Nos fins de semana de Agosto, olhando para o mar tristonho, com as praias poluídas de banhistas, de toalhas, de sombrinhas, de corta-ventos, de colchões, de bóias, de bolas sem espaço para rolarem, de brinquedos , de corredores estreitíssimos por onde se passa pé- ante -pé, com receio de os pés levantarem areia que o vento levante para os olhos dos banhistas, ainda por cima sem sol, a aumentar a angústia das ondas com saudades das praias do Inverno, que é quando o mar fala com os amantes verdadeiros, com os pescadores, com os barcos, com as redes, com a liberdade do vento, com a solidão livre e cheia de quem ama a canção dos búzios , o segredo dos braços abertos e silenciosos das estrelas do mar nas poças transparentes da vazante onde o céu luminoso se espelha, as estrelas do mar, quietas, sábias, meigas,cálidas, carentes das carícias dos poucos que sabem das suas casas, onde vivem ao lado dos ouriços, dos mexilhões de cascas luzidias, das algas de cabelos castanhos, macios, dizia eu que nem sol em Agosto, mas mesmo com sol em Agosto o mar chora de angústia, está preso, como eu, que não posso ficar aqui no meio desta multidão, de gritinhos, de guinchos, de anúncios, de ruídos de avionetas, mil vezes a ventania, o grasnar das gaivotas nos areais desertos, sou um místico do mar, adoro o mar, não o posso ver junto de quem não sabe o que ele é, nos momentos sérios, onde se bebem nas conchas salgadas os beijos da intimidade, nas noites de silêncio com as estrelas brincando no regaço fresco das ondas...
...É então que me lembro do poema de Manuel da Fonseca em que um
vagabundo levava sempre com ele o sol nas algibeiras!....
Palavra: se eu pudesse... punha também o mar nas algibeiras das calças e levava-o comigo durante o mês rançoso de Agosto!
Mas infelizmente não posso: o mar não se deixa assim prender ...
E foi então que me lembrei de ir apanhar amoras.
Para quando a minha filha vier de S. Tomé, ter ao menos um boião de doce para comer ao pequeno-almoço.
Como podem ver pelas imagens, falo verdade:
Eduardo Aleixo
14 comentários:
Desculpe a invasão, nem sei bem como aqui cheguei, mas ao ver estas amoras... Por aqui na ilha do Pico-Açores há muitas e vou apanhar e também faço o doce para o Inverno que é grande.Um abraço aqui dos Açores.
Salomé
Muito bem, já estou com água na boca... :)
Beijos!
Olá querido Eduardo, que belíssimo texto, quem adora o mar como nós, não gosta de ver certos comportamentos... E as tuas lindas amoras e o doce, eu fiquei com água na boca!
Beijinhos de carinho,
Fernandinha
Da qualidade do doce, a Rita dirá. Da qualidade do texto (crónica, poema, as duas coisas simultâneamente, pouco interessa)digo eu já: muito bom.
PM
Olá, Pedro: olha que o doce ainda é melhor.
Eduardo
Não tenho a mínima de paciência para a praia no Verão. No Inverno é quando consigo falar com o mar. E amoras? Adoro. Beijos.
Que bom aspecto tem o doce de amoras...
Um abraço.
Que maravilha!!:)
Beijinhos*
Ó, Salomé:
... adorei o Pico quando aí estive. Aliás, adorei os Açores. Trouxe do Pico belos licores e queijo. E não peça desculpa, que não invadiu nada! Um abraço para si e para essa terra tão linda!.
Eduardo
Rita: se demorares muito tempo...
Beijo.
Eduardo
Fernandinha:
É sempre um prazer a tua visita simpática.
Beijo.
Eduardo
Maria P:
Por acaso, foste tu, no teu blogue, quem me lembrou que tinha de ir às amoras...
Beijos.
Eduardo
Paula:
Pois, o mar, no Inverno...que amora brava!
Beijo.
Eduardo
Graça:
O aspecto da amora é bom.
O seu sabor, melhor.
E o mar, é óptimo, de aspecto e de sabor.
- Qual será o sabor do mar??
Beijo
Eduardo
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