quinta-feira, 29 de maio de 2008
Viagem de espelhos
quarta-feira, 28 de maio de 2008
O rosto do vento
O deserto e o silêncio
Douro internacional
São 2 horas nas águas do Douro a partir de Miranda do Douro. Ao longo do percurso se percebe melhor a exigência por parte dos organizadores, mal nos sentamos no barco, de haver silêncio: uma questão de respeito pela Natureza, onde as cegonhas negras, as águias reais, os abutres do Egipto, os falcões peregrinos, os bufos reais - algumas destas espécies em vias de extinção - e toda a variedade de pássaros estão habituados ao silêncio. Escarpas de granito. Com árvores velhíssimas, como azinheiras, milagrosamente despontando através das gretas nas arribas de pedras cinzentas. Cheiro agradável a flores silvestres. Nem sempre é possível ver as cegonhas negras. Nós vimos. Tivemos sorte. Quase impossível é topar com as lontras, que raramente se vislumbram. Tomo consciência de como a civilização que construimos está tão longe e tão divorciada deste cenário sumptuoso de silêncio e de serenidade, destes aromas fortes que brotam das margens selvagens, deste ar tão puro que sentimos fluir leve por dentro do nosso corpo. Parece inacreditável como tão poucas vezes temos a oportunidade de voltar a estes lugares que ainda existem. É incrível como permitimos e nos habituámos a viver separados e esquecidos destes paraísos na terra...
A que urge, no entanto, sem deixarmos de ser civilizados, voltar...
Eduardo Aleixoterça-feira, 27 de maio de 2008
José Gomes Ferreira
Perguntaram-me se a crítica alguma vez me orientou.
Respondi:
-Até hoje creio que cumpri apenas o dever de todos os artistas verdadeiros: desorientei-a...
( José Gomes Ferreira, em " Imitação dos Dias ")
Nota: gosto muito da terna ironia deste escritor.
Na página inicial do livro, de que retirei este texto, releio o que escrevi, à laia de recordação, com a data de Junho de 1968:
" Feira do Livro. José Gomes Ferreira ouvindo, ar docemente irónico, humildemente alheio ao que um senhor gaguejante dizia sobre ele. Tive vontade de perguntar-lhe se não estava cheteado daquilo..."
Era assim, com aquele ar aparentemente ausente, que ele via o mundo, penetrantemente, das estrelas ao pó dos caminhos, ...
Não achas, Zé Gomes?
Eduardo Aleixo
Lembrando Mário Viegas
Contigo a poesia passou a ser " dita". Antes de ti, era " declamada ", por João Vilaret, e ao seu estilo.
A tua intenção foi aproximar a poesia das pessoas, libertando-a da pose e da liturgia. Foi dizer que a poesia era coisa simples, como a vida, feita e dita simplesmente , com palavras simples, as mesmas que as pessoas usavam no seu dia-a-dia.
O teu propósito foi afastar a poesia do espírito dos salões, onde vivia afastada, num cenário de " belle- époque", de plateia passiva e às vezes palaciana, pretensamente elitista, onde se pagava para ver e ouvir uma coisa que estava " no outro lado", e que era do mundo "estranho" dos poetas...
Lembro-te, amigo, não só como divulgador de poesia, mas também como actor de enorme talento. A tua mímica era portentosa. Os teus olhos eram dois faróis enormes. As tuas mãos e o teu corpo falavam com uma expressividade clara e poderosa. A tua voz era aquilo que querias que ela fosse, mas sempre limpa, forte e bem colocada: umas vezes irónica, outras vezes doce, outras vezes de escárnio, outras, patética. Eras autêntico, no palco da vida.Isto é, no palco da vida agias naturalmente como actor. Respiravas nele como se fosses o próprio ar que respiravas.
Dou comigo a lembrar-me de ti ...naquele mês de Março de 1974...
