sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Traidor azul
Confraternização em Monserraz
Os blogues " A Dita e o Balde" e o " À Beira de Água "
confraternizaram, ontem, na tranquilidade de Monserraz.
Planura em direcção a Espanha. Este Alentejo é o verdadeiro, o da planície, diferente do meu, serrano, quase algarvio.
Cal branquinha, para expulsar das casas a luz tórrida dos meses de Julho e Agosto...
As águas do Alqueva inundaram tudo e alteraram radicalmente a paisagem: colinas de antanho são hoje ilhotas...
Entramos enfim ...no silêncio das ruelas...terça-feira, 28 de outubro de 2008
Há-de florir
Apontamentos
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
De suor a cidade se alimenta...
domingo, 26 de outubro de 2008
PARABÉNS PARABÉNS PARABÉNS
No dia do meu aniversário
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Convidado da semana: MIA COUTO
Impassível, sem se queixumar, o avô Bastante se impunha a si mesmo, infalível, nessa missão de iluminar as grandes rochas da costa. Nunca por seu lapso barco algum desfaleceu de encontro à rebentação.
De pouco lhe valeu tanta diligência: Bastante António morreu quando subia a enorme escada em caracol. Seu corpo subia mais rápido que o coração. Num segundo, essa intermitente luz de dentro deixou de lhe iluminar o peito. A notícia chegou-nos anos depois quando um ocasional barco passou por nossa cidade.
A família, de pronto, se fez ao mar. Havia que resgatar Bartolominha. A avó não podia ficar assim sem amparo naquela tão distante solidão. Acompanhei os restantes nessa missão de recuperar nossa idosa parente.Muito quem chorava era minha mãe, sua dilecta filha. Durante a viagem de barco ela se inconsolava: quem sabe a avó, entretanto, já desistira de viver e não tinha tido quem a enterrasse?
Desembarcámos com o peito enrodilhado, olhando a medo os recantos do sítio. Suspirámos alto quando Bartolominha veio às rochas, envolta em sua capulana, a mesma que eu nela sempre recordava. Quando lhe falámos em sair dali, ela se contrafez. Afinal, viéramos buscá-la? Pois que fôssemos na mesma via de regresso, que ela dali não arredava. Argumentou meu pai que ela não podia viver isolada de tudo, em lugar tão despertencido de gente. Falou meu tio que ali não chegava nem desembarcava notícia. Minha mãe acrescentou muitas lágrimas, com alma entalada na garganta.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
NÃO PERCA...
Letras cor de pão
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Olha comigo nesta direcção
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Master Blog
- Graça Pires ( Ortografia do Olhar )
- C Valente
- Maria P. ( Casa de Maio )
- Poetaeusou
- Lúcia ( Rosmaninho da Serra )
Gostava de dar este presente a mais amigos, mas o regulamento, segundo me informaram, fixa o limite de apenas nove destinatários... Fica para a próxima.
Abraços amigos.
Eduardo Aleixo
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
OLá De África
Folha branca do papel
domingo, 19 de outubro de 2008
Prémio Dardos
sábado, 18 de outubro de 2008
A FESTA
Hoje nasceu uma flor
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Convidado da semana: Vinicius de Moraes
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Nasce então como num parto um novo rosto...
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
As casas da Câmara. Ou... das Câmaras?...
domingo, 12 de outubro de 2008
Germinaste em mim como um poema...
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Convidado da semana: Walt Whitman
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Foi muita a dor...
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
LISBOAGATE
Utopia
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Poema
Estória mais simples do que esta não existe!
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
YouTube - José Afonso - Os Vampiros (ao vivo no Coliseu)
Lista de inquilinos da autarquia ainda é segredo...
sábado, 4 de outubro de 2008
A SANTA CÂMARA
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Berlengas (3)
Se houvesse justiça no planeta, eu já tinha sido nomeado governador deste castelo, onde vivem três veteranos que de velhos criaram musgo - ou pelo menos faroleiro. Como sou um contemplativo, o lugar convinha-me perfeitamente. Os homens devem ser felizes diante deste espectáculo sempre igual e sempre renovado. De Inverno nenhum barco atraca às Berlengas. Só e Deus no mais belo sítio da costa portuguesa!...Atrevo-me a falar a um velho musaranho, de focinho arreliador, que está metido no farol, de costas para o mar, fingindo que me não vê, a esfregar e a polir os metais reluzentes.
- Hen?...
- Hum!...
Rosna e não diz palavra que se entenda.
- Olá!
Olha-me com desprezo e continua a polir os metais já polidos, como se eu não existisse. Mas não desanimo facilmente e teimo:
- Que beleza, han?!...
Toquei-o. O homem sacode os ombros, levanta-se, atira o pano fora, encara-me de frente, com os bigodes assanhados entre as rugas e um olho azul de faiança cheio de cólera:
- Que beleza, o quê? Que beleza?...Isto?! - E ri-se. - O vento e o mar! Sempre o vento e o mar! O vento, que no Inverno não me deixa chegar à porta, e o mar todo o dia, toda a noite a bramir! O mar desesperado, o vento desesperado...Eu não sou um faroleiro - sou um náufrago. Que beleza, hem?...Nem posso dormir! Toda a noite o vento uiva, toda a noite o mar ecoa, ameaçando submergir esta ilha do Diabo!
Julguei-me autorizado a interrompê-lo:
- Mas no Verão é esplêndido...
-Nem olho. Só me resta uma esperança - fugir. Se não me mudam, endoideço. O amigo sabe quantos endoideceram já? Três!...
E atirando os braços para o ar:
- Uma calamidade! Aqui não se sabe nada, aqui não chega nada. Nunca! Nunca! Nem a pneumónica aqui chegou. E não posso ter uma couve, não posso ter uma abóbora...Os coelhos devoram tudo. É uma praga!
-Dê-lhes tiros.
- Tiros?! - E ri-se com dois dentes de desprezo. - Quando quero um coelho, ato um anzol a um pau, meto o pau na lura e tiro o coelho para fora; quando quero um peixe, ato uni anzol a uma linha e deito a linha à água...Mas o que eu quero é fugir! Fugir! Fugir para muito longe, para onde não oiça o mar, para onde não veja o mar!
Rosnou...Percebi que repetia com escárnio: - Que beleza, han!... - E voltando-se, outra vez com o pano na mão, continuou a esfregar e a polir com desespero os metais - de costas viradas para o mar...
Olho pela derradeira vez. É para sempre que quero fixar a imagem, a última, a definitiva, a essencial, do morro vermelho a emergir do mar imóvel, cheio de pedras espumantes - a da Velha, a da Estela, a Pedra Redonda, a Pedra de Todo- o -Peixe, o Guilhão...Duas manchas bastam-me para toda a vida, uma etérea, a outra sangrenta, com um castelo queimado e requeimado como um velho cachimbo ao pé do vidro grosso da água. Duas manchas e um pormenor: o fio de areia onde ficou impresso um pé delicado de mulher...
Regresso num fim de tarde toda de oiro, num mar todo verde. São outras três horas a remo. Deito-me no fundo enxuto do barco e absorvo-me na luz que se transforma. É roxa agora. Desvanece-se mais. Estou encerrado numa grande jóia translúcida e viva - viva - que pouco e pouco muda de cor. Violeta, toda violeta, e vai desmaiando como quem morre devagarinho com a saudade...
25/08/1919
Raul Brandão
( Em " Os Pescadores " )