sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Convidado da semana: Walt Whitman

Sei que tenho o melhor do tempo e do espaço, e nunca fui medido e
nunca serei medido.
A minha viagem é eterna, ( venham todos ouvir-me ),
Os meus sinais são uma gabardina, bons sapatos e um cajado que cortei
no bosque,
Nenhum dos meus amigos se instala na minha cadeira,
Não tenho cadeira, nem igreja, nem filosofia,
Não conduzo ninguém à mesa de jantar, à biblioteca, à Bolsa,
Só te conduzo a ti, homem ou mulher, a um outeiro,
A minha mão esquerda aperta-te a cintura,
A minha mão direita assinala a paisagem dos continentes e o passeio público,
Nem eu nem ninguém pode percorrer por ti este caminho,
Deves percorrê-lo por ti mesmo.
Não fica longe, está ao teu alcance,
Talvez tenhas andado por ele desde que nasceste e não o saibas,
Talvez fiques em toda a parte, na água e na terra.
Carrega os teus farrapos, meu filho, e eu carregarei os meus, apressemo-nos,
Chegaremos a maravilhosas cidades, chegaremos às nações livres.
Se estás cansado, deixa-me levar os fardos, e põe a tua mão na minha anca,
E no devido tempo hás-de retribuir-me,
Pois já que partimos nunca poderemos descansar.
Hoje, antes do alvorecer, subi uma colina e olhei os céus e as constelações,
E perguntei ao meu espírito: Quando abraçarmos essas orbes, quando tivermos o prazer e o saber de quanto nelas há, sentir-nos-emos realizados e satisfeitos?
E o meu espírito respondeu: Não, se alcançarmos esses cumes é só de passagem, é só para continuar mais além.
Tu também interrogas e eu escuto,
Respondo que não posso responder, tens de descobrir por ti.
Senta-te um instante, meu filho.
Aqui tens bolachas para comer e leite para beber.
Mas logo que adormeças com a tua roupa fresca, dar-te-ei um beijo de
despedida e abrir-te-ei a porta para que partas.
Tempo que baste já sonhaste os teus sonhos maus,
Agora afasto as ramelas dos teus olhos,
Deves habituar-te ao esplendor da luz e de cada momento da tua vida.
Muito tempo rondaste timidamente a praia agarrado a uma tábua,
Agora quero que sejas um nadador intrépido,
Que saltes no meio do mar, que te ergas outra vez, que me faças sinal,
grites e rias enquanto a água cai dos teus cabelos.
( Walt Whitman - in " Folhas de Erva " )

8 comentários:

Lúcia disse...

Walt Whitman é um dos meus fracos - confesso. O livro Canto de Mim Mesmo faz-me companhia muitas vezes. É daqueles que abro numa página qualquer leio e se for preciso nem continuo a ler. Mas aos bocadinhos; sabe-me a vida este Homem.
Beijos

Paula Raposo disse...

Belo! Belo! Belo! Nunca tinha lido. Beijos e bom fim de semana.

Maria disse...

O google esta noite pregou-me uma partida e entrou em greve...
Este Whitman é especial... engraçado como descobrimos tantas coisas em comum com tanta gente da net...

Beijo

Carla disse...

nunca tinha lido...talvez por isso a descoberta desta escrita me tenha fascinado!
Quero mais
beijos e bom fim de semana

Maria P. disse...

Maravilha...

Beijinho*

poetaeusou . . . disse...

*
cantado
á decadas em espanha,
restrito conhecimento
em portugal . . .
,
UNA HOJA DE HIERBA
Creo que una hoja de hierba, no es menos
que el día de trabajo de las estrellas,
y que una hormiga es perfecta,
y un grano de arena,
y el huevo del régulo,
son igualmente perfectos,
y que la rana es una obra maestra,
digna de los señalados,
y que la zarzamora podría adornar,
los salones del paraíso,
y que la articulación más pequeña de mi mano,
avergüenza a las máquinas,
y que la vaca que pasta, con su cabeza gacha,
supera todas las estatuas,
y que un ratón es milagro suficiente,
como para hacer dudar,
a seis trillones de infieles.
,
in-walt whitman
,
abraço,
,
*

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Eduardo, belíssimo!...
Votos de um magnífico fim de semana,
Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

Unknown disse...

A todos, obrigado pela visita. E foi bom terem gostado!
Abraços.
Eduardo