Estávamos no Quartel . De prevenção rigorosa. Tinha " soado " que um " golpe " estava em preparação! Mas que era proveniente das Caldas da Rainha!. O capitão do quartel nada sabia. Ou nada nos queria dizer. Estávamos preocupados. Tu. O Vítor Ramalho. O Eduardo Graça. O Valter Guerreiro. Perguntávamos: que vamos dizer aos soldados se tivermos de sair e juntarmo-nos aos militares que vêm das Caldas sem sabermos se são do MFA ou das forças contra-revolucionárias?. Tínhamos de tonar uma decisão. Não estávamos dispostos a alinhar com forças que não fossem as do Movimento das Forças Armadas. Foram momentos difíceis. Acabámos por saber que o golpe tinha fracassado, através das notícias da BBC...
Naquela noite, já cansados de tantos dias de isolamento, em prevenção rigorosa, o teu talento, a tua criatividade, foram um escape e um bálsamo.
Saltaste para cima da mesa redonda do bar. De boina pendente sobre a testa, puseste-te a dançar languidamente, girando o corpo, os braços abertos, a língua de fora, os olhos esbugalhados... Eras um boneco desarticulado. ..
Até que o capitão, o comandante, ... surgiu, imponente, a cabeça grande, o pescoço grosso como um tronco de carvalho, os olhos inexpressivos, redondos, em frente de nós todos, que aplaudíamos a tua belíssima representação. Olhou, perplexo, para ti e para nós. Para nós e para ti. Estava pálido. A boca seca. Que iria ele dizer? Ou fazer?
Mas tu não lhe deste tempo para ripostar. Puseste-te, num salto rápido, de pé, sobre a mesa , na posição de sentido e anunciaste, voz solene, grave e contida:
- Aí vem ela, a Revolução, meu capitão...
Noite louca!...
Quando ele, o capitão, não se lembrou de qualquer resposta, que estivesse prevista para uma situação destas, no RDM - Regulamento e Disciplina Militar - saiu bruscamente do bar, como se tivesse visto um fantasma, sentimos que mais do que espectadores, estávamos a ser figurantes de uma peça de teatro verdadeira, daquelas que marcam a História de um país, de um povo e de uma geração, a nossa ...
Mário Viegas, como foi possível teres chegado a oficial do exército e nunca teres aprendido as coisas elementares para conduzires um pelotão de soldados, tu, que eras responsável por 40 homens?
Como era possível?!
Claro que foi possível.
Com a nossa ajuda - diga-se em abono da verdade - , mas também com o teu talento, que teve a sorte de encontrar o " teatro de operações " - usando a linguagem militar - num estado de profunda e favorável decadência...
Eduardo Aleixo
segunda-feira, 26 de maio de 2008
SEM ABRIGO
sábado, 24 de maio de 2008
Eugénio de Andrade
sexta-feira, 23 de maio de 2008
A respiração das pedras
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Constrói a paz
O socialismo moderno
terça-feira, 20 de maio de 2008
Sê bem vinda ao teu blogue
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Novas de São Tomé
Em memória de Charlot
POEMA
Quando sorria
Não sorria
Feria...
Quando dançava
O seu corpo
Estrebuchava...
Quando falava
Sonhava
Não parava de sonhar...
O sorriso de Charlot
Era uma faca
Era uma farsa
Era sem definição
Talvez rosa de piedade
Como uma criança
Sem ódio
A dizer Não...
Quando dançava
O corpo dele
Crescia
Crescia
Renascia
Não cabia
No smoking da convenção
E fugia
Fugia
Para o país da ganga simples
Onde tinha o coração...
Eduardo Aleixo
domingo, 18 de maio de 2008
Le cirque du soleil
Como posso ficar calado depois de ver este espectáculo maravilhoso, com o nome de Quidam?
