São 2 horas nas águas do Douro a partir de Miranda do Douro. Ao longo do percurso se percebe melhor a exigência por parte dos organizadores, mal nos sentamos no barco, de haver silêncio: uma questão de respeito pela Natureza, onde as cegonhas negras, as águias reais, os abutres do Egipto, os falcões peregrinos, os bufos reais - algumas destas espécies em vias de extinção - e toda a variedade de pássaros estão habituados ao silêncio. Escarpas de granito. Com árvores velhíssimas, como azinheiras, milagrosamente despontando através das gretas nas arribas de pedras cinzentas. Cheiro agradável a flores silvestres. Nem sempre é possível ver as cegonhas negras. Nós vimos. Tivemos sorte. Quase impossível é topar com as lontras, que raramente se vislumbram. Tomo consciência de como a civilização que construimos está tão longe e tão divorciada deste cenário sumptuoso de silêncio e de serenidade, destes aromas fortes que brotam das margens selvagens, deste ar tão puro que sentimos fluir leve por dentro do nosso corpo. Parece inacreditável como tão poucas vezes temos a oportunidade de voltar a estes lugares que ainda existem. É incrível como permitimos e nos habituámos a viver separados e esquecidos destes paraísos na terra...
A que urge, no entanto, sem deixarmos de ser civilizados, voltar...
Eduardo Aleixo
Nenhum comentário:
Postar um comentário