( Foto do Google )
Ora pois: foi tal qual como vos digo:
minha Mãe, certo dia, pôs a questão assim:
- ou Ela, ou eu!
E ficou resolvido que no dia doze
minha mãe parisse,
e pariu!
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Pariu e ninguém se opôs! Ninguém!
Como se fosse um feito glorioso
parir assim alguém, tão nu, tão desgraçado!
Por mim,
ainda disse que não!
Mas o seu Anjo da Guarda
era forte e tenebroso...
E aquele frágil cordão
deixou de ser o meu Pão,
o meu Vinho
e a paz eterna do meu coração
mesquinho!...
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Deixou de ser o silêncio
delicado e agradecido
dos meus instintos menores...
Deixou de ser o Norte daquele lago
onde boiava o meu corpo
sem alegria e sem dores...
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Deixou ser aquela verdadeira
e sagrada ignorância do meu nome,
que Satanaz me disse, quando disse:
- Respira e come,
respira e come,
Animal!
( A voz de Satanás já nesse tempo
era humana e natural!... )
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Deixou de ser um mundo e foi um outro!
Foi a inocência perdida
e a minha voz acordada...
Foi a fome, a peste e aguerra!
Foi a terra
sem mais nada!
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Depois,
sem dó nem piedade a Vida começou...
Minha Mãe, a tremer, analisou-me o sexo,
e, ao ver que eu era um homem,
córou...
Miguel Torga
( O outro livro de Job )
8 comentários:
Miguel Torga... uma bela partilha!
Um abraço e boa semana ;))
Menina Marota:
Boa semana também para ti.
Abraço.
Eduardo
Olá querido Eduardo, belíssima escolha deste poema do Grande Homem, Miguel Torga... Grata pela partilha, Amigo!
Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha
Fernandinha
O Torga é um exemplo, quer como homem ( com H, como tu escreveste ), quer como poeta.
Um beijo.
EA
Fantástico! Beijos.
Que delícia!
beijos
Salvé!
Não conhecia de todo, este poema, embora quando passei pelo teatro tivesse representado "O Mar" uma peça belíssima que retracta as gentes da Nazaré e suas mágoas.
Grata por este momento.
Relembro...
Mariz
ESPAVO!
Paula
Lúcia
Mariz
Obrigado pelas vossa visita.
Beijos.
Eduardo
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