Quidam, pode ler-se num folheto distribuído pelo Cirque du Soleil, « ...é a história do " eu" dentro de todos nós, que grita, canta e sonha». Direi algumas palavras apenas: Infância e Amor. Cenários com figuras, gestos e movimentos de sonho. Magia. O mundo do trapésio, das alturas, dos acrobatas, a beleza dos corpos, da música, do som, das imagens, do "suspense", do risco, da vitória da criatividade e da fantasia sobre a rotina, o desumano anonimato, a uniformidade cinzenta, as convenções inúteis e a morte. Balões. Fitas coloridas, ondulantes, de pano. Bicicletas. Argolas dançando em volta dos corpos esguios. Os jogos dos " saltos à corda " que joguei na infância com as raparigas da escola e da minha rua. As bolas deslisando magicamente dos ombros, rolando ao longo dos braços até às mãos e depois voando para o chapéu aberto pousado ao contrário sobre a cabeça do artista . Os palhaços...
- A feira não presta se não vier o circo - era assim que dizíamos, tristes e preocupados, quando éramos crianças, nas vêsperas da feira de Agosto, quando já tinha vindo o carroucel, mas o circo, não...
Mas no dia seguinte, assim que deparávamos com o circo a ser "armado" no largo térreo da feira, voltava a alegria: chegaram os palhaços...
Fiz uma viagem até à infância ao ver este fascinante espectáculo levado a cabo por um circo moderno, de excelência. Com artistas de um talento enorme. Com trapesistas que me fizeram silenciar o coração. Com palhaços que fizeram brotar do meu peito risadas sem fim. Mas, no fundo, sempre o mesmo circo. Onde o sol brilhou. Intenso. Em Lisboa. No Grand Chapiteau. No passeio marítimo de Algés. Inesquecível.
Eduardo Aleixo
sábado, 17 de maio de 2008
Manuel Bandeira
IRENE NO CÉU
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E S. Pedro, bonachão: - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. MADRIGAL TÃO ENGRAÇADINHO Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida Inclusivé o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.
Manuel Bandeira
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Mistério
Postal ilustrado para S. Tomé e Príncipe
quinta-feira, 15 de maio de 2008
terça-feira, 13 de maio de 2008
Eternamente sábios
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Ser livre
domingo, 11 de maio de 2008
Luminosas pombas
sábado, 10 de maio de 2008
AMIZADE
sexta-feira, 9 de maio de 2008
NOTAS
Alguns poemas e textos que vão ler já foram "postados"antes, em outro blogue. Só que nesse outro blogue - a minha primeira experiência na blogosfera - eu era um mero colaborador. Neste, não. Assim, considero que ao "postar" os meus trabalhos no actual blogue, eles passam a pertencer a uma casa que é a deles.
Complementando o que escrevi no primeiro texto do " À beira de Àgua ", desejo que saibam que a minha pretensão é apenas continuar a ser aquele que sempre fui - o que escreveu e disse e falou, ao longo de muitos anos, aos poucos amigos, mas bons, que sempre tive, e tenho, os meus sentimentos e sonhos - apenas com a diferença de que o suporte agora é digital, existe a experiência da vida e escrevo para a blogosfera.
Tenho uma consolação - que sempre foi uma garantia, aliás -: a de que haverá sempre no mundo, tão vasto , um coração que vibre com a mesma intensidade do que o meu.
Quanto a0 pensamento e às opiniões : as vossas serão sempre bem vindas. Estejam à vontade para me comentar, embora não goste da palavra. Digam, no entanto, o que quiserem. Com o respeito,claro,que todos nos devemos uns aos outros. Podem crer que sou um peixe que vive perfeitamente em contacto com a infinita diversidade dos peixes. Sempre assim fui. Adoro a diversidade.
Respiro, no entanto, mais com a diversidade dos peixes, do que com a doença das águas. Não tolero a poluição.
Bater-me-ei pela limpeza das águas.
Gosto das águas transparentes.
Gosto dos que escrevem simplesmente.
Dos que me olham nos olhos quando falam conigo.
Dos que sabem e gostam de perdoar.
Prefiro as pessoas bondosas às pessoas inteligentes.
Não gosto dos que mentem e traem.
Se não gostasse da transparência... como me sentiria feliz, À Beira De Água?
Eduardo Aleixo







