terça-feira, 19 de agosto de 2008

De tarde

Naquele pic-nic de burguesas,
houve uma coisa simplesmente bela,
e que, sem ter histórias nem grandezas,
em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
foste colher, sem imposturas tolas,
a um granzoal azul de grão-de-bico
um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
nós acampámos, inda o sol se via;
e houve talhadas de melão, damascos,
e pão-de-ló molhado de malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
dos teus seios como duas rolas,
era o supremo encanto da merenda
o ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde, Lisboa, 1855- 1886 )

6 comentários:

Maria disse...

De cada vez que leio este "de tarde" parece que oiço a voz de João Vilarett a declamá-lo....

Obrigada.
Beijo

Paula Raposo disse...

Sempre adorei este poema!!! Beijos.

Unknown disse...

Maria:

É verdade. Fizeste-me lembrar!
Um beijo.
Eduardo

Unknown disse...

Paula

É um poema muito terno.
Beijos.
Eduardo

Lúcia disse...

Estudei este poema na escola. Lembro-me bem dessa aula fantástcia. Foi pelas mãos dessa professora que me apaixonei por poesia. Leva-me sempre aos bancos de escola, este poema.
Beijos

Unknown disse...

Eu, em circunstâncias semelhantes...apaixonei-me tb pela professora. Acredita. Se te dissesse quem é, não acredirarias.Mas é assunto que não consigo resumir.
Bj.
EA