Já em fins de 2006, Nuno Rogeiro dava a seguinte explicação para o elevado nível de popularidade do governo Sócrates a despeito da crispação social que as sua políticas de confrontação tinham criado: « Por que é que o governo, assolado pela contestação social, se mantém alto nas sondagens?! Estão estas manipuladas, ou o que se encontra no poder é, para além do PS, parte do PSD e do CDS/PP..., desejosos das mesmas medidas e reformas, ou mais?». ( in Revista Sábado ).
Creio que a sua análise estava e continua a estar correcta.
A mesma ideia subjacente, a da ocupação do espaço da Direita pelo PS, pode encontrar-se no editorial de José António Saraiva, em " O Sol ", de 1 de Dezembro daquele ano, com o título: " A Esquerda ainda existe? ".
Outro artigo, muito interessante, da autoria de Henrique Monteiro, publicado num " Expresso" do mesmo mês, avança, à laia de tese, com a ideia de que a crise não é da Direita, mas sim da Esquerda, e isto pela razão simples de que a Esquerda está a governar com ideias e práticas de Direita, perguntando-se com que ideias ficará a Esquerda um dia mais tarde, quando estiver na Oposição!...
Passado mais de um ano continuo a achar estas abordagens não só interessantes, mas também como um rastreio de toda a situação artificial, em termos ideológicos, a que se chegou 30 anos depois do 25 dse Abril.
A verdade é que... para o PS... as ideias não contam há já muito tempo...
O processo de desonestidade intelectual - chamemos-lhe assim - começou há muito. Começou com o encerramento do " socialismo na gaveta " e a exibição do " socialismo democrático", uma maneira eufemística de se diferenciar da social-democracia do PSD. Claro que a desonestidade não foi o " camarada" Mário ter posto o socialismo na gaveta. Não. Foi não ter dito a verdade: isto vai para a gaveta, porque é coisa que já não há. Ao que devia ter acrescentado: e esta expressão de socialismo democrático, vocês entendem, é uma maneira de " soarmos" diferentes do PSD... ( Claro que isto só poderia acontecer se houvese verdade na Política!...)...
Agora, e para encurtar a prosa e as razões, estamos perante a última desonestidade: não se trata de crise da esquerda, não senhor. Não se trata de governar à direita, não senhor. Não se trata de uma política liberal, podia lá ser!...: então andámos todos estes anos a estigmatizar os liberais de "reaças" e fascistas, e agora... Não, do que se trata, " camaradas", é de uma nova teoria, difícil de explicar, complexa,ainda não sistematizada, difícil de sistematizar, cuja sistematização ao nível da ciência política vai levar algum tempo, talvez algumas décadas...Não, não é a Terceira Via do Blair e do Clinton!..., claro que não podia ser, porque ele, Blair, como sabem, concordou com a invasão do Iraque...Talvez seja uma quarta via, enfim, é uma abordagem nova, " camaradas", que se pode chamar de ...Socialismo Moderno...
Eduardo Aleixo
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