Agradeço a Deus ter amigos verdadeiros. Há dias felizes. Como aquele que passámos - minha mulher e eu - juntos de um casal amigo, de Macau. Uma vez por ano temos a alegria de estarmos juntos. Como acontece desde há alguns anos, eles vão em serviço a África e depois passam por aqui. É um regalo ouvi-los falar sobre aquele continente, que só conheço por ouvir falar, e que por ouvir falar tanto aprendi a amar.
Assim, conheço África pela boca dos que lá estiveram. Conheço nuitos. Encontrei-os em Macau para onde foram, após o regresso a Portugal , onde não se adaptaram. Todos eles falam de África com amor. Melhor, com paixão. Com uma paixão que mais de 30 anos não desalojaram dos seus corações.
Têm saudades dos grandes horizontes, da atmosfera cálida, das águas quentes do mar, da quantidade infinita de peixes que com toda a facilidade do mundo se deixavam apanhar, quase que sem isco, da cor violenta e forte do pôr do sol sobre a terra castanha escura, têm saudades dos cheiros, da vida livre que levavam, das festas que tinham, das vestes leves que usavam...
Nas noites quentes e húmidas, nas esplanadas sentados, à beira do rio das Pérolas, em Macau, ou na ilha de Coloane, eu gostava de os ouvir e, como alentejano que sou, conhecedor dos poentes vermelhos que há na planície e também da aridez da paisagem e das noites em que o céu é um manto claríssimo de estrelas, senti que isso era suficiente para entendê-los, mas não, não era o bastante! ...
Porque, como em tudo na vida, é indispensável ter vivido as situações. Seria preciso ter cheirado aqueles cheiros. Ter olhado para aqueles poentes. Ter andado por aquelas "picadas" .Ter sentido o que eles tinham sentido...
Conheci muitos portugueses na Ásia... com a África nos olhos e no coração...
Conheci por essas terras... o que significa a Diáspora, coisa difícil de descrever.
Só longe, afinal, é que se pode dar o valor ao que se deixou. Só longe é que se pode ter consciência do que ficou longe e está verdadeiramente perto, seja a amada, a Pátria, a família, o amigo, ou o que quiserem.
Do mesmo modo, só quando regressamos é que olhamos, pela primeira vez, para a beleza de Lisboa, para a sua luz, para as suas casas, para as suas ruas, para os seus telhados, para as suas mulheres...
Eduardo Aleixo
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