Não houve antes nem haverá depois/ Quando inicia, se sopra a sombra, é uma/ absoluta rosa que principia sempre. / À mesa de trabalho, a página é vazia./ A luz banha a brancura e um campo emerge ténue. / O sangue tumultua, respira o mar suave./ Um corpo, quem o sabe, onde começa o sangue? / Um corpo está no campo, corpo e campo se envolvem/ na paz mútua que nasce, de dentro e fora, una./ Troncos, membros, olhar circundam campo e corpo. / O campo que se alarga e que respira é corpo./ O corpo que ondula e se prolonga é campo. / O olhar alarga o campo, o campo estende o corpo./ Pernas, braços, tronco estendem-se à extensa terra. / Um corpo intenso cresce em campo vivo ao sol./ Nudez de campo e corpo. Um ar só comunica / sem dentro e fora. Uma cadência solta / percorre uma área una.O sangue está no campo. / As árvores banham-se na limpidez do corpo./ Os animais saltam lúcidos e delicados/ entre as ervas do sangue. Pastam os sonhos / entre pedras.Nudez de corpo e campo. / A língua pousa no prado. O sexo penetra a terra. / Campo e corpo uno.A mão pousa no monte./ Respiro e danço com todo o corpo e campo. / Lanço-me com todo o corpo em pleno campo/ e danço tranquilamente a absoluta rosa única / que formo pétala a pétala, rodando no seu centro./ O campo que desdobro e rodopio é um corpo / que do meu corpo nasce, que do meu campo solto. / António Ramos Rosa ( in " A construção do corpo ")
5 comentários:
Belo poema de António Ramos Rosa de quem sou fã.
Obrigada pela visita ao meu "Ortografia".
Um abraço
Também gosto muito deste poeta, tão esquecido, embora.
Também gostei muito de visitar o seu blogue e de ler a sua poesia.
Abraço.
Eduardo
Excelente convidado. Gosto da sua poesia.
Beijinhos*
Um dos poetas de que mais gosto. Obrigado.
Beijos
Gosto de António Ramos Rosa! Como nos grandes Poetas, as palavras parecem fáceis...beijos.
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