quinta-feira, 29 de maio de 2008

Viagem de espelhos

Somos espelhos uns dos outros quando vemos - desde que estejamos com atenção - as imagens que reflectimos , a luz que irradiamos e também a que recebemos, o modo como nos vamos reciprocamente "tocando" e influenciando, no processo dinâmico dos nossos relacionamentos.
Por isso se costuma dizer que o nosso crescimento, a nossa evolução, depende da nossa dádiva, do nosso encontro aberto, sem preconceitos, sem medos, com os outros, neste caminho que fazemos no mundo, em conjunto, conscientes da nossa limitada, mas sublime humanidade, e também das nossas espantosas e ilimitadas riquezas: é isto o ser humano, é assim que o vejo, um maravilhoso milagre sobre a terra.
Sendo esta viagem que fazemos um destino comum, cada pessoa tem, no entanto, o seu percurso próprio, a sua solidão inevitável, cabendo a cada um encontrar o seu rosto verdadeiro, a sua verdadeira identidade, aquela que se esconde para além da pessoa, "persona", "máscara" , para que possa realmente crescer e encontrar-se। E quando crescemos é que estamos em condições de naturalmente aceitarmos o diferente que o outro é. E de nos mostrarmos verdadeiramente como somos. Só nesta fase é que já não nos importamos com o que os outros possam pensar de nós. Só quando amadurecemos é que podemos dar o devido valor à vida.
Podemos considerar que este crescimento é fruto de um complexo processo alquímico que é a nossa vida. Nesta viagem de espelhos , que é feito de tempo, de caminhos, de becos, de partidas, de ausências, de regressos, de reconciliações, de tudo um pouco que a vida nos trouxe de surpresas, de alegrias e tristezas, ficaram imagens que são um espelho da realidade do passado que morreu e que nada significam face ao presente ,a não ser que são imagens de um tempo que já morreu. É que nós passámos. Nós é que passamos. O tempo...esse, eterno, não passa, porque não existe. E nós, passando, só uma coisa temos de permanente, uma única coisa que a alquimia das transformações não tocou, não pode tocar, e que se chama o nosso rosto. Que esteve sempre connosco. Que esperou sempre pelo nosso regresso. Sabe Deus com que tristeza! Com que tristeza ficou a "nossa criança" , que abandonámos por questões de educação, "domesticação, vestimenta de máscaras" ...À espera.
Com uma voz imperecível, ficou. Essa voz não muda. Nela podemos reconhecer sempre a alma de alguém. Aquele que é. Que já era. Agora mais forte. Isto é: mais compassivo. Mais amigo. Mais sábio. E, no entanto... só agora começa o verdadeiro crescimento. Mais cedo para uns. Mais tarde para outros. ..
É o que penso.
Eduardo Aleixo

7 comentários:

C Valente disse...

Um bom modo de pensar, gostei
Saudações amigas

Paula Raposo disse...

Gostei de te ler e saber o que pensas. Beijos.

C Valente disse...

Bom fim de semana
Saudações amigas

Anônimo disse...

Gostei muito... mas acho que nunca abandonámos definitivamente aquela criança que continua a existir dentro de nós. Eu se o fizesse já não existiria...
Bjs.
Laide

Unknown disse...

A nossa criança ---é tudo.
Ela veio ao mundo para crescer. E nós com ela.
Um dia destes publico um poema sobre a criança que está sempre à nossa espera.

Eduardo Aleixo

Anônimo disse...

Mutilaram a minha criança...não tem pés nem mãos. Tem olhos, mas não tem lágrimas. Já não chora, pois acha que não vale a pena. Tem um coração só porque pulsa...apenas vive, mutilada...não chorem por ela. Não serve de nada...

Unknown disse...

Caro amigo. Fiquei triste com as suas palavras. Já lhe enviei uma resposta. Mas vou repetir a ideia que tenho. A sua criança falou, triste. Acho que ela foi magoada. Mas existe, está bem viva, dentro de si.Penso que nunca é tarde para voltar a dar-lhe a alegria que ela merece. Que você merece. Que todos merecemos.Um abraço de grande amizade.
Do Eduardo Aleixo