícias de átomos e de tudo o que é vivo sobre a terra.
Assim me fazes renascer, Outono, e me preparas para o inverno, para todos os Invernos, violentos, sim, mas belos, eu, já armado então, com as armas do amor pleno...
Eduardo Aleixo

9 comentários:

Carla disse...

Confesso uma certa dualidade em relação ao que sinto pelo Outono...temo-o por ser a porta de abertura do Inverno mas, por outro lado, adoro os tons terra que ele nos oferece.
Mais belo do que o teu texto não consigo dizer
beijos

Maria disse...

Também gosto do Outono. Nunca percebi porquê, para além das cores e do cheiro da terra que, ávida de água, fica prenhe para renascer na primavera.
Às tantas será porque também renasço em cada Outono...

Um beijo

Paula Raposo disse...

Fantástico o teu texto! Impregnaste-me de Outono! Beijos.

Anônimo disse...

Também gosto muito do Outono, pelas mesmas razões, só que não o sei expressar tão bem como o fazes.
Certo é que renascemos em cada Outono..
Parabéns!

Bjs.
Laide

Evasões disse...

O sussurrar dolente do amor outonal encanta os amantes.
Vem ler o soneto.
beijinhos

firmina12 disse...

o outono é sempre fiel

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Amigo Eduardo, belo
texto... Também gosto do Outono, mas prefiro a Primavera, que não tem nada a ver com a data do meu nascimento, pois nasci em Janeiro!...

A corrente da vida faz-me lembrar o Inverno, porque pode dar muitas voltas, mas está sempre fluindo. Em alguns pontos, a água é mais profunda; Por vezes, a água é escura, outras vezes, a sua claridade é como as profundezas da própria alma pura.

Se, pudermos aprender a nutir os outros em vez de apenas, apegar-nos a nós mesmos, até os aspectos mais difíceis num relacionamento, se tornarão parte da corrente eterna da vida...

Boa noite, beijinhos de carinho e amizade,
Fernandinha

Lúcia disse...

Adoro o Outono, Eduardo. E fizeste uma bonita canção com o que tem de melhor: os tons; os cheiros; os humores...
Beijinhos

Unknown disse...

A todos:

Bom Outono. Pretendi dizer apenas como sinto e é o meu Outono, de acordo com aquilo que ontologica, telurica e astrologicamente sou.
Não comparo estações do ano. Amo-as todas e aceito-as como são. Cada uma delas cantarei a meu modo quando chegarem.

Eduardo